PMs presos por sequestros não estavam na cena do crime, diz advogado

Militares e outro homem foram presos durante a Operação "Só Rasteira", da Polícia Civil

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  • Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2022 às 19:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

O advogado que representa os dois policiais militares presos durante a Operação "Só Rasteira", realizada na terça-feira (3), diz que os clientes têm álibis para as acusações. Segundo o criminalista Reinaldo Santana, eles não estavam no local do crime citado pela investigação - a tentativa de sequestro de um comerciante no bairro do Stiep, em fevereiro. Eles são apontados pela Polícia Civil de participar de um grupo que cometia crimes de extorsão mediante sequestro.

"Já tomamos todas as medidas necessárias para comprovar que meus clientes não estavam sequer próximos à cena do crime. O ato de investigação não pode ser baseado em prisões arbitrárias. Confiamos que a autoridade policial e o Tribunal de Justiça da Bahia serão céleres para corrigir este fato", disse em nota enviada ao CORREIO.

Os dois policiais militares e outro homem foram presos na ação, que também cumpriu outros mandados contra integrantes de um grupo criminoso, responsável por sequestros em Salvador e Região Metropolitana (RMS). Em nota, a Polícia Militar informou, nesta quarta-feira (4), que os policiais permanecem custodiados na Coordenadoria de Custódia Provisória (CCP), em Lauro de Freitas.

As investigações começaram no dia 22 de  fevereiro deste ano, quando os dois PMs chegaram a ser pegos por outros policiais militares durante uma tentativa de sequestro de um comerciante no bairro do Stiep. "Naquele momento eles não foram presos porque não havia flagrante configurado, mas o inquérito foi aberto, estamos terminando o inquérito, estamos solicitando as prisões preventivas em relação à primeira situação e agora eles foram presos por força de um mandado por uma nova ação criminosa", declarou o delegado Adailton Adam, do núcleo de Repressão e Extorsão Mediante Sequestro do Draco.

Os dois PMs são soldados que trabalham na Rondesp Atlântico, mas que estavam em unidades administrativas desde o episódio no Stiep. "Até então, esses policiais não tinham histórico de crimes, o que nos causou estranheza, mas de posse desses elementos robustos, a Corregedoria da Polícia Militar vai instaurar um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) que pode resultar na demissão dos policiais envolvidos", declarou o capitão Everton Santana, da Corregedoria da PM. 

Os dois têm, em média, sete anos na corporação. "São policiais novos e a Polícia Militar não tolera esse tipo de conduta e a apuração será no rigor da lei. A acusação é de extorsão mediante sequestro, roubo qualificado e associação criminosa. Então a gente não admite esse tipo de policiais militares, que têm condutas que prejudiquem a imagem da corporação", declarou o capitão. 

Os nomes dos três presos foram mantidos em sigilo. "O homem que também foi capturado com os PMs, era acostumado se passar por policial e ir junto na invasão das casas e espancamento das vítimas", acrescenta o delegado.

A operação Os mandados de prisão foram cumpridos nos bairros de São Caetano e no Bonfim e no município de Camaçari. Durante a prisão realizada no bairro de São Caetano, foram apreendidos uma pistola calibre 380, com munições e três carregadores, uma espingarda de ar comprimido, uniformes militares, um brasão falso do Poder Judiciário, uma touca tipo balaclava, maquinetas, aparelho celulares, além de documentos com indicativo de fraude. 

A operação foi realizada por equipes do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) e Coordenação de Operações Especiais (COE), com apoio de policiais da Corregedoria da Polícia Militar.

O diretor do Draco, delegado José Bezerra Júnior, explicou a atuação do grupo de sequestradores. “Eles são responsáveis por crimes de extorsões, que tinha como alvos, suspeitos de crimes e comerciantes. O grupo também é investigado por homicídios”, detalhou. 

Sete mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Os materiais apreendidos vão complementar as investigações. “A importância da operação também é a coleta de provas acerca dos crimes atribuídos ao grupo”, informou o delegado Odair Carneiro, a frente das ações da Operação "Só Rasteira".

Resgate custava R$ 50 mil O grupo criminoso sequestrava em média três vítimas por semana.  A organização chegava a cobrar R$ 50 mil pelo resgate de comerciantes e suspeitos de crimes.

Para a polícia, não há dúvida do envolvimento dos três presos desta terça nas ações criminosas. "Eles foram reconhecidos pela vítimas como sendo aqueles que invadiam os imóveis para pegá-las e também recebiam dinheiro. Eram ações contínuas. Faziam em média três sequestros por semana", declarou o delegado Odair Carneiro, do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), uma das unidades envolvidas na operação. Pelo menos 10 vítimas foram localizadas e ouvidas na investigação. 

Com os criminosos, a polícia encontrou máquinas de cartão usadas para o pagamento do resgate. "Eles começavam pedindo R$ 50 mil , mas no final das negociações recebiam R$ 10 mil, R$ 5 mil, a depender das vítimas. Em alguns casos, obrigavam os parentes a venderem os veículos, como motos, para pagar o resgate. Há situações em que os criminosos obrigavam a venda de imóveis com valores bem abaixo do mercado para que os parentes das vítimas pudessem completar o dinheiro do resgate", relatou Odair Carneiro. 

Líder morto Uma das lideranças da organização que, segundo a polícia contava com PMs para cometer crimes de extorsão mediante sequestro, morreu em confronto com policiais civis e militares em fevereiro do ano passado, no bairro da Sete Portas, em Salvador. Alessandro Souza Suzart foi localizado durante ação da Coordenação de Repressão a Crimes Contra Instituições Financeiras, do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), em conjunto com equipes das Rondas Especiais (Rondesp) Atlântico da Polícia Militar.

"Ele era um dos líderes, mas resistiu à prisão. Esse grupo é antigo. Tem raiz há cinco anos", declarou o delegado Odair Carneiro, do Draco, uma das unidades envolvidas na operação. Dois soldados lotados na Rondesp Atlântico foram presos junto com um terceiro criminoso. Eles tiveram as prisões decretadas.

De acordo com a polícia, todos os integrantes já foram identificados. "É uma organização numerosa, mas já mapeamos todos eles e é uma questão de tempo [prender todos]. Pode ser o número que for, vamos cortar na carne", declarou Odiar Carneiro.

Suzart era acusado por vários sequestros, roubos a bancos e estupros. Em fevereiro do ano passado, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que as equipes começaram as buscas pela Avenida Paralela, seguindo até a Avenida Antero de Brito, já na região da Sete Portas. Ao ser encontrado, Suzart reagiu, houve confronto e ele acabou morto. 

Com Suzart foram apreendidos uma pistola calibre 380 e porções de cocaína. Ele respondia a vários inquéritos na Coordenação de Repressão a Extorsão Mediante Sequestro, do Draco, e teve um mandado de prisão cumprido no dia 11 de novembro de 2021, em Simões Filho. Depois, ele foi colocado em liberdade após decisão da Justiça. 

A SSP disse que Suzart sequestrava e extorquia traficantes de drogas e estuprava as esposas das vítimas. Ele também era investigado por receptação qualificada, grilagem e foi reconhecido por uma das vítimas de estupro.