Pode ou não pode usar ibuprofeno para tratar coronavírus? Entenda

Órgãos e pesquisadores tem divergido sobre o tema

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  • Da Redação

Publicado em 18 de março de 2020 às 16:03

- Atualizado há um ano

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Após o ministro da saúde da França e a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendarem o não uso do ibuprofeno no tratamento da Covid-19, a vez da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) se posicionou de uma maneira diferente. De acordo com o órgão, quem possui alguma doença crônica e faz uso da medicação há um bom tempo não deve interromper o tratamento sem antes ter um aconselhamento médico.

O ibuprofeno é um anti-inflamatório amplamente utilizado para febre e dor, mesmo sendo acusado de causar riscos de complicações infecciosas graves. Também é suspeito de agravar a infecção em pacientes com coronavírus.

Mas, de acordo com o parecer publicado nesta quarta-feira, a EMA não concorda inteiramente com esta linha.

"Ao iniciar um tratamento contra a febre e a dor no quadro de Covid-19, pacientes e cuidadores devem considerar todas as opções, incluindo paracetamol e AINEs" (anti-inflamatórios não esteróides, incluindo o ibuprofeno), estimou a agência.

"Atualmente não há evidências científicas ligando o ibuprofeno ao agravamento do Covid-19", acrescentou, dizendo que estudaria de perto qualquer nova informação.

Em todos os casos, a agência insiste no caso de pacientes em tratamento prolongado com ibuprofeno.

"Atualmente, não há razão para os pacientes que tomam ibuprofeno interromperem o tratamento (...). Isso é especialmente importante para pacientes que tomam ibuprofeno ou outros AINEs para doenças crônicas", diz o comunicado.

OMS e França mantém recomendação Apesar do posicionamento da EMA, a OMS e o ministério da Saúde da França continuam recomendando o uso do paracetamol e não do ibuprofeno no tratamento dos sintomas da Covid-19.

O primeiro alerta feito pelo ministro da Saúde da França, no último sábado (14), contra o uso de ibuprofeno no tratamento da covid-19. Ele levou a questionamentos sobre se a substância, presente em vários tipos de anti-inflamatórios, poderia agravar o quadro da doença.

Segundo o portal G1, o pedido do ministro francês - de que as pessoas com covid-19 evitassem o ibuprofeno e tomassem, em vez disso, paracetamol - veio depois de uma pesquisa publicada na revista científica ‘The Lancet’ no dia 11. 

O estudo sugere que pacientes com diabetes e hipertensão que eram tratados com ibuprofeno tinham mais riscos de desenvolver quadros severos de covid-19.

Ao G1, especialistas afirmaram que os resultados da pesquisa são preliminares, mas, por precaução, não recomendam o uso do ibuprofeno para pessoas infectadas com a doença que se alastra pelo mundo.

"Não é uma evidência forte, mas quer dizer que tem que tomar cuidado", afirmou o infectologista Celso Granato, professor da Unifesp e diretor clínico do grupo Fleury, em São Paulo.

"A orientação que nós temos é: procure não usar ibuprofeno. Existem vários outros anti-inflamatórios, antitérmicos - por exemplo, paracetamol - que têm o mesmo efeito e não têm evidência de que têm esse problema", destacou Granato.

Antes da declaração da OMS, o Ministério da Saúde brasileiro havia afirmado que não havia comprovação que justifique a substituição do ibuprofeno. "Não é que o medicamento vai aumentar a chance de ter coronavírus. Nossa secretaria de ciência e tecnologia fez revisão bibliográfica e, neste momento, não há nenhum motivo, nem comprovação cientifica para que haja substituição do ibuprofeno", afirmou.

Corticoides  Granato também contra-indica o uso de corticoides, os quais podem ter efeitos semelhantes aos do ibuprofeno.

O infectologista José David Urbaéz, da Sociedade Brasileira de Infectologia no Distrito Federal, concorda que, neste momento, o melhor é evitar o ibuprofeno. Para ele, o fato de, no Brasil, não ser habitual tratar doenças virais com anti-inflamatórios é um fator que favorece o país.

"Temos cultura de paracetamol e dipirona. É um fator que nos deixa tranquilos", afirma. 

A opinião é compartilhada por Granato. "Como esse dado surgiu na Europa, e a Europa tem um uso de ibuprofeno muito grande, foi muito evidente lá. Outros lugares usam menos. Aqui no Brasil, não é muito usado", conclui o especialista. 

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