'Podem ser sugados pela lama', diz major baiano sobre trabalho em Brumadinho

Já foram encontrados 142 corpos; 194 pessoas continuam desaparecidas

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 14:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Bombeiros baianos estão em Brumadinho (Foto: Corpo de Bombeiros PMBA/Divulgação) Imagine você passar num local e afundar até o pescoço numa espécie de areia movediça? Não entrar em pânico e tomar uma decisão rápida podem definir entre a vida e a morte. Este é o risco diário que correm os 31 bombeiros baianos, especialistas em busca e resgate em estruturas colapsadas, em Brumadinho (MG). Eles fazem parte das equipes de ajudam no resgate das vítimas na região atingida pelo rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, ocorrido no dia 25 de janeiro.“Aqui, você dá três, quatro passos e afunda. A lama pode chegar no tornozelo, na cintura ou até o peito, por oscilação do relevo. Há o risco de engolfamento, ou seja, podemos ser sugados pela lama e não sair mais", alerta o major Ramon Diego, comandante da tropa do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM-BA)."Se não tiver controle emocional para sair, entra em desespero e acaba morrendo. Teve colega que foi resgatado porque a lama chegou ao pescoço. É como uma areia movediça”, declarou ele, em entrevista ao CORREIO, por telefone, na manhã desta terça-feira (5).  

A tropa que ajuda nas buscas em Brumadinho já atuou em diversas ocorrências na capital baiana, como o desabamento de um prédio em Pituaçu em Salvador, onde quatro pessoas morreram em março do ano passado. Entraram em ação também na tragédia de Lajedinho, em 2013, quando um temporal atingiu a cidade baiana e deixou 17 mortos e 600 desabrigados.

Mas nada é comparado a Brumadinho - até o momento, foram encontrados 142 corpos, dos quais 114 foram identificados, e 194 pessoas continuam desaparecidas. As cenas assustam até quem já tem experiência com outras tragédias.“É um rastro de destruição de um paredão de lama de 25 metros de altura e que deixou 12 quilômetros de destruição. Estruturas metálicas, caminhões, vagões de trem, maquinário pesado, edificações, galpões, tratores, tudo isso, dentro do rastro da lama, ficou totalmente destruído, retorcido”, contou o major. Buscas A tropa baiana chegou a Brumadinho neste domingo (3) e trabalha em conjunto com outras equipes de resgate de Minas Gerais, São Paulo, Alagoas, Santa Catariana e Maranhão. Os militares estão num campo de concentração próximo ao local da tragédia. As buscas acontecem todos os dias, das 5h às 20h. 

“Cada dia é um trecho específico. Hoje estamos num trecho logo após a zona de impacto, mais precisamente onde estavam os vagões que foram arrastados pela lama. Trabalhamos divididos em duas equipes, que são levadas até a zona de impacto através de helicópteros da Aeronáutica e da Força Nacional, já que as vias terrestres foram destruídas pela lama”, disse o major que, por uma questão de ordem superior, não pôde dar informações em relação ao resgate dos corpos.

“Este assunto, não estamos autorizados a comentar. O que podemos dizer é que estamos trabalhando incansavelmente e todos os militares estão tendo atendimento psicológico dentro do posto de comando”, disse.

Elite Os 31 bombeiros que estão em Brumadinho formam um grupo de elite do Corpo de Bombeiros da Bahia. Eles estão no quartel do 3º Grupamento Bombeiros Militar (Iguatemi) e são especializados em Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas (BREC). Os militares são capacitados para atuar em zonas de escombros, galerias, espaços confinados, áreas imundas e alagadas, bem como locais de difícil acesso.  

“Nossos bombeiros seguem uma metodologia (BREC) supervisionada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para procedimento em zona de desastres, como desabamento, soterramento de terra, salvamento de vítima encarceradas, em locais de difíceis acesso, em áreas de floresta, mata e colapso estrutural, como é o caso de Brumadinho”, destacou o major Ramon Diego.

Esta não é a primeira vez que tropas baianas atuam em operações fora do estado. Neste ano, no dia 5 de janeiro, o governador Rui Costa enviou 100 policiais militares de batalhões especializados para apoiar as polícias cearenses – o estado viveu uma onda de ataques violentos do tráfico de drogas. O custo do envio da tropa para auxiliar na crise se segurança pública será reembolsado pelo Ceará. 

O CORREIO questionou se a condição de reembolso também se aplicaria ao envio da tropa baiana à Brumadinho. A assessoria de comunicação do Corpo de Bombeiros respondeu que a situação trata-se de “termos de cooperação” - um instrumento por meio do qual há transferência de crédito de órgão ou entidade da Administração Pública Federal para outro órgão federal da mesma natureza ou autarquia, fundação pública ou empresa estatal dependente.