Polícia faz operação em Cajazeiras XI em busca por suspeitos de matar PM

Moradores de condomínio acusam policiais de agressões nas abordagens

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  • Bruno Wendel

Publicado em 28 de abril de 2021 às 15:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Todas as manhãs, a neta de dona Ivone Aurora França dos Santos, 41 anos, lhe entrega a chave do seu apartamento no condomínio Sítio Isabel, em Cajazeira XI, antes de ir trabalhar no centro de Salvador. As duas moram em prédios distintos do conjunto Minha Casa Minha Vida, mas se encontram habitualmente na portaria. Mas esta quarta-feira (28) foi diferente, porque policiais civis e militares ocuparam o local nas primeiras horas do dia, alterando a rotina dos moradores, que ficaram apavorados. 

A ação faz parte da investigação do assassinato do policial militar André de Jesus da Hora, encontrado dentro do porta-malas de um carro em março deste ano na Fazenda Grande III. Duas pessoas foram presas em flagrante por porte ilegal de armas e tráfico. Segundo os relatos de moradores, policiais arrombaram portas e agrediram as pessoas. Eles disseram que três pessoas foram levadas para o Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).  “Estranhei que a minha neta não tinha me gritado às 5h. Então fui à janela e vi um monte de viaturas entrando no condomínio. Desci. Eles entraram no prédio de minha neta e levaram o irmão dela. A minha aflição é que minha neta é trabalhadora, vende roupas íntimas do centro para sustentar o filho de dois anos. E eles (policiais) até agora não saíram do apartamento dela”, disse Ivone ao CORREIO por volta das 10h, enquanto dividia olhar entre o terceiro andar do bloco 02, onde mora a neta, e as viaturas posicionadas em frente ao prédio. Operação O conjunto habitacional está situado na Rua Juscelino Kubitschek e é formado por 12 prédios, cada um com 16 apartamentos. Era por volta das 4h40 quando as viaturas chegaram, com as sirenes desligadas, segundo os moradores. “Mesmo assim todo mundo acordou assustado, por conta do barulho das viaturas circulando para cima e para baixo. Depois eles descaram e começaram a ir atrás das pessoas. Não queriam saber quem estava do outro lado, se havia alguém doente, se havia um idoso ou criança dormindo, queriam entrar nas casas de qualquer jeito”, contou uma mulher que prefere não se identificar. 

Os moradores disseram que as equipes das polícias Civil e Militar agrediram algumas pessoas e arrombaram portas. “Chegaram nas casas batendo nas pessoas sem que ao mesmo houvesse um motivo. Teve gente aqui que perguntou se tinham mandado para sair revirando tudo, jogando as coisas no chão, e levou um tapa na cara. Eles foram tão agressivos que apartamento do bloco 09 foi arrombado porque a moradora, uma senhora, estava com medo de abrir a porta, por conta mesmo da situação”, disse outra mulher. Aflição  Durante a ação da polícia, dona Ivone desmaiou duas vezes. “Não aguentei ver o meu neto sendo levado pela polícia.  Os vizinhos me acudiram”, conta. Perguntada se sabia porque a polícia estava no apartamento dos netos, dona Ivone disse que não sabia. “Não faço ideia. A gente pergunta, mas eles ignoram a gente”, disse. Ela disse que o neto não tem passagem na polícia. “E é isso que me deixa surpresa. Pelo que eu sei, ele nunca se envolveu em nada, pelo menos não dizia. Mas está sendo muito difícil para mim, porque só tenho os meus netos. Eles cuidam de mim e eu deles, porque a mãe já morreu”, disse ela.  Dona Ivone estava preocupada, sem entender porque a polícia ainda estava no apartamento da neta. “Eu fico aqui nessa aflição. Minha neta é uma pessoa muito responsável, trabalhadora. Tudo dela é para dar o melhor para o filho. Qual o motivo de mantê-la presa dentro da própria casa? Não faço ideia o que está acontecendo lá. Não sei se estão batendo nela ou se destruindo a casa que ela reformou tem pouco tempo com muito custo”, disse. Por volta das 10h30, policiais deixaram condomínio. Dona Ivone foi ao encontro da neta, que preferiu não falar sobre o assunto. “Ela está muito abalada, chorando. Eu não sei o que aconteceu, mas ela não quer falar nada”, acrescentou a avó.  Moradores relataram que ações agressivas vêm acontecendo com mais frequência. “Isso aqui acontece direto, principalmente com a PM. Eles invadem as casas e batem em quem estiver dentro. Xingam qualquer pessoa de ‘desgraça’, ‘puta’, ‘vagabundo’, não importa se é mulher, idoso ou criança”, disse mais uma moradora revoltada. 

Policial morto O policial militar André de Jesus da Hora, lotado no Batalhão de Policiamento de Eventos (Bepe), e morador de Feira de Santana, foi achado morto no dia 31 de março deste ano, dentro do porta-malas do próprio carro na Fazenda Grande II, região de Cajazeiras.

Na operação hoje, duas pessoas foram presas. Com elas foram apreendidas um revólver calibre 38 e uma pistola com munições, além de 28 porções de maconha, 21 pinos plásticos contendo cocaína e nove pedras de crack. O titular da DHM, delegado Daniel Pinheiro destacou a importância de continuar com as investigações em campo. “Seguimos com a identificação de suspeitos de envolvimento neste crime para a elucidação e prisão dos autores”, diz. 

Além de equipes do Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), do Comando de Operações da Polícia Militar da Bahia (COPPM), Rondas Especiais (Rondesp), Batalhão Especializado Batalhão Especializado em Policiamento de Eventos (Bepe), Batalhão de Choque / Rotamo e Comando de Operações de Inteligência (COInt/PM).

Desaparecimento O  policial André estava desaparecido desde o dia 28 de março, quando estava a caminho da cidade de Ipirá. O corpo do Cabo foi encontrado com as mãos amarradas, com sinais de tortura e com marcas de tiros no porta-malas do carro HB20, na Rua Caixa D’água, em Vila Vitória, próximo ao SAC de Cajazeiras.

Uma equipe da PM chegou ao local após denúncia de moradores. Testemunhas contaram à polícia que, dois homens abandonaram o carro e fugiram a pé sentido a estrada do “Coqueiro Grande”. O corpo foi removido para o IML e o crime está sendo investigado pela Polícia Civil.