Policial civil é suspeito de participar de latrocínio de assessor há quatro meses

Outras três pessoas também são investigadas por participação no crime

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  • Tailane Muniz

Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A cinco dias de completar quatro meses do roubo, seguido de tortura e morte do assessor Michel Batista Santana de Sá, 35 anos, o Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), responsável pela investigação do caso, recebeu a informação de que um policial civil também pode estar envolvido no crime, além do assassino confesso, Gabriel Bispo dos Santos, 22 anos, que está preso na Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR), na Baixa do Fiscal.

A afirmação foi passada ao responsável pelo inquérito, delegado Delmar Bittencourt, do DCCP, pelo próprio Gabriel, que foi preso no dia 21 de novembro, na cidade de Pomerode, em Santa Catarina. Ele era considerado foragido da Justiça desde o dia 20 de agosto, três dias após o latrocínio, quando foi identificado pela polícia como autor do assassinato. 

Em contato com o CORREIO nessa terça-feira (11), uma fonte ligada às investigações disse que o acusado contou, em novo depoimento, que um policial civil lotado na Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV), localizada ao lado do Detran, unidade que primeiro assumiu o caso, é responsável pelo tiro que matou Michel, na noite do dia 16 de agosto. 

Sem se identificar, a fonte também afirmou que o policial civil apontado pelo preso é agente há mais de 40 anos e lotado na DRFRV "há algum tempo"."Não sei até que ponto ele fala a verdade, mas certamente ele não cometeu o crime sozinho. Tudo está sendo cuidadosamente analisado, sob sigilo", comentou. Gabriel Bispo dos Santos acusa policial civil de atirar em assessor (Foto: Alberto Maraux/SSP) Ele acrescentou que, além do agente civil, o empresário Maurício Lucas de Teive e Argolo, padrasto de Gabriel, e uma terceira pessoa, são investigados. 

O CORREIO já havia divulgado a informação de que as impressões digitais de Maurício, que é casado com a mãe de Gabriel, foram encontradas no carro roubado de Michel, um Honda CRV - anunciado pelo assessor no site de compras OLX por R$ 73 mil, dias antes de morrer.

Na época, no entanto, a polícia não confirmou o envolvimento do empresário, que trabalha com compra e venda de veículos. Segundo Arnando Lessa, pai da vítima e que chegou a investigar o crime por conta própria, o empresário já aplicou um golpe milionário na Europa.

ARNANDO LESSA MONTOU CRONOLOGIA DO CRIME

Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) se limitou a dizer que não tem novidades sobre o caso. O CORREIO também tentou contato com o titular da DRFRV, delegado José Nelis Araújo, e com o pai da vítima, o suplente de vereador Arnando Lessa, mas eles não atenderam as ligações.

Segundo a fonte ouvida pelo CORREIO nesta terça-feira, a reconstituição do crime deve acontecer ainda este ano."O delegado está mantendo contato com os investigados ou quem, de alguma maneira, foi colocado na cena do crime. Acredito que aconteça antes mesmo do Natal", revelou.  A SSP-BA também não confirmou a informação.'Não atirei' Quando foi apresentado à imprensa, em 23 de novembro, Gabriel utilizou o direito de permanecer calado. À imprensa, se limitou a dizer: "Nada a declarar". À Polícia Civil, no entanto, afirmou que estava no momento em que Michel foi baleado, mas negou que tenha apertado o gatilho."Ele também nega que tenha torturado a vítima. Disse que não sabe quem teria feito isso. Sabemos que o crime teve a participação de outras pessoas e estamos investigando. Nossa suspeita é de que Michel se recusou a entregar o carro e, por isso, tenha sido assassinado, mas estamos apurando", afirmou Delmar Bittencourt aos repórteres. Pouco antes de ser preso, o principal suspeito chegou a gravar um vídeo incriminando o padrasto pelo crime. O material foi encaminhado para a família da vítima. Questionado durante a apresentação do preso, entretanto, Delmar e o diretor do DCCP, Élvio Brandão, não comentaram a suposta relação de Maurício no latrocínio - como acusa Gabriel no vídeo. 

Conforme Brandão, o acusado já aplicou outros golpes similares e estava vivendo em Santa Catarina com o dinheiro que acumulou com essas atividades. O diretor contou que ele tomava alguns cuidados para não ser encontrado pela polícia. Arnando Lessa disse que filho foi torturado (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Anúncio, morte e tortura O assessor Michel, que trabalhava na diretoria da Companhia de Processamento de Dados da Bahia (Prodeb), foi morto após se encontrar com Gabriel no Salvador Shopping, na tarde do dia 16 de agosto. Os dois negociavam um carro há cerca de um mês antes do crime. O corpo do assessor só foi encontrado na manhã do dia 17 de agosto, na região do Shopping Paralela. 

A vítima, que foi baleada ao menos seis vezes, também teve os "testítulos destruídos", de acordo com Arnando Lessa. O carro anunciado na OLX, que chegou a ser transferido por Michel para o nome de Gabriel, por meio do Documento Único de Transferência (DUT), e foi levado pelos bandidos, foi encontrado três horas depois do crime, por volta de 10h, no estacionamento do Shopping Bela Vista, no Cabula.

"Ele chegou a encontrar com o assassino dentro da própria casa, onde ele viu os três carros, sendo que um era da esposa. Para mim, foi isso o que fez crescer a vontade dele de cometer esse roubo. Michel confiava nele, tanto que o carro já estava transferido", afirmou o pai da vítima, na época.  TED falso foi enviado por Michel a irmão gerente de banco (Foto: Reprodução/CORREIO) Anúncio clonado e depósitos Logo que teve o nome ligado ao crime, Gabriel assumiu a autoria do latrocínio por meio do então advogado, Hudson Dantas, que chegou a aparecer na sede da DRFVR, quatro dias depois do crime, para negociar a rendição do ex-cliente. Ele confirmou à reportagem que o cliente [Gabriel] matou Michel porque havia "sofrido um golpe".

À época, Hudson mostrou ao CORREIO um comprovante de depósito no valor de R$ 59.500,00, em nome de Gabriel, destinado à conta de uma mulher - Jéssica da Silva Mattos. O documento, com data do dia 16, mesma quinta-feira, informa que a transação foi feita por volta de 13h13. Transferência feita por Gabriel em nome de Jéssica (Foto: Reprodução/CORREIO) Segundo o advogado, Jéssica seria esposa do 'verdadeiro estelionatário'. "Meu cliente [Gabriel] também sofreu um golpe. Ele negociava com Michel e com o cara [um suposto estelionatário que teria clonado o anúncio de Michel], sem saber que eles não tinham relação, foi enganado também", disse, há três meses, acrescentando que Gabriel recebeu uma mensagem do estelionatário, se passando por primo da vítima, pedindo para que o depósito fosse feito na conta de sua esposa [Jéssica]. 

"É essa Jéssica. Não sabemos se ela existe, mas está aí, o depósito foi feito. Eles foram em uma agência dentro do shopping e depositaram", contou, sem explicar, no entanto, como Michel não teria questionado a conta de uma terceira pessoa. DUT, com firma reconhecida, confirma transferência de carro para nome de Gabriel (Foto: Reprodução/CORREIO) Jéssica O horário do depósito feito em nome da mulher, entretanto, não condiz com os registros da família de Michel. "Meu filho não esteve em agência nenhuma com ele. Ele simplesmente mostrou o comprovante de uma Transferência Eletrônica Disponível (TED), que constava, inclusive, o nome do meu filho com um erro. Michel enviou para o irmão, que é gerente de um banco, e ele o alertou de que a conta não existia", afirmou Arnando Lessa à reportagem. Veja a imagem abaixo.

Para Arnando, o depósito realizado por Gabriel, no mesmo dia do crime, foi pensado para funcionar, posteriormente, como álibi. O suplente de vereador acredita que a intenção do acusado era, justamente, fazer parecer que ele também havia sofrido um golpe. O suplente acredita que o filho sequer chegou a ver o depósito feito em nome de Jéssica.

Durante a apresentação de Gabriel, o delegado Delmar Bittencourt afirmou que a mulher para quem o preso transferiu R$ 59,5 mil antes do assassinato do assessor Michel, Jéssica da Silva, tem envolvimento em golpes similares ao que Gabriel aplicou no servidor morto. 

A polícia baiana ainda não sabe se Jéssica tem alguma ligação com o assassinato do assessor, mas afirmou que ela já é investigada por golpes em São Paulo. Questionado durante apresentação, o preso não comentou sobre a relação dele com a mulher. 

Procurada pelo CORREIO, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo  (SSP-SP) não confirmou as informações.