Policiamento é reforçado após roubo de obra de arte no MAM-BA

Obra avaliada em R$20 mil foi retirada de igreja

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  • Bruno Wendel

Publicado em 21 de maio de 2018 às 11:52

- Atualizado há um ano

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A Polícia Militar informou nesta segunda-feira (21) que vai reforçar o policiamento no entorno do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). O motivo é o furto de uma obra de arte avaliada em R$ 20 mil de dentro da capela do museu na quinta-feira (17), confirmado no dia seguinte pela Secretaria Estadual de Cultura (Secult). Na ocasião, um funcionário do setor de museus apontou para um outro problema grave: a falta de seguro em museus no estado.

“Reforçar o policiamento com policiais no entorno do museu, mas é necessário um reforço também na segurança patrimonial do próprio MAM-BA”, disse o tenente-coronel Antônio Arnaldo da Silva Neto, comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM/Centro Histórico).

Um preposto do 18º BGM irá ainda nesta manhã de segunda ao museu. “O major Paulo Cunha vai ao local para o levantamento de informações. Também iremos ajudar na investigação da Polícia Civil, que está agora sob o comando da delegada Rogéria Araújo”, declarou o tenente-coronel.

Procurada pelo CORREIO, a delegada Rogéria Araújo, titular da 1ª Delegacia, informou que a investigação já foi iniciada e que detalhes serão passados no decorrer da apuração.

O diretor da MAM-BA, Zivé Giudice, informou que atualmente seis seguranças fazem a segurança do museu a cada turno. “O número atende à demanda do museu. Quando forem criados novos espaços com a reforma, vamos ter que ampliar”, declarou Giudice em relação ao posicionamento do tenente-coronel Antônio Arnaldo da Silva Neto, comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM/Centro Histórico) sobre o reforço da segurança patrimonial.

Sobre a investigação, Giudice disse que aguarda o resultado da perícia do Departamento de Polícia Técnica.  Peça furtada é a primeira, no alto, de autoria do artista Mauricio Ruiz (Foto: Divulgação/Secult-BA) Sem seguro O furto de uma obra de arte avaliada em R$ 20 mil de dentro da capela do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), confirmado na sexta-feira (18) pela Secretaria Estadual de Cultura (Secult), aponta para um problema ainda mais grave em museus baianos: a falta de seguro. 

“A vulnerabilidade dos museus baianos é um tema recorrente entre especialistas em arte. Nunca nenhuma dessas instituições adquiriu um plano de seguro. Nem para seus acervos nem para suas instalações físicas. E estamos falando de patrimônios valiosos como uma obra de Tarsila do Amaral que está avaliada em 20 milhões de dólares”, disse ao CORREIO um funcionário público que trabalha na área e que não quer ser identificado com receio de represálias. Segundo ele, o único seguro que existe é pontual.“Quando se empresta uma obra, os museus baianos exigem que a instituição que a solicitou faça o seguro e o transporte adequado. O mesmo acontece com as obras que vêm emprestadas para cá. Fora disso, é tudo ao Deus dará”,completa.Ele diz que o seguro sempre foi defendido pelas gestões com as quais trabalhou. Apesar disso, as secretarias da Administração e da Fazenda do governo sempre consideraram caro e desnecessário alegando que, caso uma obra fosse perdida, não teria como repô-la. “As secretarias da Administração e Fazenda sempre usavam esse argumento, não levam em conta que uma obra pode se perder, mas que o acervo pode ser refeito com o dinheiro do seguro. Afinal poderia ser aplicado em uma nova obra”, defende.

O museólogo e professor da Ufba Luiz Freire, que trabalhou no Museu de Arte da Bahia e no Abelardo de Oliveira, concorda com o servidor e acrescenta que os museus na Bahia são “destituídos de tudo”.“Aqui, nós brincamos de fazer museu. E não estou falando de injeção de grandes recursos, mas de ações de prevenção simples, que inexistem. Trabalhei em dois museus e não tínhamos sequer treinamento para agir em casos de roubo ou até mesmo de incêndio”, conta.Procuradas, as secretarias da Fazenda, Cultura e Administração do governo do estado não falaram sobre a denúncia da ausência de seguro para os museus.

Problemas no MAM  Em novembro do ano passado, o colunista do CORREIO, Ronaldo Jabobina, denunciou a paralisação das obras de reforma do MAM, que completou um ano em outubro. Em junho, o CORREIO já havia denunciado a situação de abandono do espaço e, na ocasião, o governador Rui Costa teria solicitado ao vice-governador e secretário de Planejamento do Estado, João Leão, que realizasse vistoria no museu, considerado um dos pontos turísticos mais importantes da capital baiana.

Após visita, o vice-governador disse que voltaria a tocar a reforma, orçada em R$ 7,7 milhões, incluindo requalificações, além dos famosos arcos e o Parque das Esculturas. Em novembro, no entanto, tudo permanecia do mesmo jeito. 

Após 13 meses de paralisação, as obras de reforma foram retomadas em dezembro, com novo cronograma. A conclusão da primeira etapa está prevista para o final deste mês. A promessa, no final do ano passado, era que o governo desembolsaria R$ 7,5 milhões para a fase que inclui as finalizações dos galpões do cine-teatro e oficinas, capela, subestação, galerias e arcos, passarela e iluminação. 

Falta de funcionários Apesar do investimento, a crise financeira do MAM permanece. Em março deste ano, Ronaldo Jacobina noticiou que o museu passou a não abrir aos domingos por falta de pessoal. Por falta de recursos, apurou o colunista, houve uma demissão em massa de funcionários, por parte do Ipac. A demissão em massa impediu a visita da população a uma das mais importantes exposições brasileiras da atualidade: a do pintor Antônio Volpi.  Tela do artista ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (Foto: Studio Roberto Reis) Segundo o diretor do local, a falta de pessoal poderia colocar a exposição em risco. “Esta é uma exposição muito valiosa e não posso submeter o acervo num dia de muito movimento sem equipe para acompanhar o público. É uma questão de segurança”, explicou o diretor Zivé Giúdice, que trouxe a exposição para a Bahia a custo zero para o estado. 

Em nota, a Secult informou que o Ipac realizaria um processo de seleção para contratar novos funcionários, porém, o processo só terminou após o fim da exposição. 

*colaboraram Ronaldo Jacobina e Fernanda Lima, com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier