Política & Economia: Internet é a grande vencedora da eleição

O ambiente virtual é o principal espaço para busca os votos, diz jornalista Manoel Fernandes

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 16 de outubro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

Enquanto você, caro eleitor, está começando a pensar nas próximas eleições municipais, cujo primeiro turno acontece em 15 de novembro, a disputa pelo direito de administrar os 417 municípios baianos já tem uma grande vencedora. A pandemia do novo coronavírus consolidou a internet como principal espaço pela luta pelo seu voto. 

O processo que ganhou força em 2018 – com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, que apostou tudo nas redes sociais – repete-se agora nos mais de 5,5 mil municípios brasileiros, sem qualquer sinal de uma reversão. “É uma verdadeira paixão que o brasileiro tem pela internet e é por isso que na eleição ela se tornou fundamental”, analisou o jornalista Manoel Fernandes, fundador e sócio da Bites Consultoria. Ele foi o meu convidado do programa Política & Economia, ontem no Instagram do CORREIO (@correio24horas). 

O Brasil é terceiro país em termos de tempo da população conectada à internet, explicou. “São 3h38 por dia, enquanto a média mundial está em pouco mais de duas horas”, contou. A Bites está acompanhando de perto as eleições em 80 cidades brasileiras, Salvador entre elas. A capital baiana já estava no radar da consultoria antes do período eleitoral. 

Salvador, com uma população de 2,6 milhões de habitantes, deve ter entre 1,5 milhão e 2 milhões de pessoas conectadas à internet na capital baiana. Destes, 81% acessam a internet só através do celular. “É uma campanha que vai acontecer sem os comícios tradicionais, mas vai ser uma campanha móvel”, acredita. “As lives e as interações digitais é que vão fazer o papel dos comícios. Eu utilizaria ferramentas como o Zoom ou o Teams para fazer reuniões com várias pessoas e o Instagram para fazer lives”. 

“Salvador a gente já vinha acompanhando desde antes das eleições e o prefeito ACM Neto era um fenômeno entre os gestores das capitais”, lembrou. Segundo Fernandes, o prefeito sempre conseguiu combinar no ambiente virtual a figura pública do político com a sua vida pessoal. “Usava muito as redes para anunciar as questões de natureza pessoal e a taxa de envolvimento nas medições que fazíamos, a dele era impressionante”, destacou. 

Fernandes conta que o prefeito fez 126 posts em seus perfis no YouTube, Instagram e Twitter. Em média, cada post conseguiu 2,8 mil interações, entre curtidas, compartilhamentos ou comentários. 

O prefeito é seguido de perto pelo governador Rui Costa (PT), que tem em média  1.809 interações por postagem. 

Torcida virtual A Bites trabalha com um algoritmo chamado de tração, que mede a capacidade de um agente político ou mesmo uma marca tem de chamar a atenção para si na internet, dentro de seu universo de seguidores. É como se fosse uma torcida virtual, contou. Detalhe, isso não significa intenção de votos, indica quem está despertando mais interesse no mundo virtual. 

Segundo Manoel Fernandes, o candidato à Prefeitura de Salvador que aparece com maior tração no levantamento da Bites é o vice-prefeito de Salvador Bruno Reis (DEM), com 36%, seguido pelo vereador Cezar Leite  (PRTB) com 27%, a policial militar Major Denice (PT) tem 20% e a deputada estadual Olívia Santana aparece com 10%. 

Manoel Fernandes destaca a importância de uma boa base virtual para ter um resultado eleitoral significativo. “Essa eleição vai ser muito baseada no recall analógico (lembrança que pessoas tem dos candidatos) e pela densidade digital, que é capacidade de um candidato de movimentar a rede”, explicou. “Por que é que eu passo a seguir alguém? Porque eu quero saber o que esta pessoa está pensando”, explica. Quando a taxa de seguidores novos é baixa, a leitura é que a maioria dos eleitores já se definiu. 

Nos últimos 30 dias, Bruno Reis ganhou 11.000 seguidores, o Pastor Sargento Isidório (Avante) registrou 2.197, Olívia Santana ganhou 3.290 e a Major Denice, 9.893. “Esse número da Major Denice é muito próximo do Bruno Reis porque politicamente ela não era tão conhecida, então as pessoas estão buscando saber quem ela é, o que pensa e o que fala. Desperta a curiosidade”, explica.  Para ele, os dados da internet sugerem que a candidata petista é a que tem mais chances de disputar com Bruno. “Na internet, quem mais chama a atenção das pessoas é o Bruno Reis, o Cezar Leite e a Major Denice”. 

Outra mudança significativa que uma eleição disputada nas redes apresenta é o papel do cabo eleitoral. Se tradicionalmente, lideranças políticas sempre exerceram papéis relevantes, agora vale muito a capacidade de propagação da mensagem no ambiente virtual. “É muito mais importante ser capaz de montar uma rede de pessoas que sigam o candidato e propaguem aquilo que ele diz”, explica. 

“Esta será uma eleição que vai ser definida a partir da capacidade que o candidato vai ter de chamar a atenção na internet”, acredita. Neste sentido, o valor do cabo eleitoral vai se dar de acordo com a capacidade dele de ajudar a propagar a mensagem do candidato. 

Candidatos ainda não dominam ferramentas disponíveis  Para o jornalista Manoel Fernandes, os candidatos aprender a utilizar corretamente as ferramentas disponíveis no mundo virtual. Ele cita como exemplo a questão da publicação patrocinada nas redes. “É uma ferramenta extremamente vantajosa para quem não é conhecido porque permite trabalhar com targets (faixas de público) específicos”, explica. Principalmente, para candidatos aos cargos proporcionais. “É possível direcionar a mensagem para os moradores de uma determinada localidade”, diz. 

O problema é que para a estratégia funcionar é necessário que o candidato tenha um mínimo de conhecimento a respeito do uso das ferramentas. Ele conta que já viu candidatos a cargos em um determinado estado anunciando para eleitores de outras regiões do país.