Por valorização do dólar, produtores baianos trocam algodão por soja na safra de 2021 

Dados do IBGE apontaram recuo de 18,5% na produção de algodão neste ano 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 04:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Ascom Aprosoja Bahia

Com o dólar em alta em relação à moeda brasileira, produtores baianos resolveram fazer uma mudança no plantio para a safra de 2021, lavrada em 2020. Por estratégia de mercado, o algodão perdeu o lugar para a soja, produto que, historicamente, tem mais da metade do volume produzido para exportação, segundo a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri).  Dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira (11), indicaram que haverá um aumento de 6,3% na safra de soja em 2021. Em contrapartida, o algodão sofrerá uma queda de 18,5% na produção deste ano.  

De acordo com Eduardo Rodrigues, Superintendente de Política e Agronegócio da Seagri, “os preços dolarizados do grão estão muito atrativos e a área plantada de soja em 2021 será recorde, estimada em 1,7 milhão de hectares”, explicou. O crescimento da área plantada é de 4,9%, segundo o IBGE. Em 2020, ela correspondia a 1,620 milhão. Pelo dólar, alguns produtores aproveitaram os altos preços para investir na soja ao invés do algodão. O superintendente também disse que as principais mudanças foram feitas no oeste e sudoeste da Bahia e que alguns, além da soja, também escolheram o milho.  

“Essa diminuição é fruto da retração do mercado, ocorrida durante a pandemia de covid-19, que provocou a paralisação das vendas, além da erradicação de lavouras de segundo ciclo no centro-norte baiano em razão do plano de defesa agropecuário local, visando o combate do bicudo do algodoeiro”, explica Rodrigues.  

Apesar disso e de que haverá também 15,5% de retração na área plantada, a Bahia ainda é o segundo maior produtor nacional de algodão, atrás somente do Mato Grosso. A produção do estado é cerca de 20 a 25% da produção nacional e o principal tipo plantado no território baiano é o algodão herbáceo. As principais cidades da Bahia que plantam o produto são Lis Eduardo Magalhães, Barreiras, São Desidério e Correntina.  

No geral, a produção de grãos na Bahia será um pouco menor esse ano do que em 2020 – queda de 2,1%, de acordo com o IBGE. Ou seja, a produção será de 9.849.386 toneladas de grãos neste ano, cerca de 200 mil toneladas a menos em relação ao recorde do ano passado, quando foram colhidas 10.063.245 toneladas. Se a previsão for confirmada, o estado terá a sétima maior produção de grãos do país, respondendo por 3,8% do total nacional.  

O superintendente da Seagri ressalta, no entanto, que é o primeiro levantamento do ano e não o balanço final. Portanto, as estimativas podem mudar. “Culturas de segunda safra ainda não foram plantadas e tem apenas prognóstico. A redução, até o momento, tem relação com a má distribuição das chuvas em dezembro e janeiro, impactando parte da primeira safra do milho e do feijão, além de estimativas de prognósticos da segunda safra para o milho menores do que a produção de 2020, que foi recorde”, pontua Eduardo.  

Essa também é a opinião de Pedro Marques, economista da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). “A produção agrícola é muito incerta, a expectativa pode ser maravilhosa, mas, pode não vir a chuva no período certo, pode ter infestação de alguma praga. As mudanças de preços podem afetar também, mas, a depender do clima, a safra do inverno, por exemplo, pode ser melhor do que o que está sendo cogitado e reverter esse número. Além disso, tem a decisão dos produtores, que decide investir mais do que iria na metade semestre”, comentou Marques.    

O economista também explica que a decisão por abandonar o plantio de algodão é por conta da baixa demanda no setor de vestuário no ano passado. “O setor têxtil foi muito afetado pela pandemia, os preços oscilaram muito e os produtores ficaram muito receosos em investir no plantio de algodão. Como caiu a demanda por vestuário, isso impactou toda a cadeia produtiva. Por conta desse fator preço, porque o produtor olha a rentabilidade, se ele não vislumbra uma boa rentabilidade, ele recua”, esclarece.  

Pedro também pondera que não é uma safra ruim, pois serão produzidas mais de um milhão de toneladas de algodão. No geral, a safra para 2021 também não é baixa. “É uma safra boa, mas a gente está comprando com um ano muito bom e o cenário ainda tá se desenrolando, então pode ser que esse resultado se reverta positivamente ou não”, reforça. Ele salienta ainda que a agropecuária corresponde a cerca de 6 a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia. Já o agronegócio, que inclui também a indústria, equivale a 25% do PIB baiano.  

Produção de soja maior que esperado  O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado da Bahia (Aprosoja Bahia), Alan Juliani, estima que a safra de soja de 2021 seja até maior doque previu o IBGE. “A gente está estimando até 6 milhões e 700 toneladas, que é um bom número. Vamos crescer em área e a cultura da soja está mais rentável que o algodão e que o milho. O clima está ajudando, tiveram alguns problemas pontuais, mas, na média geral, vai ser melhor que ano passado”, esclarece Juliani. O aumento da produção será de quase 400 mil toneladas. Em 2020, 6.070.000 toneladas produzidas. A estimativa do IBGE para 2021 é 6.450.680 toneladas.  

Segundo Juliani, a exportação no ano passado aumentou – foram 65% para fora do Brasil. Os outros 35% ficaram no mercado interno, para a produção do óleo de soja, no Nordeste, e para a produção de farelo de soja para a região Norte. Os melhores meses para colheita de soja são fevereiro e março. Em contrapartida, dezembro e janeiro praticamente não há colheita. 

O presidente da Aprosoja Bahia ainda disse que quem segurou a economia do Brasil em 2020 foi justamente o agronegócio. “O agro não parou, tomamos todos os cuidados para continuar trabalhando, com treinamento de equipe e segurança, e os commodities estão em alta, quem segurou o PIB brasileiro foi o agronegócio. Ele já vinha crescendo e, esse ano, com a ajuda do preço e do clima, teve esse crescimento. A alta do dólar ajudou, porque facilita muito a exportação”, avalia Alan.  

Pelo recorde na safra de 2019, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o maior produtor mundial de soja. A Bahia é o sexto estado que mais produz o grão no país. Ao todo, são mil produtores rurais que plantam o produto.

Produção de milho e feijão caem A produção de milho e feijão estão previstas para terem a safra reduzida este ano. O IBGE aponta que a segunda safra de feijão terá 58 mil toneladas a menos, ou seja, 37,6% menor do que ano passado. Já o milho terá reduções de 2,8% na primeira safra e 31,3% na segunda.  

O pequeno produtor Paulo Cesar Bernardino, 51 anos é de Jaguaquara, cidade no Sudoeste do Estado da Bahia e planta, principalmente, milho em suas terras. Apesar da possível queda que está por vir, à qual ele discorda, o preço da safra de milho aumentou nos últimos meses. “Acredito que não vai diminuir o plantio, muito pelo contrário, há de ter aumento, por conta das condições climáticas do sul do estado. Está chovendo bem e a procura está grande. Hoje estou vendendo milho por R$ 80 a safra por hectare, que eu vendia antes por R$ 60”, conta o produtor.  

Bernardino tem 10 hectares em sua fazenda, sendo seis deles dedicados ao milho. Ele também planta tomate, pimentão e hortaliças. O milho, no entanto, é o forte. A safra de 2021 já está inclusive, toda vendida. “Por conta da procura, o preço do produto aumentou, a lucratividade é a melhor do que qualquer outra cultura. Minha safra desse ano já está toda vendida e a que eu vou plantar agora já tem gente na espera”, relata.  

A nível nacional a estimativa de janeiro para a safra de grãos 2021 é que ela seja superior à de 2020, que havia sido recorde na série histórica do IBGE. Neste ano, a safra brasileira deve chegar a 262,2 milhões de toneladas, 8,1% maior que a do ano passado (que foi de 254,1 milhão de toneladas). 

Na Bahia, a previsão é que, em 2021, 13 das 25 safras de produtos investigadas pelo LSPA sejam maiores que as de 2020. As produções com previsão de maior crescimento, em termos absolutos, são as de soja (+380.680 toneladas ou +6,3%), cana de açúcar (+200.000 toneladas ou +3,9%) e laranja (+101.301 toneladas ou +16,0%).   

Procuradas, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Federação da Agricultura da Bahia (FAEB) não puderam responder até o fechamento da reportagem.  

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro