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Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2021 às 14:03
- Atualizado há 2 anos
Conteúdo verificado: Posts no Facebook inventam que Lula (PT) detém 52% das ações da Folha. É falso o post de 2018 que voltou a circular no Facebook dizendo que o ex-presidente Lula (PT) seria “dono” de 52% das ações do jornal Folha de S.Paulo. Como informado em seu site, o veículo pertence à família Frias desde 1992.>
Na legenda, um dos perfis que compartilhou o post alega que isso explicaria o fato de “a Folha de S.Paulo ser contra Bolsonaro”, o que também é falso. O jornal, como é explicado em seu site, é pautado pelo apartidarismo e pela desvinculação a “governos, oposições e doutrinas”.>
A reportagem tentou contatar três perfis que publicaram o post com o mesmo conteúdo, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. A postagem foi considerada falsa porque usa informações inventadas.>
Como verificamos? O primeiro passo foi confirmar, por meio de notícias no site da Folha, que Lula não tem nenhuma participação no grupo do qual o jornal faz parte. Ao pesquisar as informações no Google, foi verificado que o post com conteúdo falso havia circulado inicialmente em 2018 – e que a Folha e agências como Lupa, Boatos.org e Aos Fatos já haviam checado as afirmações na época.>
A reportagem também entrou em contato com a Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), que informou que os dados da Folha só podem ser acessados por representantes legais, já que se trata de uma sociedade anônima.>
Outro passo foi buscar a reportagem que aparece como print de tela no conteúdo, intitulada “Jornal espanhol corrige declaração de Lula com crítica a Dilma”. Referia-se a uma matéria do veículo “El Mundo”, de 22 de outubro de 2017.>
Em seguida, o Comprova analisou o mais recente projeto editorial da Folha para averiguar o posicionamento sobre manifestações partidárias, incluindo participação de políticos na empresa.>
Por último, tentamos contato via mensagem no Facebook com os perfis Bolsonaro 2022, Plaster Mãozinhas e Alverindo Pommer, que publicaram os posts.>
Verificação Família Frias Em 2018, quando o post circulou pela primeira vez, a Folha desmentiu as alegações de que Lula seria dono de ações da empresa. “A Folha é editada pela Empresa Folha da Manhã S.A., que pertence 100% à família Frias de Oliveira”, diz a nota. Também lembra que o jornal foi comprado “em 1962 pelos empresários Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho” e que, “em 1991, os dois sócios se separaram, e a família Frias tornou-se a única proprietária da empresa”.>
Desde novembro de 2020, como informou nota no jornal, o publisher Luiz Frias, filho de Octavio Frias de Oliveira, se tornou o acionista majoritário da holding Folha Participações S.A., controladora da empresa à qual o jornal Folha de S.Paulo pertence. I Nota publicada na versão impressa da Folha em 20 de novembro de 2020 Folha e Bolsonaro Como informa seu projeto editorial mais recente, de 2019, a Folha atua com o princípio do apartidarismo – ou seja, ao contrário do que desinforma o post verificado aqui, ela não trabalha a favor ou contra nenhum político.>
“Sob o pressuposto de que a difusão de informações confiáveis e opiniões qualificadas estimula o exercício da cidadania e contribui para o desenvolvimento das ideias e da sociedade”, a Folha coloca como um de seus princípios: “Manter atitude apartidária, desatrelada de governos, oposições, doutrinas, conglomerados econômicos e grupos de pressão”.>
Já o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ataca a imprensa e, especificamente, a Folha, com frequência. Em 5 de maio do ano passado, por exemplo, chamou o jornal de “canalha”, “patife” e “mentiroso”. Na mesma ocasião, mandou um repórter “calar a boca”; a Folha se manifestou em nota dizendo que, “mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro desrespeita a liberdade de expressão e insulta o jornalismo profissional” e que o jornal ia seguir “cobrindo os atos desta administração com isenção e independência, como fizemos em todos os governos”.>
A notícia reproduzida na postagem O título da reportagem da Folha exposto no conteúdo falso diz: “Jornal espanhol corrige declaração de Lula com crítica a Dilma”. A notícia, de 23 de outubro de 2017, conta que o “El Mundo” havia alterado uma declaração do petista dada em entrevista.>
A mudança ocorreu após o ex-presidente afirmar, em seu Twitter, que a Folha e o UOL haviam divulgado uma declaração que ele não teria dado ao veículo espanhol – os veículos brasileiros haviam se baseado na reportagem do El Mundo.>
Na primeira versão, o espanhol publicou que Lula disse que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) “traiu seu eleitorado”. Posteriormente, o trecho foi corrigido, afirmando que Lula declarou que o “eleitorado se sentiu traído” com o ajuste fiscal promovido pela colega de partido.>
Por que investigamos? Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições, como este checado aqui, que teve ao menos 16 mil visualizações até 4 de novembro.>
Ao associar o nome de Lula ao comando da Folha, o post tenta descredibilizar tanto o político quanto o jornal – ambos são alvos de ataques frequentes de Bolsonaro. Descredibiliza também o Datafolha, instituto que, em sua última pesquisa, publicada em 17 de setembro, mostrou Lula à frente de Bolsonaro tanto no primeiro quanto no segundo turno do pleito presidencial de 2022. Os cidadãos têm o direito de apoiar o candidato que quiserem, mas é perigoso para a democracia quando a opinião é formada com base em conteúdos falsos, como estes.>
Como já informado, esse conteúdo já foi checado pela Folha e por agências como Lupa, Boatos.org, Aos Fatos e Observador.>
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.>
*Esta checagem foi postada originalmente pelo Projeto Comprova, uma coalizão formada por 33 veículos de mídia, incluindo o CORREIO, a fim de identificar e enfraquecer as sofisticadas técnicas de manipulação e disseminação de conteúdo enganoso que surgem em sites, aplicativos de mensagens e redes sociais. Esta investigação foi conduzida por jornalistas do Programa de Residência no Comprova, Folha de S.Paulo e Estadão, e validada, através do processo de crosscheck, por quatro veículos: Poder 360, Correio de Carajás, Gaúcha ZH e CORREIO.>