Posto de saúde na Mata Escura é arrombado pela segunda vez em 72 horas

Funcionários paralisaram atividades durante a manhã desta quinta

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  • Eduardo Dias

Publicado em 15 de agosto de 2019 às 16:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Em menos de 72 horas, bandidos voltaram a invadir a Unidade de Saúde da Família (USF) do bairro da Mata Escura, em Salvador. O arrombamento, que já é o quarto somente neste ano, ocorreu durante a madrugada e foi percebido pelos funcionários no início da manhã desta quinta-feira (15), quando sentiram a falta de um computador na recepção. Equipes técnicas da prefeitura estiveram no local e instalaram três câmeras de segurança na parte interna do posto.

O equipamento furtado era utilizado para a marcação de exames realizados no posto e em outras unidades de saúde. Na ação, os bandidos também arrancaram grades e quebraram uma janela do local.

Antes deste arrombamento, outros dois foram registrados na mesma unidade de saúde nas últimas 72 horas: um na última segunda-feira (12) e outro na sexta (9). Nas ocasiões, os bandidos levaram medicamentos, um microondas e um computador. Após a invasão da última semana, a prefeitura já tinha reforçado as fechaduras e grades do local - um novo reforço foi feito nesta quinta. Em 2019, a primeira invasão ocorreu em 4 de janeiro.

A telefonista Paula Rocha, 50 anos, foi uma das primeiras pacientes a chegar na unidade e tomou um susto ao deparar com viaturas do Departamento de Polícia Técnica (DPT) que realizavam a perícia no local e havia interditado o acesso dos pacientes. Ela estava acompanhada da mãe, a aposentada Maria das Graças, 80, para buscar os medicamentos que tomam para os problemas de pressão e diabetes, respectivamente.

A ação dos bandidos prejudicou mãe e filha. Dos medicamentos que elas procuravam, só foi possível encontrar um deles, mas com uma dosagem menor do que a receitada. Os remédios estavam em falta na farmácia do posto desde o último incidente.

Maria das Graças buscava por Diamicron, medicamento destinado ao tratamento de diabetes, enquanto Paula pretendia buscar caixas de Losartana, indicado para tratar hipertensão e insuficiência cardíaca. No local, elas só conseguiram levar Metformina, que é uma substância utilizada no tratamento do diabetes tipo 2, especialmente em pessoas obesas ou com sobrepeso. 

"Nós viemos aqui de manhã bem cedo para buscar esses dois medicamentos, mas não foi permitido entrar no posto porque a polícia estava realizando uma perícia. Até então eu não estava sabendo que tinha acontecido isso outra vez. É um problema sério e que precisa ser resolvido logo", disse a telefonista.

Quem passou por situação parecida com a de Paula foi o vigilante Mário Sérgio Ferreira, 44, que também foi ao posto em busca de Glibenclamida, remédio destinado ao tratamento de diabetes tipo 2. Como não pode controlar os níveis de glicose no sangue apenas com dieta, exercício físico e redução de peso, ele precisa da substância.

"Cheguei e disseram que não tinha um dos remédios que eu pedi, daí perguntei o porquê e não me disseram, só falaram para eu ir no posto de Narandiba ver se encontrava por lá. Não sabia que havia sido arrombado outra vez. É uma pena essa situação novamente", lamentou.

Também em busca de medicação, o aposentado Juvenal Maia de Oliveira, 84, ficou chateado por voltar para casa sem o remédio para diabetes que toma há 10 anos.

"Não encontrei o medicamento que sempre tomo. Me falaram que fizeram um pedido e estão aguardando chegar na próxima semana. Além disso, me falaram para ir na unidade de Narandiba ver se encontro por lá. Se eu não achar, vou ter que comprar, mas é caro. Não consigo entender como existem pessoas que podem fazer esse tipo de coisa, será que eles também não adoecem?", questionou.

Segundo o coordenador do Sindicato dos Servidores da Prefeitura de Salvador (Sindseps), Bruno Cruz, os funcionários da unidade paralisaram as atividades durante a manhã desta quinta-feira e se reuniram com a coordenadora do Distrito Sanitário Cabula/Beiru, Lorena Sena, e com representantes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para tratar de medidas de segurança para a categoria."Os servidores paralisaram as atividades e solicitaram uma reunião com o secretário de saúde. Não vimos a presença de nenhuma viatura no local. Eles querem saber como vão reaver as perdas de seus pertences", disse Bruno Cruz. De acordo com a SMS, o arrombamento ocorreu durante a madrugada e um computador foi furtado. As ocorrências foram registradas na 11ª Delegacia (Tancredo Neves) e a gestão solicitou aos órgãos competentes o reforço da ronda no local. Acrescentou ainda que, apesar da nova ocorrência, a USF Mata Escura funciona normalmente e a farmácia da unidade será abastecida ainda esta semana.

Ainda segundo a secretaria, para inibir episódios de furtos nos postos, a pasta vem adotando medidas como a colocação de grades em portas e janelas, bem como num prazo de até 120 dias lançará um processo licitatório para aquisição de câmeras de monitoramento eletrônico para serem instaladas nas unidades.

O CORREIO também procurou a Polícia Militar, que informou por meio de nota que não foi acionada para atender à ocorrência.

Retrospecto Nos primeiros oito meses deste ano, 16 postos foram arrombados por criminosos. O número é igual ao registrado pela pasta durante todo o ano de 2018.

Em 2019, as unidades mais invadidas foram a Unidade de Saúde da Família (USF) de Mata Escura, com quatro casos, e São José de Baixo, com três. Logo após estão as da Gamboa e a de Joanes Centro Oeste, com dois casos cada.

A USF de Novo Marotinho, a USF Zumira Barros, o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Jardim Baiano, o Caps Rosa Garcia, Centro de Saúde (CS) Santo Antônio e o CS Barreiras tiveram um caso cada.

O mês do ano com mais arrombamentos registrados foi março, com quatro casos. Janeiro e agosto tiveram três casos cada.

* Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro