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Povo do axé vai às ruas pelo fim da intolerância religiosa

Caminhada pelo Fim da Violência e da Intolerância Religiosa homenageou Telinha de Yemanjá em sua 18ª edição

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  • Da Redação

Publicado em 16 de novembro de 2022 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Seguidores das religiões de matriz africana se reuniram, nesta terça-feira (15), para a 18º edição da Caminhada pelo Fim da Violência e da Intolerância Religiosa, no bairro do Engenho Velho da Federação, território de resistência do povo de axé desde os tempos coloniais. Centenas de pessoas vestidas de branco começaram a se reunir por volta das 14 horas, no final de linha do bairro, onde está localizado o busto em homenagem à Mãe Ruinhó. 

A caminhada foi organizada pela primeira vez em 2004, quando terreiros do bairro foram atacados por igrejas neopentecostais. Os 19 templos para as divindades africanas existentes no Engenho Velho da Federação atualmente dividem espaço com  igrejas evangélicas. 

Um trio elétrico puxou os devotos logo após pombas brancas serem soltas por crianças. Os participantes seguiram o trajeto entoando pontos de candomblé e de outras denominações religiosas e ofereceram o tradicional banho de pipoca purificador para todos os presentes. O clima da caminhada foi de animação após dois anos sem a realização do evento por conta da pandemia. Como acontece há 18 anos, o principal mote foram os pedidos de respeito e paz. “Hoje estamos todos juntos comemorando, vestidos de branco, pedindo paz e respeito  para a nossa religião. Estamos reivindicando um direito que já é nosso e está escrito na Constituição mas, infelizmente, não funciona assim”, disse Mãe Valnizia Bianch, ialorixa do Terreiro do Cobre e idealizadora da caminhada. Somente neste ano, 37 casos de intolerância religiosa contra religiões de matriz africana  foram registrados no estado pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Bahia (Sepromi). Além desses, outros 64 casos de racismo foram denunciados. Houve um aumento de 516% no número de denúncias contabilizadas desde 2013, quando 6 casos foram registrados no estado.  

A secretária Fabya Reis, responsável pela pasta, esteve na caminhada e reforçou a importância de se denunciar casos de discriminação. “A denúncia é fundamental para que as instituições possam agir”, afirmou. 

A denúncia pode ser feita pelo  (71) 3117-7448 ou no Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela, na Pituba.

Ancestralidade A caminhada homenageou Telinha de Yemanjá, ebomi do Terreiro do Cobre falecida aos 96 anos, em julho deste ano. “Fazemos hoje essa homenagem à nossa ancestral que foi nascida e criada dentro do Terreiro do Cobre, aqui no Engenho Velho. Eu tive o prazer de também nascer aqui e receber os ensinamentos de Aristhotelina Fiusa, que chamamos carinhosamente de Tia Telinha”, explicou Sonia Maria, que ocupa o mesmo cargo de ebomi no terreiro. 

Quando a caminhada passou em frente à casa onde Telinha de Yemanjá vivia, um texto em homenagem a ela foi lido, em meio a gestos de reverência. Pai Pote de Ogum, do Terreiro Ilê Axé Oju Onirê, de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, veio até Salvador representar os terreiros do recôncavo na caminhada. “Estamos aqui num momento de afirmação do povo negro, porque a discriminação racial está muito grande. É importante [a caminhada] porque é o povo santo na rua sem medo, fazemos uma revolução”, disse. Pessoas de outras religiões também marcaram presença no evento. Foi o caso da professora Ruth Sena, 60, que mora em Itapuã e participou pela primeira vez da caminhada. “Eu fui convidada por uma pessoa que é de um terreiro a vir para a caminhada. É importante estar aqui porque a gente fortalece algo que é tão discriminado. Quanto mais pessoas como eu, que não sou da religião, participarem, fortalecemos as ideias religiosas”.  

Os participantes saíram do fim de linha do Engenho Velho da Federação, seguiram pela Avenida Cardeal da Silva, parte das avenidas Garibaldi (até o Terreiro do Gantois) e Vasco da Gama (até a Casa Branca) e retornaram ao ponto de partida. Já no final do percurso, foram oferecidos acarajés e comida típica de origem afrobaiana.

Terreiro do Cobre

No site do projeto Caminhos da Sagrada Resistência  - uma espécie de memória digital do evento contra a intolerância religiosa , é contada a história do Terreiro do Cobre, que integra o coletivo de entidades que organizam  a caminhada há 18 anos . 

Localizado na Rua Apolinário de Santana, 154, no Engenho Velho da Federação, o Cobre é considerado um dos terreiros de candomblé da nação ketu mais antigos da Bahia. A fundação da casa remonta ao século XIX, por Tia Margarida de Xangô, filha de africanos.

Tendo como orixá regente Xangô, o terreiro teve origem na Barroquinha, assim como o Terreiro da Casa Branca e,  após ser transferido para o Engenho Velho da Federação, passou a ser dirigido pela Iyalorixá Flaviana Maria da Conceição Bianchi, que era filha da fundadora da casa. Atualmente, o Cobre  é liderado pela Iyalorixá Valnízia Pereira Bianchi, bisneta de Flaviana Bianchi, seguindo a descendência consanguínea da fundadora.

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.