Praça da Piedade passou por reforma e teve intervenções no paisagismo em 1981

Um mês antes, região foi palco do 'quebra-ônibus', protesto contra aumento da tarifa

Publicado em 19 de abril de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Edifício do Senado, Praça da Piedade, primeira década do século XX por Postal J. Mello editor/ J. Mello & Filhos

Praça da Piedade, durante reforma em 14 de setembro de 1981 (Foto: Prefeitura de Salvador/Arquivo CORREIO) A Praça da Piedade parece mais aberta, mais clara, nesta fotografia de 14 de setembro de 1981? Alguns elementos ajudam a explicar. No dia deste registro, feito a partir do prédio que hoje funciona como edifício-sede da Polícia Civil, a Praça da Piedade passava por obras. Dali a três meses, a Superintendência de Parques e Jardins (SPJ), responsável pela obra, esperava vê-la concluída, com os canteiros implantados já floridos.

A estrutura física da praça estava mantida, como noticiou o CORREIO na edição do dia 15 de setembro de 1981, há 38 anos. Bem no centro da fotografia, é possível ver uma placa, dessas que indicam investimento e tempo de duração de obras públicas. Ali, próximo dela, tinham sido feitas, no entanto, intervenções paisagísticas.

Foram instalados três canteiros suspensos para cada um dos canteiros já existentes na praça, onde foram plantadas primaveras, quaresmeiras, crótons e ixoras. A Superintendência acreditava que, em 90 dias, estariam floridas, ao lado das estátuas da praça, que datavam da década de 1920."Os flamboyants e os cinamomos foram mantidos porque servem de abrigo e alimento às iguanas, que já somam 60. A SPJ, contudo, planeja substituir gradativamente os flamboyants por ipês e paus-ferro, uma vez que aquelas árvores estão velhas e suas raízes prejudicam o calçamento do passeio e da rua", dizia um trecho da notícia publicada na época.Há mais uma curiosidade: a SPJ planejava instalar na praça bancos padronizados de madeira com pés de ferro. Mas, àquela altura, eles ainda não tinham sequer começado a ser confeccionados. A Superintendência estava mantendo contato com a Escola Técnica Federal da Bahia, para que os bancos fossem feitos pelos alunos.

Protestos Cerca de um mês antes dessa foto ser feita, em agosto, esta mesma região do Centro de Salvador tinha sido palco de uma série de protestos, que ficaram conhecidos como "quebra-ônibus". O historiador Rafael Dantas explica que o movimento era uma reivindicação dos motoristas contra os patrões e dos usuários de ônibus contra o aumento da passagem."Em maio do mesmo ano, a Prefeitura, gestão de Renan Baleeiro, criou a Secretaria de Transportes Urbanos. O protesto aconteceu no Centro de Salvador, entre a Praça Municipal e a Avenida Sete de Setembro", explica Rafael.A época sinalizava para o fim da ditadura militar e as pessoas enfrentavam uma grave crise econômica. Por falar em ônibus, esse que aparece no canto inferior direito fazia a linha Nazaré-Campo Grande, pela empresa Sul America.

Centro econômico Ao fundo, os sombreiros abertos em alguns prédios indicam o funcionamento de atividades comerciais. "Na década de 1980, esses prédios ainda concentravam grande quantidade de escritórios, consultórios médicos, escritórios de advocacia, entre outras funções, sedes de instituições, departamentos públicos. Mostra uma atividade comercial e de trabalho na região bem grande. A gente já tinha o Shopping Iguatemi, o primeiro shopping de Salvador, mas o Centro ainda ficou nas décadas de 1980 e 1990 concentrando uma grande parte de pessoas que iam fazer suas compras e buscar outras atividades", observa Rafael.

Também nesta imagem, mais uma curiosidade: o prédio ao fundo, na mesma direção do ônibus e ao lado do Gabinete Português de Leitura, foi cortado ao meio - literalmente. Não nesta obras, mas décadas antes, na inauguração da Avenida Sete de Setembro.

[[galeria]]"Essa foto mostra o antigo prédio do Senado, que ainda hoje existe. Esse prédio passou por uma reforma lá no início do século XX, quando foi aberta a Avenida Sete de Setembro. Ele foi cortado ao meio e evidencia bem nessa foto ele só com uma das alas", aponta o historiador, que pesquisa iconografia.No início do século XX, a praça era gradeada - essa configuração, com grades ao redor, se manteve até meados dos anos 1920. Nesta época, foram instaladas algumas estátuas nas extermidades da praça - que permeneciam nesta foto de 1981.