'Precisamos entender que alimento pode ser o remédio', diz Bela Gil

Comida de verdade: ativista Slow Food, a nutricionista e chef de cozinha bate um papo sobre alimento bom e justo na pandemia

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  • Priscila Natividade

Publicado em 21 de novembro de 2020 às 11:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: SDRCAR/ Divulgação

“A experiência do isolamento social fez com que muitos se aproximassem do cozinhar, dos produtores e do entendimento da qualidade e do impacto da comida na nossa saúde”. 

A chef de cozinha e ativista do Movimento Slow Food, Bela Gil tem razão. De acordo com o Instituto Akatu e a GlobeScan, durante a pandemia, sete em cada dez consumidores buscaram bastante informação sobre estilos de vida saudáveis (68%) e sobre estilos de vida ecológicos (59%). 

Bela Gil é um dos nomes que marcaram presença no Terra Madre Brasil 2020, evento online e gratuito promovido pelo Movimento Slow Food Brasil que acontece até este domingo, a partir das 11h no canal do movimento no  YouTube. A programação completa está disponível em terramadrebrasil.org.br. A Associação Slow Food do Brasil aponta que o país tem, atualmente, uma rede que conta com 283 comunidades que promovem produtos, conhecimento e experiências, a favor da alimentação saudável e consciente. 

Só a Bahia, abriga 48 desses grupos, que estão em localidades como Salvador, Chapada Diamantina, Rio Real, Bacia do Jacuípe, Olivença, Baixo Sul do Estado e no Recôncavo.“O Slow Food acredita que comida pode curar diversos males na nossa sociedade. Precisamos acreditar nisso para que o movimento cresça”, defende Bela.E é na Bahia onde moram muitas de suas recordações relacionadas à comida: “Minha memória de comida afetiva está sempre relacionada aos dias de praia em Salvador, regados ao sorvete Capelinha, um final de tarde nas baianas de acarajé e um balde de umbu e siriguela”, lembra.

Comida de verdade, para Bela Gil , não é somente nutritiva, mas, afetiva. É possível fazer Slow Food Urbano? Ela responde que sim: “eu sou um exemplo disso”. Veja a seguir.

Slow Food é comer orgânicos? Qual o conceito? É comer orgânico também, consumir orgânico é resultado de todo aprendizado adquirido do movimento. O Slow Food valoriza a comida boa, limpa e justa.Ou seja, uma alimentação gostosa, palatável e afetiva, proveniente de agricultura sem veneno, que não agride o nosso corpo e o meio ambiente, e economicamente viável para quem produz e quem consome.Como você enxerga o Slow Food na pandemia?   O Slow Food incentiva a conexão do saber com o fazer. Durante a quarentena, muitos começaram a cozinhar, comprar alimentos diretamente do produtor. Portanto, colocando em prática diretrizes do movimento.

O que é um alimento bom e justo para todos?  A comida de verdade é aquela comida cheia de nutrientes, afetiva, feita por pessoas para pessoas. O Slow Food acredita que comida cura diversos males na nossa sociedade e precisamos acreditar nisso também para o movimento crescer.

Ter domínio sobre as sementes e plantas  é uma forma de exercer poder?   A soberania alimentar que engloba o conhecimento sobre sementes e alimentação é fundamental pra uma sociedade mais autônoma e responsável. O conhecimento fornece às pessoas o poder de escolher o seu caminho.

Como tornar o Slow Food mais acessível, sobretudo, em um país onde a maioria da população está desempregada ou sofreu perda de renda devido à pandemia?   A má alimentação no Brasil é um problema estrutural que necessita de mudanças estruturantes. Políticas públicas são fundamentais para tornar a alimentação saudável acessível a todos.Um exemplo é que, para democratizar o acesso à boa alimentação, é primordial a democratização do acesso à terra. Portanto, a reforma agrária popular e agroecológica é uma dessas políticas públicas urgentes.

O que ainda é barreira? A barreira ainda se dá pela cultura das pessoas em relação à alimentação muito baseada em propagandas de produtos ultraprocessados que trazem alegria e status.Uma cultura que incentiva e acredita que comida de criança é besteira, ‘porcaritos’, e pais que prezam pela alimentação saudável são radicais e abusivos. Precisamos valorizar mais a comida, os produtores, entender que alimento pode ser remédio pra nossa saúde como também para  a sociedade e o planeta.  Somos analfabetos gastronômicos? Como 'alfabetizar' as futuras gerações sobre a importância de uma alimentação consciente?   Essa alfabetização só é possível com educação alimentar e ecológica nas escolas como matéria obrigatória.É possível ser Slow Food urbano? Como começar? Comprar direto de uma produtora, cozinhar sua própria comida, ter vasinhos com temperos em casa, aplicar os princípios de uma alimentação consciente quando for comprar e consumir os alimentos nos mercados, feiras, restaurantes ou em casa são exemplos que já tornam uma pessoa da cidade em um Slow Food.

Se quiser ir além, promova mutirões para criar hortas urbanas na praça mais próxima. Recuse  alimentos que você sabe que vieram de uma cadeia violenta (com transgênicos, ultraprocessados, carne vermelha que não venha de uma produção regenerativa). Ter uma alimentação mais a base de plantas, sendo orgânica e agroecológica, é muito melhor.

QUEM É 

Bela Gil   é ativista, nutricionista, cozinheira, escritora e apresentadora do programa Bela Cozinha e do projeto Refazenda, ambos exibidos no Canal GNT. A baiana, filha do cantor Gilberto Gil, é também vice-presidente do  Instituto Brasil Orgânico.

SLOW FOOD NA BAHIA

Coopercucwww.coopercuc.com.br/onde-comprar/bahia/Central da Caatinga www.centraldacaatinga.com.br/loja/Quilombola Rota da Liberdade Delivery pelo telefone (71) 99607-1452

Cooperativa Repescar www.goomer.app/cooperativa-repescar/menu

Startup Escoarwww.escoarbrasil.com.br

Movimento CETA (Trabalhadores Rurais Assentados e Acampados da Bahia) Via Whatsapp (71) 9 9923-9307Lojas do Cesol Bahia (Centros Públicos de Economia Solidária)Salvador Norte Shopping e Salvador ShoppingNilton Oleaginosas (71) 9 9134-2275 / @niltonoleaginosas A Kitanda Agroecológica (Feira de Santana)@akitanda_agroecologicaCooperativa COOPCAB (Cooperativa dos Criadores das Abelhas do Brasil) (71) 9 9137-6127 ou com Nona Fernanda  (71) 9 9124-8314