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Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2022 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Algumas revendedoras da capital baiana ainda não repassaram os reajustes do preço do gás de cozinha para os consumidores. O aumento foi anunciado pela Acelen, na última terça-feira, e varia entre 9,1% e 9,4%, a depender do ponto de entrega. Em Salvador, a diferença do preço do gás pode ser de até R$ 30, segundo a pesquisa realizada pelo CORREIO, ontem, em dez revendedoras. Nos locais que já fizeram o reajuste, o preço subiu cerca de R$ 5, com o botijão de 13 quilos custando entre R$ 105 e R$ 120.>
O valor do gás liquefeito de petróleo (GLP), popularmente conhecido como gás de cozinha, costuma ser reajustado pela Petrobrás, com efeito em todo território nacional. Entretanto, o reajuste desta semana foi realizado pela Refinaria Mataripe, em São Francisco do Conde. “Esse reajuste é algo inédito no mercado, porque só tínhamos a Petrobrás que interferia no valor do gás. Mas agora existe um novo agente, a refinaria, que reajustou o gás de maneira bem agressiva”, explica Robério Santos, diretor do Sindicato dos Revendedores de Gás no estado. >
Em nota, a refinaria disse que a "formação de preços da Acelen leva em consideração a variação do preço do petróleo no mercado internacional, a cotação do dólar e o frete (do petróleo até a refinaria). As fórmulas de cálculo de preços estão previstas em contrato, foram discutidas com os clientes e aprovadas e homologadas pela ANP. A Acelen tem o compromisso de ser uma empresa competitiva". A Petrobras concluiu a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) para o fundo árabe Mubadala Capital - controloador da Acelen - em novembro do ano passado, num negócio da ordem de R$ 10,1 bilhões.>
Na capital, entre as revendedoras pesquisadas pelo CORREIO, a Cabula Gás, em Narandiba, é a que apresenta um valor mais em conta no botijão, sendo R$ 90 a vista e R$ 95 no cartão de crédito. Uma vendedora que preferiu não se identificar, disse que não há expectativa de quando o produto vai ter um reajuste: “O movimento já está fraco, se aumentar o valor, vai piorar ainda mais”. >
O Bonfim Gás, localizado na Federação, também não reajustou o valor do botijão, que custa R$ 97 à vista e R$ 100 no crédito. Em bairros mais distantes, o preço chega a R$105, enquanto que se o consumidor for buscar no local o valor é de R$90. No local, também não se sabe quando o reajuste será repassado. Na Gama Gás, no Iapi, na quinta-feira (3) ainda era possível encontrar o produto por R$ 95 reais à vista, mas a expectativa é que na sexta-feira (4), o preço suba.>
Entre as revendedoras que repassaram o aumento para os consumidores na quinta-feira (3), a Nordeste Gás, em Amaralina, é a que vende mais barato, R$ 105 à vista e R$ 110 no cartão, com o reajuste de R$ 5. No bairro Uruguai, na El Shadai, é possível encontrar o produto por R$ 109 à vista.>
Em uma mesma distribuidora, o valor do produto pode variar cerca de R$ 3 conforme o bairro em que se peça o botijão. No caso da Ultragaz, antiga Brasilgás, o gás de cozinha no bairro São Caetano sai por R$ 112 à vista e R$ 117 no cartão, podendo ser dividido em três vezes. Na portaria, o valor é de R$ 99 ou R$ 105, dependendo da forma de pagamento. Na Ultragaz do Vale do Matatu, o produto sai por R$ 114 à vista, R$ 119 no crédito e R$ 100 na portaria. >
Já na mesma distribuidora, mas no Engenho Velho da Federação, o preço sai por R$ 115 e R$ 120, tanto o valor à vista como o do cartão sofreram o aumento de R$ 5. O gerente da distribuidora, Walter Neri, explica que o preço real do botijão é o do cartão: “A gente faz o desconto para quem paga à vista porque a situação tá difícil para todo mundo, mas o preço do gás é o do cartão”. Já na Ultragaz do Engenho Velho de Brotas, o preço é R$ 114 à vista. Segundo o gerente Ronaldo Gomes, o que explica os valores distintos nos bairros e a logística e o frete. Na Boca do Rio, o botijão vendido pela Ultragaz sai por R$ 117 em dinheiro ou débito, R$ 120 no crédito e R$ 106 na portaria. >
Reajustes seguidos pesam no bolso Somente no ano passado, 13 reajustes de preço do gás de cozinha foram realizados na Bahia. Uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgada em janeiro, revelou que o aumento do botijão chegou a 35,16% no acumulado de 2021. A escalada de preços ficou bem acima da inflação, fechada em 11%. >
Do total das adequações feitas, dez foram da Petrobrás, uma do Governo do Estado e duas das distribuidoras. A última mais significativa foi em novembro, com um aumento de 5,1%, deixando o botijão entre R$ 3 e R$ 5 mais caro. Nenhum dos reajustes do ano passado foi tão grande como este último - o maior havia sido em setembro, de 8%. Em setembro de 2020, um botijão custava em média R$ 68 no estado, em 2021, o valor chegou a R$ 105. Elenice Santos Conceição, mais conhecida como Nice, mora na capital e sente no bolso os impactos desses aumentos. >
Dona do restaurante Casa da Nice, no bairro Amaralina há 15 anos, Elenice já viu o preço do gás de cozinha subir muitas vezes. Ela conta que não tem repassado os últimos reajustes por medo de perder a clientela: “Temos que segurar e ficar com prejuízo dos aumentos e remar para frente. Porque se aumentar o preço do almoço os clientes fogem e não entendem que tá tudo muito caro”. Elenice tem receio de aumentar os preços dos pratos do restaurante e perder a clientela (Foto: Arquivo Pessoal) Há dois anos, para diminuir os custos, a cozinheira só trabalha com entrega e retiradas de pedidos. “Fiquei com medo por causa da covid-19 e parei de atender, o lucro também caiu muito nesse período, cerca de 50%”, conta Elenice. Além dos custos para produzir os pratos, ela também arca com o aluguel e contas de água e luz. Antes da pandemia, ela contava com a ajuda de dois funcionários, com a redução de custos, agora trabalha só com o auxílio de um rapaz que faz as entregas de bicicleta.>
Para quem precisa reduzir os custos, existem algumas dicas que podem ajudar. Fazer a manutenção do forno, usar tampas corretas das panelas e planejar o uso do forno durante o preparo da receita, são maneiras simples de diminuir a quantidade de gás utilizado. A Consul explica que a cor do fogo pode dar sinais de impurezas acumuladas nos bocais do seu forno e fogão. A tonalidade da chama deve ser azul, se notar que ela está alaranjada ou amarelada, deve haver algum entupimento que pode te impossibilitar na hora de economizar. >
Novo aumento de preço do gás de cozinha não é descartado Como se o aumento da refinaria já não bastasse, o Sindicato dos Revendedores de Gás não descarta a possibilidade de um novo aumento de preço, desta vez sendo feito diretamente pela Petrobrás. No entanto, ainda não há previsão de quando esse reajuste será feito. O economista Edísio Freitas explica que o petróleo sobre impactos de variáveis econômicas, como o câmbio, e geopolíticas. >
“Uma crise em uma região importante para produção de petróleo vai impactar no preço mundial do barril, que é uma commodite. Então se existe esse efeito no barril, ele imediatamente se reflete no custo da indústria interna, que no caso é a Petrobrás. Além disso, também existem os custos internos, como os custos operacionais das distribuidoras”, ressalta o economista. >
A tensão política entre a Rússia e países ocidentais, devido à possibilidade de invasão da Ucrânia, pode ser um dos fatores que intensifique a pressão para o aumento do barril, uma vez que os dois países são grandes produtores e exportadores de petróleo e gás natural.>
“A Petrobrás adota uma política de preços baseada na flutuação do câmbio e do mercado internacional. São esses dois fatores que fazem com que ela analise e aplique suas correções no barril do petróleo e ambos estão oscilando para cima|”, destaca o diretor do Sindicato dos Revendedores de Gás Robério Santos.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.>