Preço do tomate sobe 44,5% em Salvador e baianos buscam outras opções

Produto foi o que mais puxou a inflação do mês de março

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 16 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Gabriel Amorim/CORREIO)

Figura presente no prato de almoço de muitos baianos, o tomate está mais caro e já chega a assustar quem costuma frequentar supermercados e feiras de Salvador. Só no último mês de março, o produto teve um aumento de 44,51%. A alta faz com que vendedores e consumidores busquem alternativas.

A informação do aumento é do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) confirma e acrescenta que “o tomate foi o produto que mais aumentou em março e o que mais puxou a inflação do mês” na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Acrescentou ainda que o valor do fruto "aumentou muito no país como um todo, não só na Bahia, o que indica dificuldades com a safra do produto de uma forma geral".

O fim do Verão e o início das chuvas é um dos fatores que justifica esse aumento. É o que explica Rejane Caldeira, coordenadora de mercado da Ceasa de Simões Filho."Conversei com os comerciantes, porque muitos deles também são produtores em Irecê, e eles explicam que o preço subiu por causa das chuvas. Alguns não conseguem entrar na roça para colher, o carro atola, além da plantação ser perdida quando chove demais", disse. Ela pontua ainda que o tomate está pior que a batata, que apresentou aumento recentemente. "São os que mais aumentaram, só que a batata até conseguiu dar uma equilibrada. O tomate continua com valor alto. A caixa com uns 27 kg tá saindo por R$ 120, R$ 130", completou. Há um mês, no fim de fevereiro, o preço para os comerciantes era quase metade, e a mesma caixa saía por R$ 60, R$ 70.

O CORREIO entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) para entender o que gerou o aumento. Em nota, a SDR informou que as chuvas foram responsáveis pela mudança na produção do alimento. “A elevação dos preços em março está relacionada com as menores quantidades ofertadas do fruto aos mercados, uma vez que as condições climáticas não favoreceram o desenvolvimento nas lavouras”.

O comerciante Marcelo Andrade, 44, que há oito anos é dono de uma banca na feira das Sete Portas, também percebeu a influência climática no preço do alimento. “O último aumento no preço tem uns 10 dias. O tomate que a gente compra vem de Irecê, e lá, depois de um tempo de seca, choveu demais, o que acabou prejudicando a plantação”, explicou Marcelo. Na banca dele, o quilo pulou de R$ 4,50 para R$ 6.

Com o prejuízo nas plantações, a qualidade do fruto que chega às feiras também foi afetada.  “Os tomates estão vindo ruins e nós não queremos vender um produto que não seja bom. Quem opta por vender esse tomate que está vindo ruim, estragado, tem vendido por R$ 5,50. Geralmente, ele é vendido no máximo por R$ 2,80”, contou Lídice Melo, 51, que trabalha na feira de Sete Portas há 30 anos.

“Estamos tendo que gastar mais para manter a qualidade”, completou ela, que está vendendo o quilo do produto por R$ 6, apesar de apontar que outros colegas já subiram o preço para R$ 7.

Impacto na cesta básica O aumento no preço do tomate causou impacto também no valor da cesta básica. Pesquisado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o preço da cesta subiu, em Salvador, 5,35% em março. A capital baiana foi a 12ª com maior aumento, entre as 18 cidades pesquisadas na Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos.

Junto com outros alimentos, como batata, feijão e banana, o tomate é uma das causas para o crescimento no valor. Segundo o órgão, “o aumento deve ser causado pela redução da oferta devido ao fim da safra de Verão e explica a elevação expressiva dos preços no varejo”.        Feirante Lidice Melo aumentou gastos para manter qualidade do tomate (Foto: Gabriel Amorim/CORREIO)  Substitutos Diante da mudança no valor do tomate, o alimento tem aparecido menos na mesa de alguns baianos. É o caso da dona de casa Maria Helena Nascimento, 38, que consumia o produto diariamente. “Na minha casa a salada é sempre alface e tomate, mas, com esse preço estou tendo que economizar. Não dá para botar todo dia”, contou.

Como alternativa, Maria Helena tem apostado em cebola e pimentão para incrementar a salada do almoço.   

Para além das casas, o preço do tomate fez tremer também os tabuleiros das baianas de acarajé. Principal ingrediente do vinagrete, usado como acompanhamento das iguarias, o fruto tem significado prejuízo.

Compradora assídua, a baiana Lindinalva Rebouças, 59, que usa cerca de 2 kg do produto por dia, vem sentido o aumento no preço há mais ou menos um mês e meio. “Já consegui comprar por R$ 2, mas na última semana só encontrei por R$ 8. Para a gente é um prejuízo muito grande, porque os clientes gostam da salada”, contou.

Diferente de Maria Helena, no entanto, a baiana conta que não teve a opção de simplesmente abrir mão do tomate. “A gente brinca quando o cliente pede para colocar mais salada. Avisa ‘logo agora que o tomate aumentou, tá caro’. Já cheguei a caprichar mais no vatapá e até em pouco mais de camarão para compensar a salada”, explicou Lindinalva.  

* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela