Prefeitura de Alagoinhas diz que concurso não teve fraude e será mantido

Comissão constatou que único problema foi atraso em 2 salas, mas tempo foi compensado

Publicado em 2 de maio de 2019 às 22:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Não houve nenhuma fraude ou prejuízo aos candidatos que participaram do concurso da prefeitura de Alagoinhas, em abril, segundo conclusão de uma investigação feita pela Comissão de Servidores Públicos do Município. Houve várias denúncias de pessoas que fizeram a prova de irregularidades, além da falta de infraestrutura oferecida para aplicação do exame.

A comissão, diz a prefeitura, constatou que as provas não foram feitas de maneira inadequada, nem houve "realização de provas em grupo". As normas de segurança exigidas foram cumpridas e não houve vazamento de gabaritos ou uso de celular durante a prova. "Também foi afastada a possibilidade de qualquer prejuízo com a divulgação de fotos de provas por uma candidata – já identificada como ex -integrante do quadro de estagiários da Prefeitura no ano de 2014 –  ocorrida após o horário de realização das provas", diz nota divulgada nesta quinta-feira (2) com o resultado do procedimento de apuração. (Foto: Reprodução) Um vídeo divulgado na internet mostrando local de prova fechado envolveu candidatos de duas salas que ainda não estavam liberadas pela instituição de ensino na hora prevista, resultando em atraso. "Na instrução do processo, ficou comprovado que houve deturpação dos fatos no referido vídeo", diz a prefeitura. Por conta do atraso, os candidatos que fariam prova nesses locais foram colocados em um local de espera, que aparece no vídeo, até que as salas fossem liberadas. A prefeitura chama isso de "problema isolado" e afirma que o tempo de atraso foi devolvido aos candidatos afetados, já que o horário para conclusão foi estendido. "Os candidatos não realizaram prova, nem tiveram acesso a qualquer material do concurso no local de espera que aparece no vídeo. Após a liberação das salas, os candidatos foram devidamente acomodados, receberam seus cadernos de prova e puderem realizar normalmente as provas", afirma a nota.

As fotos de prova do concurso divulgadas online pertencem a uma candidata que foi identificada com base nas marcações constantes nas questões. Por regra, ela deve ser excluída sumariamente da disputa. Segundo a empresa organizadora, a candidata não conseguiu a nota mínima para classificação, o que reforça que não houve consulta ao celular durante a prova. A prefeitura diz também que a polícia vai investigar as "repercussões criminais relacionadas à divulgação da foto".

Segundo a empresa organizadora, dos 8.586 concorrentes ao cargo de Assistente Administrativo, apenas 525 atingiram a pontuação mínima e foram habilitados. Dos 3.423 concorrentes ao cargo de Auxiliar de Classe, apenas 95 estão habilitados, por atingirem a pontuação mínima. Esses dados reforçariam a lisura da aplicação e descartariam fraude.

Com isso, a prefeitura vai manter o concurso, seguindo o cronograma, e os aprovados serão convocados. O relatório da investigação será encaminhado ao Ministério Público e à Polícia Civil.

Os participantes que se consideram lesados pelo concurso marcaram um protesto para às 9h desta sexta-feira, em  frente à prefeitura de Alagoinhas. Eles pedem a anulação do exame.

Denúncias Participantes relataram diversas irregularidades que teriam ocorrido durante a aplicação da prova. A falta de infraestrutura e suporte aos candidatos foi denunciada pelos concurseiros nas redes sociais e até a polícia foi chamada.

Atrasos no início da prova, salas insuficientes para a quantidade de alunos, não recolhimento de aparelhos celulares e falta de detector de metal nos banheiros foram algumas das falhas apontadas por quem prestou o concurso. Ao todo, 7.442 pessoas fizeram a prova em 18 lugares de Alagoinhas e Salvador.

Um vídeo postado no Facebook mostra alunos sentados ao redor de uma mesa de plástico, em grupos de quatro, após terem sido avisados de que teriam que fazer a prova no local. A candidata que grava a situação protesta: “Estamos sem sala. Colocaram a gente para fazer em grupo, tá certo isso? Prova coletiva”, diz. "Na cantina está cheio de gente fazendo prova", responde uma das candidatas que aparecem na filmagem.

O fato ocorreu na Faculdade Santo Antônio, em Alagoinhas. A contadora Flávia Vasconcelos, 32, foi uma das pessoas afetadas com a confusão. Ela contou ao CORREIO que duas salas que iriam funcionar para o concurso estavam fechadas e que os participantes acabaram ficando sem cadeiras para fazer a prova.

A situação foi regularizada apenas às 9h30, 1h30 depois do início oficial, marcado para as 8h. “Mandaram a gente aguardar porque eles iriam providenciar cadeiras. Só que isso não aconteceu. A coordenação nos colocou em uma sala com cabines na lateral e várias mesas com quatro cadeiras que eles disponibilizaram para que fizéssemos a prova, só que nós unimos e não aceitamos isso”, contou.

O grupo resolveu chamar a polícia para registrar a situação. Apenas às 9h30 uma sala foi providenciada para que as pessoas pudessem iniciar o concurso.

A técnica em enfermagem Queithiane Ramos, 31, e seu marido fizeram a prova no Centro Territorial de Educação Profissional (Cetep), em Alagoinhas. Ela conta que a primeira irregularidade que reparou foi o material fornecido para colocar os pertences pessoais proibidos, como celular, que era transparente e sem lacre.

“Era o mesmo saco que usamos para colocar verduras em supermercados. Não tinha como fechar nada. Depois pedi para ir ao banheiro e, para minha surpresa, não fui revistada e nem passei em detector de metais. Se eu tivesse com um segundo celular, poderia usar lá dentro. Ainda vi várias pessoas de salas diferentes que foram ao banheiro ao mesmo tempo”, contou.

Uma das participantes, que preferiu não se identificar, afirmou que viu um dos candidatos escondendo um celular na cueca durante a prova e pedindo para ir ao banheiro. Ela afirmou que ficou receosa de denunciar por medo de represálias.

Cerca de cem candidatos que foram atingidos com as irregularidades criaram um grupo no WhatsApp para organizar ações contra a continuidade do concurso. Eles discutiam a possibilidade de abrir uma ação na Justiça e ir pessoalmente ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciar o caso. Alguns membros já acionaram o MP através da denúncia online.

A prefeitura de Alagoinhas abriu 505 vagas, sendo 97 para contratação imediata e outras 408 para formação de cadastro reserva. A taxa de inscrição custou R$ 44 para os cargos de nível médio e R$ 58 para nível superior. Os salários iniciais variam entre R$ 1.198,47 e R$ 2.715,63.