Preocupação com população durante pandemia é atrativo para turistas no futuro

Especialistas dizem que visitantes vão priorizar locais que controlaram a covid-19

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 17 de setembro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Os cuidados demonstrados pela administração pública em Salvador e em outros destinos turísticos da Bahia vão fazer a diferença quando todas as atrações estiverem disponíveis normalmente. Após um longo período ser viajar, o processo natural é que os turistas priorizem os locais que se destacaram pelo cuidado em relação à saúde da população. Até lá, os esforços devem ser concentrados no fortalecimento do turismo regional, apontaram especialistas do setor durante a segunda edição do Agenda Bahia ao Vivo realizada ontem. 

A empresária Cheiko Aoki, fundadora  e Presidente do Blue Tree Hotels, destacou a importância de se conseguir fazer um trabalho consistente no turismo. “Trabalhar com consistência é sempre algo fundamental. É muito importante que todo viajante tenha a confiança para sair de sua casa, principalmente numa fase como esta que estamos vivendo”, avaliou. 

Para a empresária,  trade turístico e as autoridades públicas relacionadas com a atividade precisam  se voltar cada vez mais para o público interno. “Tem uma regra que eu acho que será muito importante agora e no futuro pós-pandemia. É preciso pensar e fazer coisas que sejam boas para os baianos porque se os baianos gostarem, que for à Bahia certamente gostará”, acredita. 

Cheiko destacou a diversidade de atrativos que o estado tem para oferecer. Citou o cacau, produzido sobretudo no Sul da Bahia e que é bastante consumido no Japão. “O Japão tem o melhor do mundo, mas a origem é o cacau da Bahia. Vamos explorar todas as coisas boas que a Bahia tem, principalmente o baiano”, sugere. 

Fernando Botelho, diretor de Marketing da Expedia para a América Latina, explica que o aumento nas buscas por Salvador na empresa de viagens é um sinal claro de como o destino é desejado pelos viajantes. “É interessante ver como Salvador aparece nas buscas online. Isso tem acontecido muito em destinos de praia, mas há uma tendência clara muito favorável a Salvador”, destaca. 

Botelho diz ainda que as buscas indicam uma tendência de fortalecimento no turismo regional, algo natural dadas as limitações atuais para o uso do transporte aéreo. No caso de  “No ano passado, Salvador disputava as buscas aqui no Brasil com vários destinos internacionais, mas atualmente só Orlando e Nova York aparecem nas buscas junto com a cidade. Isso indica claramente que as pessoas estão pensando em viajar mais por aqui pelo país”, acredita. 

O criador do site Viaje na Viagem, Ricardo Freire, acredita que a imensa costa da Bahia banhada pelo mar faz da Bahia um destino preferencial para boa parte dos brasileiros. Ele mesmo faz planos de curtir Trancoso, no Sul do estado, durante as suas férias em novembro. “Ia em maio, precisei adiar e irei no meio de novembro passar quatro dias lá”, conta. “Uma praia na Bahia é uma de minhas primeiras recomendações para quem está saindo da quarentena. O litoral é enorme e eu acho que muita gente vai viajar de carro”, avalia. 

A costa mais ao Sul de Salvador está próxima de estados da região Sudeste, como Minas Gerais que é grande emissor de turistas para a Bahia. Ele lembra que o Centro-Oeste está próximo de diversas atrações do interior baiano, enquanto moradores de outros estados nordestinos também podem acessar o estado de carro.  “Eu acho que dá para atrair também o nordestino porque pessoas vão fazer viagens mais longas. No lugar de passar 20 dias no exterior, por que não uma viagem de 20 dias de carro por outros estados nordestinos? Isso abre possibilidades para a Bahia”, destaca. 

No mercado de eventos corporativos, o esforço que está sendo realizado é no sentido de manter refrescada a memória dos responsável pela escolha dos destinos, explicou Damien Timperio, CEO da GL Events, empresa responsável pela gestão do Centro de Convenções de Salvador. “Temos uma infraestrutura incrível, mas é importante manter um trabalho de marketing do destino. Salvador tem como diferencial a possibilidade de reunir negócios e lazer”.

Pandemia vai levar simplicidade para setor de eventos Ao mesmo tempo em que a pandemia do novo coronavírus provocou um aumento no uso de tecnologias de comunicação, o distanciamento está fazendo as pessoas desejarem o contato presencial, acredita Damien Timperio, CEO da GL Events, empresa que administra o Centro de Convenções de Salvador. 

“Gostaria de receber vocês no novo Centro de Convenções de Salvador, mas infelizmente a pandemia não deixou. Espero que no ano que vem possamos nos juntar lá”, destacou. “Eu acredito que essa pandemia acelerou as tendências que já existiam. As tecnologias passaram a ser usadas de uma maneira mais intensa”, explica, ressaltando entretanto que o momento mais alto será o encontro. “A pandemia está mostrando na verdade a importância da presença física”. 

Ele acredita que parte dos eventos que se realizavam de maneira presencial antes devem continuar a ser realizados virtualmente ou mesmo de maneira híbrida. “Vai haver uma mudança, racionalização dos tipos de eventos. Alguns vão deixar de existir. O que puder ser mais simples, será. Porém vai haver muito mais vontade por parte das pessoas de se encontraram em eventos mais relevantes”, acredita. “A interação física traz uma confiança que a digital ainda não oferece”. 

Timperio explica que o setor de eventos já tem larga expertise no uso de dados como uma ferramenta para melhorar a qualidade da experiência dos visitantes. “A gente já analisa uma série de coisas, como históricos de permanência, os locais que as pessas visitam numa exposição, de onde elas são, entre outras coisas. Hoje conseguimos ter conhecimento prévio da razão da visita e isso abre a possibilidade de oferecer uma série de serviços, inclusive em parceria com o poder público”, afirma. 

Um exemplo disso é a da Bienal do Livro, que a GL Events realiza no Rio de Janeiro e predente começar a fazer também em Salvador, assim que as condições de saúde pública permitirem. “Com o histórico de permanência das pessoas, o tempo de deslocamento, nós conseguimos  oferecer algumas orientações que ajudam o nosso público em em relação a horários de chegada”, conta. Para administrar o fluxo de pessoas, ele diz que a empresa consegue oferecer um custo de estacionamento menor em horários menos disputados, exemplifica. “Usamos a tecnologia para oferecer conteúdo customizado”.

Turismo tem de lidar com 5 novos perfis de clientes Ricardo Freire, editor do site Viaje na Viagem e colunista da Bandnews FM, falou sobre os diferentes perfis de viajantes que surgiram durante a pandemia. No último mês de junho, ele fez uma pesquisa com o público do Viaje na Viagem e identificou cinco tipos. 

Segundo ele, 26% estão entre os chamados abstinentes, que só pretendem viajar após o surgimento de uma vacina ou num cenário de fim da pandemia. A maior parte do público, 46% se enquadram entre os chamados ressabiado, que admitem as viagens quando a situação estiver controlada. Outros 19% são os desconfinados, que já saíram de casa por conta do trabalho e já estão reaprendendo a viver com as novas regras, inclusive para os deslocamentos. Outro perfil seria o dos fugitivos, que representa as pessoas que querem trocar a quarentena em casa pelo confinamento em um lugar diferente e responde por 7% do total. Por fim, ele falou sobre os tô-nem-aíners, que representa a parcela da população que nega a pandemia. “Cada uma dessas pessoas demanda um tratamento específico de quem trabalha com o turismo”, explica. 

Fernando Botelho,  diretor de Marketing da Expedia para a América Latina, recomenda que as empresas do setor se mantenham cada vez mais atentas às necessidades dos consumidores. Segundo ele, o trabalho com dados é fundamental para o sucesso do turismo atualmente. Cada vez mais os dispositivos móveis estão ganhando importância no processo de atendimento ao cliente. 

Uma outra mudança necessária, recomenda está na ampliação do foco no atendimento das necessidades dos viajantes antes, durante e depois da prestação do serviço. “A gente precisa participar de toda a jornada do consumidor. Participar só de uma etapa não é mais suficiente. É preciso fazer mais”, afirma.  

“Os millenium e a geração Z são resilientes e acreditam que o momento pode ajudar mudança nos processos de mudanças. Esse é um público que apoia empresas que tem valores parecidos com os deles. Existem também uma tendência de valorizar empresas locais e penalizar empresas que ferem seus valores”, afirma.

Cheiko Aoki acredita que o futuro do turismo ainda é bastante promissor. “Quando isso tudo passar, todos os países estarão se abrindo para o turismo, então nossa concorrência não será o Brasil, ou a Bahia, será o mundo inteiro”, destaca.

Como atender cada um Os abstinentes Este é um público que deve ser visto como uma “poupança”, recomenda Ricardo Freire, editor do Viaje na Viagem. “Não deve ser importunado agora”, diz.

Os desconfinados “A máscara já se tornou algo normal para este público”, destaca Freire. É um grupo que tende a crescer à medida que a abertura das cidades avance. 

Os fugitivos  É aquele grupo que quer passar o período em isolamento, mas fora de sua casa. “É um grupo pequeno, mas que traz boas oportunidades para o turismo”, diz Freire.

Os ressabiados Para Ricardo Freire, este deve ser o principal alvo dos esforços de comunicação. “Querem viajar, mas só após as coisas estarem controladas”, explica.

Os tô-nem-aíners  É um público perigoso porque tende a desrespeitar as regras de segurança e causar problemas para o destino, diz Freire. “Essas pessoas precisam ser educadas”.

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