Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 21 de fevereiro de 2022 às 22:09
- Atualizado há 2 anos
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez um pronunciamento nesta segunda-feira, 21, ao país relativo à recente crise envolvendo a Rússia. "Não vamos dar nada a ninguém", afirmou o líder, dizendo que "estamos na nossa própria terra". Segundo Zelensky, "não temos medo de ninguém nem de nada" e a verdade está do seu lado. De acordo com o presidente, o objetivo é a paz na Ucrânia. O líder mencionou ainda uma série de contatos realizados hoje com líderes globais. Entre eles, as conversas com o presidente da França, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Sholz, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o presidente da Turquia, Recep Erdogan.>
Militares russos>
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou o envio de "tropas de paz" para Donetsk e Lugansk, duas províncias separatistas no leste da Ucrânia, pouco depois de tê-las reconhecido como países independentes.>
De acordo com dois decretos assinados pelo líder russo, os militares irão "garantir a paz" nos territórios até a assinatura de acordos de Amizade, Cooperação e Ajuda Mútua entre Donetsk e Lugansk e Moscou.>
O movimento, no entanto, pode ser usado para justificar um ataque russo nessas áreas. Mais cedo, os líderes das duas regiões haviam pedido a Putin reconhecimento e assistência militar, o que pode abrir brechas para uma intervenção militar "legal". Em discurso televisionado nesta segunda-feira, o mesmo em que anunciou o reconhecimento da independência, Putin acusou a Ucrânia de "genocídio" contra as regiões. Autoridades russas afirmam que Kiev teria planejado ataques militares intensificados nos territórios, o que a Ucrânia nega.>
O reconhecimento dos territórios viola o acordo de paz de Minsk de 2015, que foi desenvolvido para restaurar as regiões separatistas ao controle da Ucrânia, mas nunca foi implementado.>
Ainda não está claro se essas tropas permanecerão no território já controlado pelos rebeldes ou avançarão para locais dessas províncias sob controle do Exército ucraniano. >
Entenda a crise A decisão de Putin é o último desdobramento de uma crise que dura três meses, mas que tem suas origens no fim da Guerra Fria. Com o colapso dos regimes comunistas no Leste Europeu, a aliança militar entre europeus e americanos avançou rumo a leste, com países que antes eram da esfera soviética passando à zona de influência ocidental. >
Com a ascensão de Putin ao poder na Rússia, em 2000, lentamente começou uma reação russa no sentido de conter essa expansão para o leste. Isso ocorreu porque, para Putin, é fundamental uma espécie de 'zona-tampão' entre a Rússia e o Ocidente para a defesa estratégica de seu país.>
Diante disso, primeiro, o Kremlin trabalhou para desestabilizar governos pró-Ocidente na Ucrânia e no Caucaso, ainda na primeira década deste século. A partir de 2007, a preocupação de Putin com o avanço da Otan o levou a operações militares contra a Geórgia, em 2008, e contra a Ucrânia, com a anexação da Crimeia em 2014. >
Em 2021, o presidente russo voltou a se queixar da presença da Otan no leste europeu e da intenção da Ucrânia de se juntar ao bloco. Isso ocorreu em paralelo a duas trocas de comando importantes em países do Ocidente. Nos Estados Unidos, Joe Biden substituiu Donald Trump, e na Alemanha, Olaf Scholz sucedeu Angela Merkel. >
Desde novembro, Putin reúne milhares de militares russos nas fronteiras norte e leste da Ucrânia e navios de guerra no Mar Negro. A Otan teme uma invasão da Ucrânia, algo que Putin ainda não decidiu. A pressão militar, no entanto, obrigaria os aliados ou a aceitar uma presença russa cada vez maior no país ou retaliar - com sanções ou militarmente. >
Pedidos de reconhecimento Desde antes da reunião do conselho russo, os líderes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk fizeram um pedido para que o Kremlin reconheça ambas como Estados independentes. Os pedidos foram exibidos em mensagens de vídeo gravadas e exibidas pelo canal de televisão estatal Rússia 24.>
"Em nome de todos os povos da República Popular de Donetsk (RPD), pedimos que reconheça a República Popular de Donetsk como um Estado independente, democrático, social e de Direito", disse Denis Pushilin, líder dos separatistas da região.>
"Estimado Vladimir Vladimirovich [segundo nome de Putin], com o fim de impedir a morte massiva dos habitantes da república, peço que reconheça a soberania e a independência da República Popular de Luhansk", disse Leonid Pasechnik, pedindo também que o líder russo estude a possibilidade de firmar um tratado de cooperação de amizade entre Rússia e a RPL.>
O Kremlin inicialmente sinalizou sua relutância em reconhecer as regiões como independentes, argumentando que isso efetivamente quebraria um acordo de paz de 2015 para o Leste da Ucrânia que marcou um grande golpe diplomático para Moscou, exigindo que as autoridades ucranianas oferecessem um “autogoverno” às regiões rebeldes. Mas Putin argumentou na segunda-feira que as autoridades ucranianas não mostraram interesse em implementar o acordo.>
Tentativas diplomáticas A reunião do órgão de segurança russo ocorre depois que Macron costurou um encontro entre os presidentes dos EUA e da Rússia, em um último esforço para evitar uma possível invasão da Ucrânia. O Kremlin nega que a reunião já esteja marcada.>
O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que o governo sempre esteve pronto para conversar para evitar uma guerra – mas também estava preparado para responder a qualquer ataque.>
“Então, quando o presidente Macron perguntou ao presidente Biden no domingo se ele estava preparado em princípio para se encontrar com o presidente Putin, se a Rússia não invadisse, é claro que o presidente Biden disse que sim”, disse ele ao programa “Today” da NBC na segunda-feira. “Mas todas as indicações que vemos no terreno agora em termos da disposição das forças russas é que elas estão, de fato, se preparando para um grande ataque à Ucrânia.”>
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse a repórteres na segunda-feira que Putin e Biden podem se encontrar se considerarem "viável", mas enfatizou que “é prematuro falar sobre planos específicos para uma cúpula”.O gabinete de Macron disse que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, devem estabelecer as bases para a possível cúpula quando se reunirem na quinta-feira. O líder francês tem tentado agir como intermediário para evitar uma nova guerra na Europa, e seu anúncio seguiu uma enxurrada de ligações de Macron para Putin, Biden, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e o presidente ucraniano Volodmir Zelenski.>
Tensões crescentes Mesmo enquanto a diplomacia avançava, havia sinais de escalada no conflito mais amplo. A Rússia e sua aliada Belarus anunciaram no domingo que estavam estendendo a permanência das tropas russas em solo belarusso e os exercícios militares no país, o que poderia servir de palco para um ataque à capital ucraniana, Kiev, localizada a apenas 75 quilômetros ao sul da fronteira de Belarus.>
A partir de quinta-feira, os bombardeios também aumentaram ao longo da tensa linha de contato que separa as forças ucranianas e os rebeldes separatistas apoiados pela Rússia na região do Donbass, no Leste da Ucrânia. Mais de 14.000 pessoas foram mortas desde que o conflito eclodiu em 2014, logo após Moscou anexar a Península da Crimeia na Ucrânia.>
A Ucrânia e os rebeldes separatistas trocaram acusações pelas violações em massa do cessar-fogo com centenas de explosões registradas diariamente. O mundo está assistindo os combates com cautela desde que as autoridades ocidentais alertaram há semanas que a Rússia procuraria um pretexto para invadir – e que o conflito em Donbass poderia fornecer essa desculpa para uma invasão.>
Na sexta-feira, autoridades separatistas anunciaram a retirada de civis, mais de 14 mil já foram retirados, e a mobilização militar diante do que descreveram como uma “iminente ofensiva ucraniana nas regiões rebeldes”. Autoridades ucranianas negaram quaisquer planos de lançar um ataque.>
Embora os separatistas apoiados pela Rússia tenham acusado as forças ucranianas de atirar em áreas residenciais, jornalistas da Associated Press que reportaram de várias cidades e vilarejos em território ucraniano ao longo da linha de contato não testemunharam nenhuma escalada do lado ucraniano e documentaram sinais de bombardeios intensificados pelos separatistas que destruíram casas e estradas.>
Alguns moradores da principal cidade de Donetsk, controlada pelos rebeldes, descreveram bombardeios esporádicos das forças ucranianas, mas acrescentaram que não foi na mesma escala do conflito de quase 8 anos no Leste.>
As autoridades separatistas disseram na segunda-feira que pelo menos quatro civis foram mortos por bombardeios ucranianos nas últimas 24 horas e vários outros ficaram feridos. Os militares da Ucrânia disseram que dois soldados ucranianos foram mortos no fim de semana e outro militar foi ferido na segunda-feira.>
O porta-voz militar ucraniano, Pavlo Kovalchiuk, disse que os separatistas estavam “atirando de áreas residenciais usando civis como escudos”. Ele insistiu que as forças ucranianas não estavam respondendo ao fogo.>
Em outro sinal preocupante, Moscou também alegou que forças da Ucrânia cruzaram a região russa de Rostov. Os militares russos disseram que mataram cinco suspeitos de serem “sabotadores” que cruzaram a fronteira da Ucrânia e também destruíram dois veículos blindados. O porta-voz da Guarda de Fronteira ucraniana, Andrii Demchenko, descartou a alegação russa como “desinformação”.>
Em meio aos crescentes temores de invasão, o governo dos EUA enviou uma carta ao chefe de direitos humanos das Nações Unidas alegando que Moscou compilou uma lista de ucranianos a serem mortos ou enviados para campos de detenção após a invasão. A carta, noticiada pela primeira vez pelo The New York Times, foi obtida pela AP.>
Peskov, o porta-voz do Kremlin, disse que a alegação era uma mentira e que essa lista não existe.>
Ao longo da crise, os líderes da Ucrânia procuraram projetar calma – repetidamente minimizando a ameaça de uma invasão.>
O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, disse na segunda-feira que a Rússia reuniu 147.000 soldados ao redor da Ucrânia, incluindo 9.000 em Belarus, argumentando que o número é claramente insuficiente para uma ofensiva na capital ucraniana.>
"A conversa sobre um ataque a Kiev do lado belarusso parece ridícula", disse ele, acusando a Rússia de usar as tropas de lá como uma tática de medo.>
O principal diplomata da União Europeia, o chefe de política externa Josep Borrell, saudou a perspectiva de uma cúpula Biden-Putin, mas disse que o bloco de 27 países finalizou seu pacote de sanções para uso se Putin ordenar uma invasão.>
“O trabalho está feito. Estamos prontos”, disse Borrell. Ele não forneceu detalhes sobre quem pode ser o alvo.>
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse na segunda-feira que a União Europeia também concordou em enviar oficiais militares ao país em um papel consultivo. É provável que leve vários meses para configurar.>