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Preta, do Nordeste de Amaralina e reconhecida pela Forbes

A baiana Monique Evelle é uma referência em criatividade e empreendedorismo no Brasil

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 4 de outubro de 2021 às 06:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: divulgação

De uns três anos pra cá, a baiana Monique Evelle, 27 anos, começou a aparecer com muita frequência na mídia e hoje é apontada como uma referência em empreendedorismo e criatividade. Já em 2017, ela entrou para a Under 30, lista criada pela revista Forbes, que apontava os maiores talentos brasileiros com menos de 30 anos de idade.

Monique é hoje sócia de duas empresas: a Sharp, um hub de inteligência cultural; e Inventivos, uma plataforma de formação de empreendedores. É também consultora de inovação do Nubank e participa da implantação do Nulab em Salvador, que será um centro de formação de programadores ligado àquele banco."A chegada do Nulab a Salvador representa o início do contato com a região Nordeste", celebra. E foi isso que a trouxe de volta para a capital baiana, depois de um tempo morando em São Paulo.Acesse o CORREIO AFRO aqui

Mesmo com tantas atribuições, ela ainda arruma tempo para apresentar o podcast Caminhos Intuitivos, do Globoplay, que estreou em agosto. Ali, ela recebe convidados para falar sobre empreendedorismo. E, se o convidado tiver relação com música, melhor ainda, já que essa é uma paixão de Monique. "Um talento subutilizado", diz ela. Majur e Emicida participaram das primeiras edições. O podcast é também uma maneira de se reaproximar da comunicação, experiência que ela teve por um ano e meio, quando integrou a equipe do Profissão Repórter, da Globo.

Mas, como a própria Monique diz, ela não "brotou" de uma hora pra outra. Negra e criada no Nordeste de Amaralina - "Sou nordestina duas vezes", diz, com orgulho -, a filha de Neuza e Ari precisou superar preconceitos e começou a trabalhar cedo, como jovem aprendiz, num atacadão. "Passava o dia colocando um arquivo empoeirado em ordem alfabética ou enrolando papelzinho", lembra-se, sem nenhuma saudade.

Embora tivesse uma vida simples, trabalhava porque queria sua independência financeira, mas não por necessidade para reforçar no orçamento da casa. O pai, chefe de segurança, conseguia sustentar a família, enquanto a mãe dava conta do lar.

Foi também estagiária da Câmara de Vereadores, o que a fez conhecer os bastidores da política. Mas o seu espírito empreendedor e de liderança começou a ser revelado quando estava no ensino médio, na escola estadual Thales de Azevedo, no Costa Azul. Foi ali que Monique criou o Desabafo Social, que começou como uma ONG e, mais tarde, tornou-se "um laboratório de tecnologias sociais aplicadas à geração de renda e comunicação", de acordo com a empreendedora. Embora continue ligada ao Desabafo, Monique passou a gestão para Thais Machado. No Desabafo, que ela fundou aos 16 anos, ela começou seu ativismo social e sua aproximação de lideranças negras como a socióloga Vilma Reis."Foi a partir disso que comecei a acompanhar pessoas que admiro até hoje e a partir dali fiquei próxima dos movimentos sociais. O Desabafo Social nasceu como grêmio estudantil para pautar questões sociais e de gênero", observa.Com aquele envolvimento precoce nos movimentos sociais, a tendência daquela adolescente era fazer uma faculdade na área de ciência humanas, não é? Mas, como Monique gosta de surpreender, resolveu estudar engenharia ambiental. Multitalentosa, ela também era boa com os números. Não passou sequer seis meses no curso. Enquanto fazia uma palestra para o Desabafo, se perguntou o que fazia naquela faculdade. Na mesma hora, telefonou para os pais e comunicou a decisão de abandonar engenharia, na Ufba.

Logo depois, já estava no curso de direito. "Descobri que queria ser procuradora. Mas me dei conta que procurador tem que ser indicado pelo Presidente da República. E, como o Brasil tem corrupção... 'corta'!". Começou a buscar alternativa aos cursos tradicionais e descobriu o Bacharelado Interdisciplinar (BI) em Humanidades, na Ufba. "Tenho o maior orgulho de falar sobre ele porque na época que eu resolvi cursar, me diziam que BI era para quem não era suficientemente inteligente e ouvia isso de meus colegas que estuavam medicina, engenharia... Mas qual era o problema de fazer o BI?", questiona.

Mesmo se dividindo com o Desabafo, deu um jeito de terminar o BI, como lembra Monique:"Confesso, não 'vivi' a universidade. Eu vivi aquilo: tinha que entregar [as avaliações], virava a noite, pegava voo de madrugada pra dar tempo de entregar trabalhos... pra chegar no horário da aula. E a partir disso, as coisas começaram a mudar".Monique aponta um outro fator que foi muito importante para mudar sua vida: a decisão de deixar o Profissão Repórter. O que podia parecer para muitos um passo para trás foi, para ela, algo positivo. "A longo prazo, não me via fazendo jornalismo investigativo, embora aquele seja um programa incrível! Mas eu queria ser reconhecida como uma pessoa por trás de negócios que geram impacto positivo", explica.

Pouco depois do pedido de demissão, surgiu a chance de se tornar sócia da Sharp, oportunidade que ela aproveitou. "Fiquei na operação um tempo e não queria aquele dia a dia. Preciso de um momento de ócio para criar. Agora, sou sócia investidora da empresa, mais de sessenta pessoas trabalhando... eram cinco. Hoje, fico no conselho da empresa".

Mesmo tendo superado as dificuldades que enfrentou por ser negra e moradora de um bairro muito associado à violência - além de não ter desfrutado dos privilégios de uma jovem de classe média -, Monique não é daquelas que acha que basta ter força de vontade e confiança para chegar onde chegou."Tem um papo de que as empresas vão fazer tudo e resolver [os problemas sociais]. É mentira!", diz, com ênfase. As startups e grandes empresas não têm que fazer todos os trabalhos do direito constitucional. O Estado tem que garantir os direitos básicos. E ponto!".Mesmo rodando o mundo - enquanto falava com o CORREIO, Monique estava em Austin, nos EUA, em reuniões de negócio -, a empreendedora não esquece suas origens e, por isso, tem um olhar ainda especial voltado para negros jovens e da periferia, de origem igual à dela: "Sou uma pessoa preta, nasci em periferia. Não é porque eu não moro mais lá que não sou uma pessoa periférica. Também não sou 'Corredor da Vitória', né? Faço vários tipos de campanha, para diversos públicos, mas tenho muito mais tesão se for para o público que realmente quero atingir, que é o público negro e periférico".