PRFs que participaram da morte de Genivaldo têm nomes confirmados por reportagem

Durante a abordagem, a vítima foi xingada, agredida, imobilizada e, por fim, sufocada no porta-malas da viatura

  • D
  • Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2022 às 09:10

. Crédito: Reprodução/TV Globo

O nome de três policiais rodoviários federais que participaram da abordagem que matou Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, na cidade de Ubaúba, em Sergipe, foram confirmados neste domingo (29) pelo Fantástico. A imagem de dois deles também foram divulgadas. São Kleber Nascimento Freitas, Paulo Rodolpho Lima Nascimento e William de Barros Noia. Os agentes foram afastados pela PRF e estão sendo investigados em um procedimento administrativo disciplinar.

Genivaldo fazia acompanhamento psiquiátrico. Durante a abordagem, foi xingado, agredido, imobilizado e, por fim, sufocado no porta-malas da viatura com uma bomba de gás lacrimogênio lançada no compartimento fechado. O caso gerou comoção nacional e ganhou as páginas da imprensa internacional. 

Genivaldo foi parado pelos policiais por estar dirigindo uma moto sem capacete. Fora da moto, ele é revistado enquanto ouve palavras de ordem. Um agente se aproxima e aplica gás de pimenta no rosto de Genivaldo. Ele consegue se soltar, mas os policiais ordenam que se deite no chão.

A abordagem continuou no meio da pista. Os policiais prendem as mãos e tentam prender os pés de Genivaldo. Na tentativa de imobilização, os policiais tentam usar a técnica conhecida como mata-leão, já abandonada por forças policiais mundo afora e também no Brasil. Eles pressionam com os joelhos o pescoço e o peito de Genivaldo, que parece dominado. Os agentes decidem colocá-lo na viatura. Com as pernas, Genivaldo impede o fechamento da porta traseira.

Um dos policiais joga um dispositivo dentro do porta-malas. A fumaça de gás lacrimogêneo surge e, por mais de um minuto, eles continuam pressionando a porta. O caso aconteceu na última quarta-feira (25). 

Na quarta-feira, a PRF chegou a dizer em nota que os agentes empregaram "técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo". Após a repercussão do caso, a polícia divulgou um vídeo com uma mudança de posicionamento sobre o caso.

“Assistimos com indignação os fatos ocorridos na cidade de Umbaúba, em Sergipe, em que uma ação envolvendo policiais rodoviários federais resultou na morte do senhor Genivaldo de Jesus Santos. Não compactuamos com as medidas adotadas durante a abordagem ao senhor Genivaldo. Os procedimentos vistos durante a ação não estão de acordo com as diretrizes expressas em cursos e manuais da nossa instituição”, disse Marco Territo, coordenador geral de comunicação institucional da PRF.

A OAB cobra prisão cautelar dos envolvidos e a ONU pediu uma "investigação célere e completa" do caso. A investigação em Umbaúba é feita pela Polícia Federal, que mandou peritos de Brasília. A Polícia Federal tem 30 dias para concluir a investigação.

Procedimento recorrente Uma investigação jornalística Também feita pelo Fantástico revelou que o procedimento que matou Genivaldo não é um caso isolado. A reportagem encontrou sentenças judiciais com relatos de 18 homens que receberam gás de pimenta confinados em viaturas de diferentes forças policiais. São casos ocorridos nos últimos 12 anos, em seis estados, envolvendo suspeitos que foram detidos por diferentes acusações.

“Eu estava algemado para trás, ele abriu a porta de trás do chiqueirinho e encheu de pimenta na minha cara. Me ameaçavam, que eles iam me matar, que eles iam me matar. Eu me arrepiei todo a hora que eu vi esse vídeo do Genivaldo, porque pra mim foi um filme que passou na minha cabeça”, conta uma das vítimas.

Há outros depoimentos de suspeitos que quebraram as janelas das viaturas para conseguir respirar. alguns deles chegaram a quebrar o vidro com a cabeça, mas nenhum deles casos envolveu gás lacrimogêneo, que é ainda mais perigoso, como o caso de Genivaldo.