Moa foi morto com 12 facadas (Foto: Reprodução) |
O rodoviário Germínio do Amor Divino Pereira, 51 anos, mal poderia imaginar que uma habitual parada num bar perto de casa, na comunidade do Dique Pequeno, no Engenho Velho de Brotas, lhe renderia uma facada no braço e a morte de seu primo, o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, 63, o Moa do Katendê - esfaqueado 12 vezes após uma discussão sobre política.
Era finalzinho da noite do último domingo (7), 1º turno das eleições, por volta de 23h30, quando o rodoviário passou pelo Bar do João - um amigo da família -, e avistou os primos, Moa e Reginaldo Rosário da Costa, 68, sentados, tomando cerveja. "Decidi parar lá". Segundo Germínio, o assassino confesso do primo, o barbeiro Paulo Sérgio Ferreira de Santana, 36, que teve a prisão preventiva decretada na tarde desta terça-feira (9), já estava lá quando ele chegou.
Conforme informações da Polícia Civil, a morte do artista foi resultado de uma discussão em que Moa se posicionou contra Jair Bolsonaro, candidato à Presidência pelo PSL. "Meu tio só fez falar: 'você é negro, tem que votar em partido que defenda a causa da gente. Somos negros e temos que lutar por isso, em alguém que pense nos negros, nos baianos'".
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O rodoviário descreve Paulo Sérgio, que saiu do bar e voltou ao local com uma faca cerca de dez minutos depois, como uma pessoa "fria e calculista". Já armado, o barbeiro atacou Moa do Katendê 12 vezes. Na tentativa de livrar o primo, Germínio acabou esfaqueado no braço direito. "Senti meu sangue descer e ouvia o irmão mais velho de Moa gritando: 'meu irmão, meu irmão'", lamentou.
A decisão de manter o barbeiro preso foi do juiz Horácio Pinheiro, ao considerar que havia "prova de existência do crime" e "indício suficiente de autoria", durante audiência de custódia. O assassino confesso será encaminhado para o sistema prisional, onde vai aguardar o julgamento.
De acordo com a responsável pelas investigações do caso, a delegada Milena Calmon, o caso está totalmente esclarecido. Testemunha, o dono do estabelecimento onde aconteceu o assassinato, amigo de Moa, foi ouvido nesta terça. "Ele confirmou que vítima e autor se desentenderam após discordarem politicamente. Confirmamos que os dois tiveram uma discussão calorosa".
Ainda segundo a delegada, a faca utilizada no crime foi encontrada escondida na casa de Paulo Sérgio. "A mulher dele autorizou e os policiais acharam a arma em uma parede escondida dentro do banheiro. "A esposa disse que ele entrou transtornado e falou: 'ele tá pensando que eu sou otário? Vou mostrar a ele que não sou otário'. Ela disse que ele pegou a faca e ela não teve como sair atrás, pois já estava vestida para dormir", afirmou à reportagem.
Depois de pouco mais de um dia internado no Hospital Geral do Estado (HGE), Germínio teve alta nesta terça-feira (9) e, com exclusividade, contou ao CORREIO sobre a noite em que os primos, sentados, apenas discutiam "projetos para o futuro".