Produção de commodities minerais vai gerar emprego e renda

Crescimento depende de logística eficiente

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  • Georgina Maynart

Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

O valor da Produção Mineral Baiana alcançou R$ 3,2 bilhões de reais este ano. O montante é 5% maior do que no ano passado segundo a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). 

Os números referentes ao mercado externo também são positivos. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), de janeiro a outubro de 2019, a exportação de produtos minerais gerou para a balança comercial do estado cerca de US$ 620 milhões de dólares.  

E a tendência é de crescimento no próximo ano, é que tem mais gente pesquisando os minérios da Bahia. O número de empresas que atuam na produção mineral no estado aumentou 2,56% em relação a 2018 e chegou a 390 mineradoras. Estas empresas geraram 15.684 empregos diretos, segundo o IBGE.

As projeções seriam ainda mais otimistas não fossem as barreiras que atrapalham o desenvolvimento do setor e dificultam a captação de novos investimentos. Afinal, não basta ter uma mina.

A infraestrutura é crucial. Com preços cada vez mais competitivos no mercado internacional de commodities, qualquer item a mais no custo de produção pode inviabilizar o negócio. É por este motivo que vários projetos de mineração na Bahia dependem da conclusão de obras estruturantes, que envolvem serviços essenciais como transporte e energia. “A Bahia graças a CBPM é o estado mais bem estudado geologicamente do Brasil. Todo o território está coberto por levantamentos aero geofísicos, que são a principal ferramenta de pesquisa mineral. Mas a infraestrutura é fundamental na mineração. Entretanto muitas vezes temos como produzir, mas não temos como escoar. Isso acaba afugentando muitos investidores”, afirma Rafael Avena, diretor técnico da CBPM. Uma das maiores expectativas é sobre a Mina Pedra de Ferro, em Caetité, no sudoeste da Bahia. A mina de concessão da Bahia Mineração (Bamin) está em fase de pré-implantação. De acordo com a mineradora, o projeto integra alta tecnologia, segurança e qualidade. Quando estiver em operação devem ser produzidas 18 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Um volume suficiente para elevar a Bahia a terceiro maior produtor do país. Mas o projeto iniciado em 2013, depende da construção da Fiol e do Porto Sul para tornar viável o transporte e o escoamento do minério. 

O Porto Sul está sendo construído pela Bamin em parceria com o governo do estado, através de uma sociedade de propósito específico, no distrito de Aritaguá, em Ilhéus. A estrutura deve ter uma capacidade de armazenamento de até 41 milhões de toneladas por ano. Com um calado de até 18,3 metros e 20 metros de comprimento, a obra exigirá um investimento de R$ 4 bilhões de reais. Entre as fases de implantação e operação, o porto e a mina devem gerar 12 mil empregos diretos e 70 mil indiretos na Bahia. A empresa tem um compromisso de contratar pelo menos 60% de mão de obra local. 

Além de escoar produção da Pedra de Ferro, o Porto Sul será usado de forma compartilhada para transportar minérios de outras partes da Bahia e a produção agrícola da região oeste do estado.Segundo a mineradora, o projeto criará um novo corredor logístico para o estado e para região nordeste, impulsionando novos negócios e investimentos no interior da Bahia, com geração de emprego e renda na região. 

FIOL

A outra parte fundamental do projeto, a Ferrovia Oeste Leste, começou a ser construída em 2011 e tinha prazo inicial de conclusão para 2014, mas até agora não foi finalizada. O investimento total na ferrovia já chega a R$ 5,04 bilhões de reais. “A Fiol e o Porto Sul são essenciais para a Bahia e vão abrir um nobo ciclo para a mineração. Não tem como fazer mineral pesado com carrinho de mão, tem que ter infraestrutura. Além de dinamizar a logística estas obras vão permitir a abertura de novos negócios, a criação de empregos e oportunidades de vida digna para a população que vive naquela região”, afirma Antônio Carlos Tramm, presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM).Apenas este ano foram gastos R$ 379,05 milhões de reais na ferrovia, que vem sendo considerada uma saída para dinamizar a economia dos 32 municípios por onde vai passar.

Avanço, mas em ritmo lento

Em resposta ao CORREIO, a empresa Valec Engenharia, vinculada ao Ministério da Infraestrutura, e responsável pela construção, afirmou que a obra segue em ritmo mais lento, principalmente, em decorrência de restrições orçamentárias enfrentadas pelo estado brasileiro nos últimos anos. 

A estatal disse que no trecho entre Caetité e Ilhéus, o percentual de conclusão chega a 100% em alguns pontos, e varia de 29,4% a 73,5% em outros. O objetivo é concluir este trecho da obra até dezembro de 2020. Entre Caetité e Barreiras, o percentual de conclusão varia de 38,5% a 100%, e a previsão para concluir a obra é dezembro de 2021. 

Apesar da obra ser de responsabilidade da união, em nota enviada ao CORREIO, o governo da Bahia também afirma que vem trabalhando no sentido de mobilizar e encontrar soluções para a retomada das obras por entender a importância do equipamento para o desenvolvimento do estado. Neste sentido foi realizado um estudo de viabilidade técnica e econômica que foi aprovado pelo governo federal em agosto de 2018.

“A mineração é uma das atividades econômicas que tem o maior potencial de crescimento em nosso estado. O corredor logístico, criado pela integração do Porto com a Fiol, abre um horizonte para o adensamento de cadeias produtivas não só de minérios, mas também de grãos e outras commodities”, declara Bruno Dauster, secretário da Casa Civil.

A licitação de concessão deve ser realizada até junho de 2020. Conforme memorando de entendimento assinado em 2017, o processo de licitação deve contar com a participação do consórcio chinês formado pelas empresas China Railway Group Limited (Crec), Dalian Huarui Heavy Industry Group Co.ltd (Dalian) e a China Communications Construction Company ltd (CCCC).

Sobre o Porto Sul, a Casa Civil do Governo do Estado afirmou que a obra deve ser iniciada no primeiro semestre de 2020.

O projeto possui as licenças prévias, de instalação e a autorização de supressão de vegetação. Atualmente estão sendo realizadas ações preparatórias para a construção do equipamento, como capacitação de mão de obra local e a implantação de programas ambientais, como resgate da fauna e flora. Ainda segundo a Casa Civil, em junho deste ano também foram iniciados os processos de desapropriação no local. 

“Os equipamentos fomentam o desenvolvimento socioeconômico da região Sudoeste e Sul da Bahia, gerando empregos, aumentando a arrecadação e permitindo, consequentemente, o investimento nas áreas da saúde, educação, segurança e comércio”, complementa Dauster.

Empresa depende da Fiol para produzir titânio

A única mina de pentóxido de vanádio das Américas está em plena operação na zona rural do município desde 2014.  A reserva representa 7% da produção mundial do metal e não para de render bons resultados. Este ano a produção foi ampliada de oitocentas toneladas por mês para mil toneladas por mês. 

A mina está sob a concessão da Vanádio de Maracás, empresa do grupo canadense Largo Resources. O minério é usado na produção de ligas de titânio que compõe a indústria aeroespacial. A empresa mantém 800 funcionários e vem abrindo outra janela de desenvolvimento para o município, conhecido até então pela produção de flores. Vanádio de Maracas gera cerca de 800 empregos diretos na região da Chapada Diamantina. ( Foto: Ulisses Dumas divulgação) Cerca de 47% das compras e serviços adquiridos pela mineradora são realizados com fornecedores da cidade.  Desde que se instalou na região  a empresa já investiu mais de R$ 350 milhões de reais, e se prepara para produzir ferrovanádio. A nova unidade deve ficar pronta até março de 2021.

Em entrevista ao CORREIO, o presidente da Vanádio de Maracás e CEO da Largo Resources, Paulo Misk, falou sobre a expectativa de expansão da empresa na Bahia e sobre a importância de obras de infraestrutura, como a Ferrovia Oeste Leste e o Porto Sul. Brasileiro,  Paulo Misk é CEO da Vanádio Maracás e da canadense Largo Resourses

*A Vanádio Maracás ampliou recentemente a produção. Quais as perspectivas para o futuro? Esta ampliação deve se manter constante?

O futuro será de muito trabalho, de muita determinação, de coragem para desenvolvermos o potencial de Maracás. Estou muito confiante, pois tenho ao meu lado uma equipe guerreira, competente e extremamente comprometida com o propósito da empresa. São pessoas de muito valor! Com elas, consolidamos a operação atual e ampliamos a produção de Vanádio para atender a uma demanda do mercado internacional (o mercado brasileiro corresponde a cerca de 15% da produção da VMSA). Com elas, estamos trabalhando para produzir Titânio, material que o Brasil importa, e com elas vamos desenvolver a produção de novos produtos. A Largo continua a investir em pesquisa mineral de novas áreas na Bahia sempre pensando no futuro.

* Qual o investimento será feito nesta expansão? 

O investimento da expansão para atingir 1.000 ton V2O5 por mês foi de R$80 milhões de reais e o investimento do projeto original ultrapassa R$ 1 bilhão.  Ainda estamos finalizando os estudos de investimento do projeto de Titânio. O importante é que a Largo acredita no Brasil e procura re-investir na empresa o lucro obtido com suas operações para torná-la maior e mais forte. Até hoje, nenhum centavo do lucro foi distribuído aos acionistas.     

* Como o senhor analisa o impacto da falta de infraestrutura de escoamento do estado na produção da empresa?

A operação atual gera uma quantidade grande de minério de ferro com titânio, que para ser aproveitado precisa de desenvolvimento de tecnologia para produzir ferro gusa e de melhoria na logística, que se resume à conclusão da Ferrovia Fiol, do Porto Sul em Ilhéus e do asfaltamento da estrada estadual que liga a Pé de Serra à comunidade de Porto Alegre, onde a Fiol passa. Já iniciamos o desenvolvimento da tecnologia confiando na iniciativa e determinação do governo baiano para solucionar a parte logística. Será a oportunidade de gerar mais emprego, mais renda e mais desenvolvimento no interior baiano. A Bahia tem um potencial enorme, um povo de muito valor e um interior que precisa ser desenvolvido! A infraestrutura de logística para transportar as matérias primas a um baixo custo e escoar a produção é fundamental para mudar a realidade deste interior.  A Mineração está pronta para contribuir. Precisamos assumir a mineração como um dos setores prioritários do governo para o desenvolvimento do interior baiano. Essa determinação precisa incluir licenciamentos mais ágeis para os empreendimentos e para a pesquisa mineral, cujo impacto é baixíssimo. 

* Quais estratégias usadas pela Vanádio Maracás para se manter como uma das empresas mais eficientes do mundo? Tecnologia ou gestão?

Os maiores produtores de Vanádio estão na China e na Rússia. Para ser mais eficientes que eles é necessário investir em tecnologia, inovação (que não precisa ser necessariamente só tecnológica), em gestão e, principalmente, nas pessoas. A equipe da Vanádio de Maracás/LARGO é o principal diferencial para ser competitivo mundialmente. 

* Como o senhor analisa o mercado mundial atual de vanádio? 

O mercado mundial de Vanádio nos últimos 2 anos tem sido bastante competitivo com crescimento de 24% na China e sem grandes variações na Europa e Estados Unidos. Por isso, além de aumentar a produção, a Largo tem como estratégia a excelência operacional oferecendo um produto de qualidade premium e focando em um custo operacional baixo. Precisamos ser competitivos lá fora para gerar valor aqui no Brasil.