Produção florestal tem alta histórica na Bahia e é aposta econômica no estado

Em 2020, puxado pela silvicultura, valor da produção florestal baiana voltou a crescer, após três anos de queda

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 7 de outubro de 2021 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: ABAF/Divulgação

Já ouviu falar em produção florestal? E silvicultura? Ambos os termos não são amplamente conhecidos como outras atividades econômicas tipo agricultura, pecuária e mineração. Mas as duas são muito importantes e são apostas para o futuro econômico da Bahia. De acordo com uma pesquisa do IBGE, a produção florestal baiana voltou a crescer, em 2020, após três anos seguidos de queda. Foram R$ 1,2 bi gerados no ano passado, o maior valor para a atividade desde 2017.

Esse crescimento está muito atrelado à silvicultura, palavrinha complicada que citamos no parágrafo anterior. Analista de dados do IBGE, Mariana Viveiros explica que a atividade, a grosso modo, é a criação de florestas para exploração. Ou seja: planta e extrai árvores, como se fosse uma outra cultura tipo feijão, arroz, milho. Normalmente, a atividade é realizada plantando eucalipto ou pinho. Na Bahia, só há plantações de eucaliptos, por conta do tipo de clima e solo, além da alta produtividade para uso industrial.

Todos os três produtos da silvicultura baiana tiveram crescimento de volume entre 2019 e 2020, com destaque para a lenha, cuja produção quase triplicou. São eles: lenha, madeira em tora e carvão. A Bahia também continuou, segundo o IBGE, como o 3º maior produtor de carvão da silvicultura no país. O curioso é que isso aconteceu justamente quando a área destinada para a atividade no Estado registrou a 3ª maior queda absoluta do país. "A área destinada para florestas plantadas teve uma certa redução, mas houve uma produtividade maior das áreas, um crescimento do volume produzido, porque houve uma demanda por esses produtos, que tiveram um aumento do valor em geral por conta do câmbio favorável. O real desvalorizado em relação ao dólar favoreceu a exportação de uma série de produtos da silvicultura", disse Mariana Viveiros. A produção baiana de lenha da silvicultura deu um salto no período e quase triplicou, passando de 161,5 mil metros cúbicos (m³) para 436,5 mil m³, em um crescimento de 275,0 mil m³, ou mais 170,2%, entre os dois anos. O estado apresentou o maior aumento percentual e o segundo maior crescimento absoluto, atrás apenas do registrado em Mato Grosso (mais 285,1 mil m³ entre os dois anos).

Com isso, a Bahia passou a ser o 9º maior produtor de lenha por silvicultura do país em 2020 (era o 11o no ano anterior), e o valor da produção cresceu 156,6% no período, chegando a R$18,1 milhões.

O aumento da produção de lenha da silvicultura no estado foi puxado por três municípios que não tinham registro dessa atividade em 2019 e, no ano seguinte, passaram a figurar entre os cinco maiores produtores. Jaborandi entrou no ranking estadual em 2020 já assumindo a liderança, com 197.100 m³; Planaltino estreou na 3ª posição, com 45.880 m³; e Alagoinhas também passou a fazer parte dos maiores produtores baianos, ficando em 5o lugar, com 24.967 m³.

Além desses três, os municípios de Barreiras (em 2º lugar, com 47.500 m³) e São Desidério (em 4º, com 35 mil m³) formavam, no ano passado, o top5 da produção de lenha pela silvicultura na Bahia.

A produção silvicultural baiana de madeira em tora também teve o segundo maior crescimento absoluto do país entre 2019 e 2020, passando de 11,0 milhões de m³ para 13,2 milhões de m³ (+19,9%).

O avanço de 2,2 milhões de m³ só foi inferior ao do líder nessa atividade, o Paraná (+6,9 milhões de m³, indo a 36,8 milhões de m³). A Bahia seguiu sendo o 7º maior produtor nacional de madeira em tora da silvicultura, com o valor de produção crescendo 14,2% e chegando a R$ 977 milhões.

Já a produção baiana de carvão da silvicultura chegou a 167.317 toneladas em 2020, 0,9% maior do que no ano anterior (mais 1.522t). Com isso, o estado se manteve como o 3º maior produtor nacional, abaixo de Minas Gerais (5,4 milhões de toneladas) e Mato Grosso do Sul (188.579 t).

Os três municípios baianos com maior produção de carvão da silvicultura, em 2020,foram Entre Rios (75.698t), Esplanada (41.606t) e Mata de São João (25.897t). Mesmo ficando maior, a produção baiana de carvão da silvicultura teve leve redução no seu valor, de R$81,7 milhões em 2019 para R$81,3 milhões em 2020 (-0,5%).

Vantagens ambientais Diretor da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf), Wilson Andrade explica que a silvicultura tem vantagens ambientais, principalmente porque acontecem em áreas já degradadas ou abandonadas por outras atividades econômicas, como a pecuária. Ou seja: não demanda desmatamento. Segundo o diretor, os plantios florestais também contribuem para a preservação das matas nativas.

A pesquisa sobre Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (Pevs), do IBGE, também registrou que os produtos madeireiros extraídos da natureza (de matas nativas) tiveram mais um recuo na Bahia no ano passado e isso provavelmente está relacionado com a maior produtividade dos plantios florestais. Ainda assim, a Bahia continua como o 4º maior produtor de lenha e carvão por extração no Brasil. 

Na Bahia, a silvicultura rendeu, no ano passado, R$ 1,08 bilhão, respondendo por R$ 9 em cada R$ 10 gerados pela produção florestal no estado (90,0% do total). Em relação a 2019 (R$ 944,4 milhões), houve aumento nominal de 14,0%, o que representou mais R$ 132,1 milhões. O estado seguiu com o 7º valor gerado pela silvicultura no país."Nossa atividade é de médio e longo prazo, colhemos a madeira a partir de 3 anos que é a madeira para serraria e energia. Com 7 anos, colhemos para fazer papel e celulose. E de 8 a 10 anos colhemos para fazer madeira serrada, a madeira maciça. É um setor que pode trazer investimentos de grandes investidores, mas de pequenos e médios fazendeiros. Nós incentivamos muito a integração dos pequenos na cadeia produtiva", disse Wilson Andrade.A extração vegetal baiana gerou R$ 126,4 milhões em 2020, numa queda de 2,4% em relação ao ano anterior (R$ 129,5 milhões). Apesar do recuo, a Bahia se manteve na 9ª posição no ranking nacional do valor da extração vegetal.

No Brasil como um todo, a produção primária florestal voltou a apresentar crescimento, após ter tido queda em 2019, e chegou ao valor recorde de R$ 23,5 bilhões em 2020 (+17,9% frente ao ano anterior). O incremento se deu por conta de altas tanto na extração vegetal (+6,3%, chegando a R$ 4,7 bilhões), quanto na silvicultura, que gerou R$ 18,8 bilhões em 2020, 21,3% a mais que em 2019.