Produtores criticam redução de 50% do público em eventos

Decreto que reduz máximo de espectadores de 3 mil para 1.500 pessoas entra em vigor nesta sexta-feira (21)

  • D
  • Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (divulgação)

Representantes de associações de eventos demonstraram indignação após o anúncio dado nesta quinta-feira (20) pelo governador Rui Costa, que limita o público de eventos de qualquer tipo ao máximo de 1.500 pessoas. Uma redução de 50% em relação ao que o decreto permitia anteriormente (3 mil). A norma do limite de metade do público em cada espaço permanece sem mudanças.

Segundo o governador, o novo decreto será publicado no Diário Oficial na sexta-feira (21) com a mudança. "Em função do crescimento do número de casos, nós estamos assinando o decreto que determina a redução de limite de público em eventos de 3 mil para 1.500 pessoas", explicou.

Enquanto isso, os empresários apontam para a falta de diálogo do governador com a categoria, para buscar uma solução que agrade as duas posições, e além disso, questionam a justificativa apresentada por Rui para decretar uma nova redução de público.

“O discurso sempre foi: ‘vacinem-se, pois a vacina vai reduzir o número de óbitos e internações. Com esses números sob controle, não precisaremos tomar medidas drásticas de restrição’. De fato, é o que tem acontecido. A vacina tem feito o que se esperava: a grande maioria dos infectados são assintomáticos ou têm sintomas leves. E os casos que se agravam são entre pessoas que não se imunizaram ou têm algum tipo de comorbidade. Mas, agora, eles estão se apegando ao número de contaminações para justificar essas decisões. A vacina nunca prometeu que as pessoas não se contaminariam. Enfim, é mais fácil penalizar todo um setor do que investir na reabertura dos leitos de UTI e manter os números sob controle”, questiona Moacyr Villas Boas, representante da Associação Baiana dos Produtores de Eventos (Abape).

Em entrevista, o governador esclareceu que além de evitar que o número de casos ativos de covid-19 continue crescendo, a redução do público também objetiva que as outras categorias do setor econômico não sejam prejudicadas. 

“Nós temos que conter essa doença, porque se não fizermos nada, daqui a pouco esse número vai estar gigantesco e impactando outras atividades econômicas. Então precisamos dar um freio nessa contaminação, e a forma de diminuir o ritmo é diminuir a aglomeração das pessoas naquilo que não gera diretamente o desemprego de milhares de pessoas. Por tanto, estamos reduzindo esses eventos, seja ele de qualquer tipo", justificou.

Para a integrante da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), Cinara Cardoso, o decreto afeta muito mais que os empresários e promotores de eventos, ele alcança toda a cadeia produtiva do setor, composto dos integrantes de bandas aos colaboradores que prestam serviços de apoio durante os eventos.

“Esse é um decreto para justificar o que ele [governador Rui Costa] não pode mexer. Um discurso irresponsável condenando um setor como capitalista, que não se importa com vidas. Como se quem perdesse fosse o empresário, que se não faz a festa, não deixa de pagar boleto. A cadeia produtiva do setor é a que realmente é prejudicada. O evento não é o empresário, são cidadãos contribuintes como qualquer outros que precisam trabalhar”, diz a integrante da Associação Brasileira de Empresas de Eventos.

Quanto à viabilidade de se realizar um evento para 1.500 pessoas, Moacyr Villas Boas aponta que para a maioria dos produtores de evento não é algo vantajoso.

“Para alguns será viável e para a maioria, não. Mas o fato é que estão todos cancelando tudo. Como não existe diálogo nem planejamento do governo neste quesito, não nos sentimos seguros nem para planejar um evento para daqui a uma semana, e é óbvio que ninguém faz um evento em apenas uma semana, porque semana que vem pode surgir um novo decreto restringindo ainda mais o limite de público. Não há consideração nem mesmo com os eventos que haviam sido planejados dentro dos decretos anteriores”, esclarece o representante da Abape.

Aglomeração 

Diante do cenário epidemiológico da Bahia, em que o estado já ultrapassa 14 mil casos ativos de covid-19, o imunologista Celso Sant Annaes, esclarece que devido ao alto nível de transmissibilidade da variante ômicron, aglomerações são facilitadoras do potencial de transmissão do vírus. E destaca que, junto a força da cepa, o aumento do número de grandes encontros é a causa da crescente taxa de pessoas contaminadas no estado.

“Um sacrifício maior que façamos agora, é um sacrifício que vai preservar vidas. Precisamos pensar nisso e as pessoas também se conscientizarem e refletirem sobre os dados que a ciência expõe todos os dias. Tudo demonstra que qualquer aglomeração é potencialmente perigosa. As evidências mostram que até o fim do mês de janeiro nossa rede hospitalar poderá estar com um índice de ocupação de UTIs acima de 80%. Então eu acho que voltamos ao nível de não ser o momento de fazer festas nem aglomerações, porque o risco é muito grande”, alerta o imunologista. 

O governador também alertou que há subnotificação de casos ativos da covid-19. "Infelizmente, os números continuam subindo no Brasil, continuam subindo na Bahia. Ontem (quarta-feira, 19) à tarde chegamos a 13.262 casos ativos, e a 363 pessoas internadas em UTIs. As cidades estão testando menos, o que nos leva a crer que esse número de 13 mil ainda está subnotificado, e devemos ter um número muito acima de contaminados. Por isso, estamos tomando a decisão de reduzir os eventos para 1500 pessoas", explicou.

"Estamos chegando ao maior número de contaminados ativos da pandemia. O maior número de contaminados que tivemos foi em março do ano passado, em 22 mil. Com esse ritmo de crescimento, no máximo em uma semana, nós ultrapassaremos esse número. Não é possível não fazer nada e assistir isso passivo. Nós estamos arriscando vidas humanas, que podem ser perdidas", afirmou o governador.

Segundo dados da Central Integrada de Comando e Controle da Saúde do estado, a Bahia fechou a quinta-feira (20) com 14.743 casos ativos de Sars-Cov-2. A taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto é de 68%.

Confira abaixo quais eventos foram cancelados ou adiados:Ensaio de Verão O “Ensaio de Verão” de Léo Santana, que aconteceria na sexta-feira (21), no Wet’n Wild, foi cancelado na quinta-feira (20). Em nota, a assessoria informou que o show possui uma estrutura inviável de ser ofertada nos padrões da nova determinação do Estado.Melhor Segunda Feira do Mundo Comandado pelo cantor Xanddy do Harmonia, o evento aconteceria na próxima segunda-feira (24),no Parque de Exposições, mas foi cancelado após o anúncio das novas medidas de restrição. Ensaio da Timbalada  A assessoria da banda Timbalada anunciou o cancelamento da festá logo após a divulgação do novo decreto. O show aconteceria neste domingo (23), no Wet’n Wild. Show de Gal Costa O show de Gal Costa “As Várias Pontas de uma Estrela” permanece adiado. O evento aconteceria no Teatro Castro Alves, nos dias 29 e 30 de janeiro, mas foram adiados para os dias 12 e 13 de março.  

*Com supervisão da subchefe de reportagem Monique Lôbo