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Tema deste ano foi “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”
Carolina Cerqueira
Publicado em 17 de janeiro de 2021 às 19:04
- Atualizado há um ano
Neste primeiro dia, foram aplicadas as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação e Ciências Humanas e suas Tecnologias. O tema da redação foi “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. O assunto faz par perfeito com o momento atual, já que uma das expressões que mais se ouve por aí é ‘saúde mental’ e o chamado “Janeiro Branco” é o mês de conscientização em prol dela.
Segundo a psicóloga Priscila Pardo, o tema gera uma discussão excelente e extremamente necessária. Ela afirma que a pandemia vem causando impactos psicológicos e fomentando comentários sobre a importância da saúde mental. “A preocupação de todos os profissionais da área quando a pandemia chegou foi justamente como isso impactaria no comportamento das pessoas principalmente aqui no Brasil, que temos a característica de sermos mais sociáveis”.
A psicóloga comemora o avanço que a sociedade apresenta em relação a entender a importância de cuidar do psicológico, principalmente por conta dos jovens, e quebrar o tabu que o tema carrega. “A procura por atendimento aumentou muito. Costuma ser um atendimento que a pessoa só busca quando não está mais aguentando, mas hoje vemos muitos pacientes aderindo ao acompanhamento preventivo, digamos assim”, analisa.
A profissional ressalta que o preconceito ainda existe, mas é bem menor do que o que se observava há alguns anos, devido, principalmente, à disseminação e acesso à informação. “Estamos todos sujeitos a comprometimentos psicológicos. A saúde mental, assim como qualquer outra área de saúde, é fundamental para o equilíbrio do corpo humano. Às vezes vamos ao médico para tratar dores de origem emocional, então na verdade o tratamento precisa ser outro”, conclui.
Mas o professor de Linguagens e integrador pedagógico da plataforma de educação SAS, Vinicius Beltrão, alerta que o tema não se resume somente à questão da pandemia. “As pessoas estão buscando tratamento e terapia agora porque as relações humanas se modificaram muito, mas o tema é muito mais profundo do que isso e, quando traz a palavra ‘estigma’, está falando sobre toda e qualquer pessoa na sociedade brasileira que possui algum distúrbio mental”, analisa o professor.
Ele diz que o tema não era esperado, mas está dentro das expectativas de professores e estudantes porque dialoga com o contexto de pandemia. Beltrão destaca que é preciso ter cuidado com o tema. “O perigo é fazer uma redação rasa, fazendo o recorte somente do momento de pandemia. Isso seria tangenciar o tema. É preciso se aprofundar e abordar outros aspectos”, reforça.
Uma boa redação, na visão do professor de linguagens, é aquela que vai focar na palavra ‘estigma’. “A ideia de estigma é de pessoa marcada. A sociedade vê essas pessoas de uma forma diferente e isso engloba a questão do preconceito, de não entender que as pessoas precisam sim de tratamento, que não é algo banal”. Seguindo esse caminho, há alguns aspectos que o candidato poderia abordar:“O estudante pode abordar que há alguns anos viemos discutindo o tratamento de doenças mentais pelo SUS. Há um movimento para revogar isso, para que não tenham mais especialistas nesta área na rede pública”; “Tem também o eixo dos profissionais com distúrbios que têm dificuldade de se inserir no mercado de trabalho”; “Quando vamos para o âmbito acadêmico, tem a discussão de que as escolas têm que receber essas pessoas. Aí tem o convívio social, as escolas regulares e as especiais e a falta, às vezes, de estrutura e profissionais especializados”. Por fim, Beltrão afirma que o candidato precisa reforçar que o problema está enraizado na sociedade brasileira, mencionar como a pandemia se encaixou nessa questão e propor soluções. Trazendo para a contemporaneidade, a redação poderia abordar que a pandemia trouxe à tona a discussão do tema, disseminando informações sobre saúde mental e fomentando uma onda coletiva de conscientização.
Como proposta de solução, o professor diz que é preciso ser coerente com o que foi colocado como argumento ao longo do texto. “Quando à questão política, o candidato pode propor o incentivo por parte do governo, por meio de verbas, para a área da saúde mental, proporcionando uma maior atenção do SUS para essas pessoas com distúrbios. Outro eixo é o social, a inserção dessas pessoas na sociedade. Aí tem o ponto das escolas, das universidades e das empresas. É preciso que haja oportunidades de ensino de qualidade, de trabalho e também garantia de tratamento e acompanhamento”, completa o professor.
*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier