Projeto usa a bicicleta como veículo sustentável e ferramenta de cura para mulheres negras

Organização La Frida Bike é pioneira e protagonista nas discussões de etnia e mobilidade no Brasil

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 1 de novembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Mais que um meio de transporte sustentável, a bicicleta também pode ser veículo de cura física e emocional. Isso é o que tem mostrado o trabalho da Organização La Frida Bike que, nos últimos três anos ensinou mais de 250 mulheres negras a andarem de bicicleta, além de oferecer capacitação na área de mecânica de bicicletas, possibilitando a capacitação profissionalizante e a geração de renda.

De acordo com a representante da instituição Lívia Suarez, no próximo dia 01 de dezembro, a ONG vai inaugurar sua nova sede, além de promover cápsulas de suas atividades para a população em geral durante a realização da Virada Sustentável Salvador 2018.

“Começamos como um empreendimento criativo na forma de um Bike Café Itinerante, que era uma cafeteria sobre rodas que, para além da comercialização da bebida, tornou-se um espaço de interação e criação, com música e poesia. Com um tempo, percebemos que as mulheres negras se conectavam com as bicicletas. Para muitas delas, o veículo representava um sonho de infância, um desejo não concretizado. Pedalar então passava a ser uma possibilidade de autonomia, de extravasar um sentimento”, completa.

Para ilustrar sua afirmativa, Lívia conta a história de uma integrante do movimento que começou a pedalar como uma forma de curar a obesidade e terminou se transformando numa triatleta.

"Estamos, inclusive, preparando um documentário onde contamos as histórias de mulheres que tiveram suas vidas modificadas com a descoberta da bike”, completa.

Além de disponibilizar bicicletas mais leves e capacetes adaptados para pessoas com cabelo crespo, a empresa ensina mulheres a pedalar, tem projetos de compartilhamento de bike com pessoas de baixa renda, de implementação de bicicletários em escolas da rede pública estadual (já implementados também na UFBA, IFBA e Uneb), coleta de bikes para restauração e doação, oficinas de formação cíclica e de mecânica. Possibilitar que as mulheres possam se conectar através da bicicleta é o maior objetivo da iniciativa, reconhecida como referência em mobilidade sustentável (Foto: Divulgação) As aulas de bike acontecem aos domingos, no centro da cidade, por conta do espaço amplo e do fácil acesso. “Fizemos algumas tentativas nas praças da periferia, mas percebemos que, nesses locais, os espaços são menores e, geralmente, muito movimentados, o que atrapalha a dinâmica das aulas”, completa.

O La Frida já realizou ações no Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Aracaju, Florianópolis e Porto Alegre. Hoje, tem base em São Paulo e no Recôncavo Baiano. O projeto é tido como pioneiro e protagonista nas discussões de raça e mobilidade no Brasil.

Durante a Virada Sustentável, a organização promoverá um Debate com Cicloativistas feministas negras, para incentivar o uso da bicicleta como ferramenta de autonomia e resgate da identidade negra. Entre as participantes, Nátaly Neri, graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo e digital influencer com 453 mil inscritos no YouTube.