Promessa de vacina da covid-19 no SUS em 2020 é ‘muito irreal’, diz pesquisador baiano

Afirmação do imunologista Gustavo Cabral, que coordena equipe paulista que desenvolve vacina brasileira, contraria declaração do governador de São Paulo

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  • Da Redação

Publicado em 28 de agosto de 2020 às 11:58

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Um dia depois do governador de São Paulo, João Doria, dizer que a vacina para a covid-19 pode estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de dezembro, o pesquisador baiano Gustavo Cabral afirmou que a promessa é “muito irreal”. A declaração foi dada em vídeo publicado nas redes sociais do cientista que coordenada a equipe do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, que desenvolve uma vacina brasileira.  

O vídeo de Cabral foi publicado nessa quinta-feira (27). Desde a segunda-feira, ele tem postado vídeos em suas redes sociais para comentar assuntos referentes à vacinda da covid-19. Esse foi o terceiro vídeo do tipo publicado, no qual Gustavo relata ter recebido mensagens de muitas pessoas o questionando se fazia sentido a promessa de termos vacina contra a covid-19 no SUS ainda esse ano. Quase como um pai que repreende o filho após falar alguma bobagem, ele disse:  “Não sei se é a eleição, jogo de marketing ou empresarial, mas precisamos ter alguns cuidados. Não quero desanimar. Quero que ela saia o mais rápido possível, mas para um olhar científico, é preciso ter certos cuidados. Essa questão de promessas é muito irreal. Precisamos esperar esse tempo que se está analisando milhares de pessoas para saber se a vacina funciona, se tem efeito colateral, por quanto tempo ela funciona, quantas doses serão necessárias”, disse.Gustavo relembrou ainda que, durante a pandemia, outras promessas sobre o tema foram feitas e não foram cumpridas. “Vocês lembram que no início do ano houve aquela promessa de que em setembro nós iríamos ter uma vacina? Eu lembro de ter dado uma entrevista e, quando me perguntaram isso, disse que era uma piada. Estamos entrando no início de setembro e não vai acontecer. Em março, teve empresas que anunciaram os primeiros testes em seres humanos. As ações dela cresceram e o resultado foi bom, mas nada espetacular”, afirmou.  

Para o cientista, a produção de vacinas deve ser feita com rigor e, na terceira fase de testes, a última e mais crucial, leva tempo para verificar se o imunizante de fato vai funcionar e se tem durabilidade. “Vai ser preciso analisar todos esses dados, ser licenciada, e produzida em larga escala até chegar às pessoas. Leva todo um trabalho para desenvolver milhões de doses”, afirmou.  

A informação do governador paulista foi dada em entrevista coletiva concedida nessa quarta-feira (26), no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado. Na ocasião, Dória se referia à vacina chinesa chamada CoronaVac, que está sendo testada no Brasil pelo Instituto Butantan. Ele disse ainda que a imunização vai depender de resultados positivos da terceira fase de testes e de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Se tivermos esta terceira fase de testagem bem concluída no final do mês de outubro, ou no máximo até a primeira quinzena de novembro, já em dezembro deste ano teremos a vacina disponível para a imunização da população brasileira. Nesta primeira etapa teremos acesso a 45 milhões de doses”, afirmou Doria.  Por outro lado, o pesquisador baiano Gustavo Cabral afirmou que é preciso ter cuidado antes de se fazer qualquer promessa. “Qualquer uma dessas vacinas após licenciadas pode imunizar bilhões de pessoas. A gente precisa saber o máximo de informações possíveis sobre ela. Eu não estou querendo desanimar, só quero chamar atenção que a gente tem que parar com as promessas e tomar os devidos cuidados. Deixe as promessas para quem quiser fazer, seja empresário, político ou o que for, mas vamos continuar a tomar os devidos cuidados, por favor”, concluiu.  

Confira o vídeo completo: