PT da Bahia tenta retomar apoio do MDB para 2022: ‘já teve o convite’, diz Wagner

Virtual candidato ao governo da Bahia, Wagner também comentou sobre últimos homicídios em Salvador

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 16 de outubro de 2021 às 18:15

- Atualizado há um ano

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Em retomada de suas reuniões presenciais, o diretório baiano do Partido dos Trabalhadores marcou uma entrevista coletiva neste sábado (16) para comunicar alguns preparativos para as eleições de 2022. O encontro contou com a presença do senador Jaques Wagner, virtual candidato ao posto de governador da Bahia, e Éden Valadares, presidente da sigla no estado. Aos repórteres, Wagner afirmou que tem conversado com o ex-deputado Lúcio Vieira Lima para trazer de volta o apoio do MDB ao PT.

“Já tive duas a três conversas com Lúcio. Eles ainda estão no grupo de lá, do DEM, da prefeitura, agora com outro nome [União Brasil, após a fusão com o PSL]. É igual namoro. Vamos conversando, conversando, até que pactua. Já teve o convite. Falei para ele: ‘Olha, estamos abertos. Temos interesse’”, declarou o senador petista.

Wagner também mencionou o que pensa sobre a construção política em torno do Partido Progressista (PP), sigla do vice-governador João Leão, e que pode ser a nova legenda do presidente Jair Bolsonaro, ainda sem partido. O senador disse que, pessoalmente, não crê na possibilidade de filiação de Bolsonaro ao PP. Segundo ele, João Leão teria dito que isso não deve acontecer e, mesmo que aconteça, o PP da Bahia deve ter garantida a autonomia para continuar apoiando o PT por aqui.

Atualmente com apoio apenas da prefeitura de Lauro de Freitas na Região Metropolitana de Salvador, o PT da Bahia ainda terá de disputar influência para atrair demais prefeitos deste território, hoje aliados ao grupo político do ex-prefeito ACM Neto. Wagner reconhece que a força de Neto impacta nesse território, mas confia que o partido petista manterá boa posição na RMS e espera fenômeno parecido com as eleições ganhas por ele, em 2006, e Rui, em 2014, “quando ninguém achava que era possível” — mencionando as pesquisas eleitorais que chegaram a apontar a derrota dos petistas.

“Para mim, pesquisa quantitativa vale muito pouco. A de Lula é ótima? É. Mas é uma fotografia do momento. A gente precisa ver a evolução disso. O ex-prefeito [ACM Neto] fica dizendo que não quer nacionalizar, mas quem nacionaliza eleição é o povo. A eleição é nacional porque tem pleito para presidente e o povo vota de cima para baixo: escolhe presidente e depois vai escolhendo o restante. O negócio é que ele não tem candidato e nem tem patrimônio na Bahia para apresentar”, continuou Wagner.

O presidente do DEM, ACM Neto, rebateu as declarações de Wagner. "O senador Jaques Wagner mora em Salvador e, certamente, viu as transformações que fizemos na capital baiana em oito anos de administração. Avançamos muito na educação e universalizamos a matrícula infantil, ao contrário do que acontece no Estado, que tem um dos piores Idebs do Brasil. Requalificamos toda a orla, fizemos centenas de praças, parques e campos de futebol, investimos muito na cultura, na saúde  e no social. Ou seja, fizemos tudo que o PT não faz. Não à toa que deixei a Prefeitura com um dos maiores índices de aprovação do país", comentou.

Segurança pública: homicídios da Barra ao Uruguai

Nesta semana, após a chacina com seis mortos no bairro do Uruguai e novos episódios de mortes na Barra, ACM Neto usou as redes sociais para criticar os governos petistas quanto à segurança pública no estado. Para ele, as gestões de Rui Costa e Wagner fracassaram no controle do crime e os homicídios recentes "apenas comprovam que a violência está tomando conta do nosso estado”, disse o ex- gestor da capital, mencionando ainda roubos a apartamentos e casas em Salvador e frequentes assaltos a agências bancárias no interior.

O governador Rui Costa disse, também nesta semana, que os indicadores de violência aumentaram devido à degradação das condições sociais e econômicas. Segundo Costa, há mais armas circulando nas cidades devido às “medidas desastrosas do Governo Federal”, e, por consequência, mais vidas humanas perdidas. 

No entanto, os problemas são anteriores a Bolsonaro, já que a Bahia está há quatro anos consecutivos como o estado com o maior número de homicídios no país, conforme dados compilados pelo Atlas da Violência 2020, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Perguntado sobre qual análise faz da segurança na Bahia, Jaques Wagner afirmou que não vê “muita credencial do ex-prefeito” para falar do assunto. Wagner citou o recente anúncio de investimento do governo estadual em câmeras de reconhecimento facial, que têm sido a aposta no controle e prisão de suspeitos e criminosos. A tecnologia vem sendo questionada porque os algoritmos das câmeras não são completamente confiáveis e resvalam em vieses raciais, muitas vezes criminalizando erroneamente pessoas negras.

“Vamos usar a tecnologia porque não conseguimos colocar um policial em cada esquina, mas dá para colocar uma câmera em cada esquina. Estamos apostando nisso como saída. Tá bem? Não está bem. Não conheço nenhum lugar onde se possa dizer que a segurança está bem. O mundo do tráfico virou uma multinacional do mal. Não sei se segurança será o tema principal da eleição. Vai ser um tema, evidentemente”, disse Jaques Wagner.

ACM Neto rebate Ao comentar as declarações de Wagner, ACM Neto lembrou que o petista governou o estado por dois mandatos antes do atual governo de Rui Costa, e lembrou das greves de policiais durante esse período. "Impressionante como o senador Jaques Wagner fecha os olhos para a gravíssima situação da violência em nosso estado. O mínimo que poderíamos esperar da sua parte é que, depois de tantos anos de omissão do PT no combate aos bandidos, fosse feita uma mea-culpa. O ex-governador é um dos grandes responsáveis pela escalada da insegurança. Governou a Bahia por oito anos e a lembrança que se impõe do seu período foram as duas greve da polícia que duraram 14 dias", disse.

Neto afirmou que o estado tem se mantido na liderança em rankings de violência após os governos de Wagner e Rui. "As palavras do ex-governador reforçam o que temos dito aos baianos: esse é um projeto que olha para o passado e que é incapaz de tirar a Bahia da triste posição de campeã nacional de homicídios. Depois de quase 16 anos do PT no poder, a Bahia é o estado que mais cresce a criminalidade. Será que precisa acontecer mais alguma coisa para o senador Jaques Wagner reconhecer o fracasso do PT no combate à violência? Será que o fato de a Bahia liderar, para a nossa tristeza, o número de homicídios em todo o país e de ter 40 explosões de bancos só este ano não são motivos mais que suficientes? A Bahia precisa de um governador que chame para si a responsabilidade no combate à violência e coloque o bandido na cadeia ou fora do nosso estado, o que Jaques Wagner nunca conseguiu fazer.", comentou.