Público lota Salão Nobre da Ufba em reabertura após um ano de restauro

Cerimônia também marcou fim da gestão de João Carlos Salles como reitor; sala desconhecida foi descoberta durante obras

  • Foto do(a) author(a) Fernanda Santana
  • Fernanda Santana

Publicado em 13 de agosto de 2022 às 14:14

. Crédito: Fernanda Santana/CORREIO

Depois de um ano e dois meses de restauro, o Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba) foi reaberto na manhã deste sábado. A cerimônia de encerramento da gestão de João Carlos Salles marcou a entrega do espaço - um dos pontos centrais e históricos da universidade desde 1952. As obras no local revelaram até um cômodo desconhecido.

Leia mais: Conheça Paulo Miguez, novo reitor da Ufba.

A cerimônia aconteceu menos de um dia depois do anúncio de que a votação interna que escolheu o novo reitor. Em publicação no Diário Oficial da União no fim da tarde desta sexta-feira (12), ficou definida, para a próxima segunda (15), a nomeação de Paulo Miguez, que celebrou a vitória da democracia. Miguez é professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Ufba e ocupava o cargo de vice-reitor. “A Inauguração fecha com chave de ouro oito anos de grande trabalho, muitos triunfos e grandes enfrentamentos. Este dia também de alegria por ter visto que a vontade da comunidade expressa nas urnas foi respeitada”, disse.Todas as cadeiras, um dos maiores desafios das obras de restauro que começou em julho de 2021, estavam ocupadas, e uma parte do público precisou acompanhar de pé as mais de três horas de evento, com participação da Orquestra da universidade e de músicos e servidores da Ufba como Fred Dantas, Iuri Passos, Mario Ulloa e Teca Gondim. Cerimônia teve apresentações musicais (Foto: Fernanda Santana/CORREIO) Pelo menos 700 pessoas participaram da cerimônia. Entre elas, membros da comunidade acadêmica, como professores e alunos, servidores técnicos. Políticos como Lídice da Mata, Alice Portugal, Olivia Santana e Hilton Coelho também compareceram.

O sistema de ar-condicionado, depois de 20 anos com problemas, voltou a funcionar. O assoalho, o sistema de som e o mobiliário também foram restaurados. O restauro foi coordenado por Naia Alban, professora da Faculdade de Arquitetura, e Maria Herminia Olivera Hernandez, coordenadora do projeto.

No discurso final - que João, como é conhecida na comunidade acadêmica, chamou de “A palavra final” - saudou a universidade pública e refletiu sobre os oito anos de gestão anteriores - em meio a uma pandemia e sucessivos cortes de orçamento. Ao centro: o agora ex-reitor João Carles Salles (à direita) e o atual reitor Paulo Miguez (à esquerda) (Foto: Fernanda Santana/CORREIO) Às 12h25, quando Salles, que é professor de Filosofia, iniciou o discurso, o salão ainda estava cheio. Na mesa principal, além do ex e atual reitor, estavam os presidentes da Assufba e da Apub, Cássia Virgínia Maciel, pró-reitora da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae), o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Ricardo Marcelo Fonseca (UFPR), e Arlindo Pereira, coordenado do Departamento Estudantil da Ufba. “A universidade é heterogênea e incomoda e passou a incomodar mais ainda quando ela se enriqueceu pelo seu enegrecimento e políticas afirmativas. Em relação a tantas e tamanhas ameaças, a Ufba mostrou nesses anos sombrios que não tem apenas duração, ela vive e tem história”.No público, de pé, o estudante de Enfermagem João Antônio Lima, 21, acompanhou a cerimônia desde o início.“Estar aqui é uma obrigação social e política, para celebrar a universidade e este lugar”, afirmou ele, contemplado pela política de iniciação científica da Proae.

O Salão Nobre da Reitoria é onde ocorrem formaturas, atos políticos, seminários, eventos científicos e palestras. Alguns deles marcados até hoje na lembrança coletiva da universidade, como a conferência da filósofa e ativista Ângela Davis, em julho de 2017.“O que melhor define essa casa é ‘Casa do saber’. Esse salão tem um significa não só para a comunidade acadêmica, mas para a sociedade baiana. A simbologia é muita grande”, diz Elizabeth Barbosa, 61, que lembra bem do salão lotado daquela tarde há cinco anos.No fim da cerimônia, houve distribuição gratuita de 620 exemplares do livro “A palavra final", escrito pelo ex-reitor, que indicou o exercício diário das universidades: “fazer a utopia”.O restauro: dificuldades e cômodo esquecido descoberto

Como costuma ocorrer em restauros, o do Salão Nobre também reservou surpresas. Há duas semanas, uma sala desconhecida até pelos servidores mais antigos se revelou. Em 36 anos de serviço público, Nelson Fontes, 64, sequer imaginava a existência do cômodo.“Estávamos tentando descobrir uma parte da tubulação elétrica e não encontrávamos. Quando vimos, tinha uma sala labirinto, entre uma coluna e a parede, que ninguém conhecia”, afirmou. As cadeiras ocupadas deste sábado foram o principal desafio inicial dos profissionais. Utilizadas por mais de 70 anos, sem reparo, elas se transformaram em unidades com diferentes características. Elas, então, foram retiradas para remontagem de suportes, estofados e engrenagens e, segundo a arquiteta e professora Naiana Alban, retornaram aos seus locais de origem. 

Fechado ao público desde o início da pandemia da covid-19, em março de 2020, as portas do Salão Nobre seriam abertas mais de um ano depois – e parcialmente. Em julho de 2021, tinha início as obras de restauro, compostos por equipes da Superintendência de Infraestrutura, da Faculdade de Arquitetura e das escolas de Belas Artes e de Música. Estudantes participaram do processo.

O sistema de ar-condicionado e som, sem funcionamentos adequados, também foram reparados. As caixas de som – ao todo, 10 – estão suspensas no salão, com conexões embutidas, diferentemente da fiação antes exposta.