Pulmão de ferro

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  • Hugo Brito

Publicado em 23 de julho de 2021 às 08:51

- Atualizado há um ano

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Essa semana Bill Gates abriu a sua mensagem “Gates notes" perto de um equipamento que eu nunca tinha visto. O pulmão de ferro. O aparelho era usado para ajudar crianças que contraíram paralisia infantil, ou poliomielite, entre as décadas de 40 e 50 nos Estados Unidos, e foi uma criação da ciência da época para ajudar a salvar vidas, pois a doença, que matou ou deixou com paralisia séria diversas crianças, em alguns casos passava por um pico de agravamento que tendia a paralisar o diafragma, músculo que faz o movimento de inflar e esvaziar os pulmões, e era nesses casos que os pequenos, à época, tinham seus corpos colocados dentro dos cilindros de metal, ficando apenas a cabeça para o lado de fora.

Na câmara de pressão criada, os pulmões então eram artificialmente inflados e desinflados, em um processo que levava semanas mas que, com a evolução do quadro, podia ser então interrompido, na maior parte das vezes. Ver o vídeo, a máquina, e dar uma olhada na internet em registros da época, automaticamente nos faz ligar com o momento em que vivemos agora. Entre as duas ocorrências há vários pontos em comum. O primeiro é o fato de em ambos os casos a doença ser causada por um vírus. Em seguida, outro ponto comum é a luta da ciência, em tentar salvar vidas. O terceiro aspecto de contato entre as duas épocas é que tudo só começou a ter uma melhora real com a descoberta de vacinas. O quarto e último que destaco aqui, e que liga o surto de Poliomielite ao da Covid-19, é o mais triste de todos. Tanto lá quanto cá a ignorância de negar a ciência e as vacinas apareceu.

Humanidade

É do ser humano questionar. Essa característica é a base de todos os assuntos que escrevo aqui, semanalmente, há vários anos. É sobre o pilar de sempre buscar uma solução melhor, que se sustenta a evolução da tecnologia, e de qualquer outra área do conhecimento humano. Mas um lado cruel dessa moeda é que, justamente por não entender, muitos de nós lançamos mão de outra comum característica de nossa espécie. Negar. E aí vêm coisas de arrepiar como dúvidas sobre as viagens espaciais ou sobre a terra ser redonda. E quando surge, contra essas ideias, um fato como o vôo de Jeff Bezos e outros três tripulantes essa semana, vem logo o alucinado discurso de que foi “truque de tv”, que a imagem de terra redonda que é mostrada origina-se no uso de “lentes” olho de peixe, que distorceriam a imagem do “plano” planeta azul.

Dúvidas, sempre…

No jornalismo, como na ciência, a regra é sempre duvidar. Não é disso que reclamo e nem o velho Bill Gates em sua fala, que me motivou a escrever sobre isso hoje. Mas aqui vem a diferença. Duvidar para avançar ou para retroceder deve sempre ser o norte do pensamento, na minha humilde opinião de pessoa que tenta entender, e ajudar a entender a tecnologia e os impactos que ela traz às nossas vidas. Voltar a dúvidas antigas, questionar o que já foi vencido e comprovado, na espiral do conhecimento, pode nos arrastar para dentro do ralo da ignorância e do retrocesso. Vacinas como as da pólio e da meningite salvaram e continuam a salvar. A ciência continua a buscar formas de vivermos melhor. Claro que sempre tem um ou outro uso indevido do conhecimento mas isso, infelizmente, também é do ser humano. Pregar a atitude de negar.

A evolução tecnológica que nos permitiu desenvolver vacinas tão rápido, e defender o ato de não tomá-las nessa pandemia é, no mínimo, irresponsável e beira o crime. Aqui concordo com a fala de Gates quando defende um esforço de vacinação nos últimos dois países que ainda têm casos de pólio no mundo, Afeganistão e Paquistão, e faço o link para a nossa realidade aqui no Brasil. Sinceramente, em vez de ficar discutindo se devemos ou não nos proteger da COVID-19, com máscaras, distanciamento e vacinas, tudo cientificamente comprovado, deveríamos estar gastando os nossos tão valiosos neurônios olhando para a frente, na busca de formas de melhorar o mundo, de democratizar a tecnologia, de facilitar a educação e de reduzir por exemplo, os impactos que também pela tecnologia, ou o mal uso dela, estamos causando no clima. Caramba… Tem gente que nega isso também… Viva a Ciência !!!!