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Qual é o cargo de Olavo de Carvalho?

Leia o editorial

  • D
  • Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2019 às 03:36

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Ele já atuou como jornalista e astrólogo. No passado, estudou filosofia por conta própria. Olavo de Carvalho é um dos pensadores do conservadorismo brasileiro e teve influência na construção do cenário ideológico que resultou na eleição de Jair Bolsonaro. Ficou famoso, virou “influenciador digital” e é seguido por muitas das pessoas que apoiam o atual governo. Tudo que o “ideólogo” diz ganha, imediatamente, enorme repercussão. Figura polêmica, amado por muitos e odiado por outros tantos. Inegável poder de fogo em uma determinada camada social.

Carvalho é uma espécie de “guru” do presidente que, óbvio, tem todo o direito de escolher seus conselheiros pessoais. Da mesma maneira, todo brasileiro tem garantido o direito de expressar suas opiniões e não seria diferente com o “ideólogo”, quer se concorde com ele, ou não. No entanto, há algo a que devemos atentar: Olavo de Carvalho não faz parte da equipe de governo e não deve interferir na gestão do Brasil. Uma coisa é bastidor, aconselhamento, relação pessoal. Outra coisa, bem diferente, é a interferência direta de  alguém que apenas orbita o poder oficial. Milhões de seguidores não credenciam, automaticamente, alguém a cuidar dos rumos de um país. Ele não foi eleito nem tem qualquer nomeação.

Ademais, há a questão da postura. São inúmeras as situações em que o “ideólogo” se manifesta com palavras de baixo calão, atacando aqueles que considera adversários. Recentemente foi a vez de os militares que fazem parte do governo estarem na mira de Carvalho. Numa noite de sucessivos ataques - que incluíram xingamentos e palavrões - acabou se referindo de maneira extremamente desrespeitosa ao general Villas Bôas, ex-comandante do Exército. Um senhor que, apesar de sofrer de esclerose lateral amiotrófica (doença degenerativa gravíssima), foi comandante do Exército e, hoje, continua trabalhando como assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Uma deselegância irresponsável que, evidentemente, resultou em desgaste das relações entre militares e cúpula do governo federal. É necessário sobriedade, inclusive para que ele esteja à altura de desempenhar o papel de conselheiro do presidente. Não é admissível que se refira a ninguém da maneira que se referiu ao general. Além disso, um conselheiro não deveria alimentar discórdias e divisões, mas, justamente o oposto: trabalhar para a união do país.

Ora, se Olavo de Carvalho representa, em alguma instância, o governo do Brasil, temos, entre tantos, mais um problema a resolver. Porque uma coisa é o “ideólogo” excêntrico e suas teorias. Bebe na fonte quem quer, questiona quem deseja questionar. Outra coisa é alguém habilitado a decidir questões importantes em um país. Há regras para todos os que ocupam cargos e o Estado tem ferramentas para punir os que ferem o decoro necessário. Livre disso, fica fácil. Olavo atua com o “salvo conduto” de quem não deve, oficialmente, nada. Ora, é preciso deixar as coisas mais claras. É necessário manter garantido o direito de qualquer cidadão falar, mas tão necessário quanto isso é delimitar espaços. O Brasil não pode ficar à mercê de postagens raivosas, devaneios e ataques de um indivíduo sem qualquer compromisso com o conceito de governabilidade.

Algumas afirmações são inócuas. Quem ainda acreditaria, por exemplo, quando ele afirma que cigarros fazem bem à saúde? Essas não repercutem tanto. Outras posturas, no entanto, têm atrapalhado. Exemplo disso é a recente queda de braço entre aliados do ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e seguidores do “ideólogo”, quando do episódio da nomeação do almirante Sergio Ricardo Segovia Barbosa para a presidência da Apex. Carvalho opina em todos os assuntos, atira para todos os lados. É preciso definir o lugar dessas palavras, o peso que elas devem ter, e isso se resolve respondendo a uma pergunta básica: qual é, afinal, o cargo de Olavo de Carvalho?