Qualquer trabalho artístico é soma de fragmentações

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  • Cesar Romero

Publicado em 11 de novembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Obra de Alfredo Volpi (foto/divulgação) O artista é um trabalhador como outro qualquer. Apenas lida com um produto sensível. Nem melhor, nem pior que outros profissionais. O que lhe dá importância é o produto final, o trabalho concluído e seu poder causador. Arte é invenção de linguagem. Tempo e aprendizagem levam à criação de um idioleto, códigos específicos de um artista criador. Cada artista é refém do seu fazer. Marca autoral, grafia e pensar. Exemplo lapidar foi Alfredo Volpi.

O artista é um ser humano que transmuta seu fazer, em manobras da visão. Transfigurar, converter, é sua labuta, tarefa, ação, até o encontro com sua fala pessoal, iconografia. Há um longo processo de descobertas, de experimentações, ensaio e erro, que requer perseverança, credo e obstinação. Tudo é trabalhoso. Coerência, lucidez, paciência e interlocutores ajudam no caminho. O senso apurado da observação, transita, remove-se no conhecer do mundo interior, na vida instintiva profunda. A intuição, um tipo de inteligência, não é tudo, mas imprescindível no processo gerador. O que é expresso, foi impresso anteriormente em nossa estrutura psíquica.

O artista é um operário, articulando forma, linha e cor, buscando resolver equações visuais. O estoque de ideações resulta num produto final, que não mais pertence ao obreiro e sim ao público, por mais restrito que seja. O trabalho finalizado, elo de ligação entre artista e o outro, faz a aliança, articulando possibilidades.

Ao artista cabe coerência estilística, essência, atualizações, crença, trabalho continuado, cuidado com os materiais, tão banalizado hoje em nome da “contemporaneidade” e invencionices que nem o próprio sabe conceituar.

A liberdade da criação é irretocável, não se concebe um artista aprisionado à técnicas, escolas ou possibilidades expressivas. Mas tudo deve ser justificável, na lógica, na proposição. Nada é por acaso. O inconsciente é soberano. Tudo está imerso em nossas vivências. O artista também tem a função de educador, não só de produtor de arte.

É um engano, má vontade, superstição ou falta de informação, achar que desenho e pintura não são necessários aos artistas que se intitulam de contemporâneos. As silhuetas, os jogos de sombra e luz, as intervenções, Desenho e cor. Em resumo, desenho é linha e pintura é cor. Negar estas duas realidades é negar a releitura do mundo real, da fantasia, do fetiche, das ambiguidades, das fábulas, das estruturas de narrativas visuais.

Qualquer trabalho artístico é soma de fragmentações. Trazem em seu bojo vivências atávicas.

A capacidade de criar linguagem em metamorfoses é que define a obra do artista.