Quando chorar faz bem: lágrimas de animais podem ter respostas para olho humano

Cientistas da Ufba identificaram similaridades entre lágrimas de bichos e dos homens, além das proteínas que podem deixar o olho saudável

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  • Thais Borges

Publicado em 22 de agosto de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arianne Oriá/Divulgação

Na clínica de oftalmologia do hospital veterinário da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a professora Arianne Oriá estava acostumada a receber cães e gatos. Até que, um dia, dois pacientes inusitados chegaram para o atendimento: eram jacarés-de-papo-amarelo, moradores do Zoológico de Salvador. 

A dupla tinha um problema oftalmológico. Mas, para entender a fundo a situação, era preciso saber como eram os animais saudáveis. Assim, ela começou a estudar os outros jacarés da mesma espécie no zoo."Me chamou atenção o fato de que eles passavam até uma hora e meia sem piscar, com a superfície ocular totalmente saudável. Aí veio uma grande pergunta: qual é a composição da lágrima que faz com que o olho fique tão saudável?", lembra a professora do curso de Medicina Veterinária. O episódio, em 2009, foi o suficiente para marcar o curso dos acontecimentos a partir dali. O resultado, 11 anos depois, seria uma pesquisa que pode mudar o tratamento até de doenças oculares de humanos. 

Na semana passada, o trabalho coordenado pela professora Arianne ganhou as manchetes das editorias de ciência dos principais veículos internacionais, a exemplo do jornal The New York Times, da CNN estadunidense e da revista National Geographic.   A professora Arianne percebeu que os jacarés passavam até uma hora e meia sem piscar, mas tinham olhos saudáveis (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) No último dia 13, um dos artigos resultado da pesquisa foi publicado pela revista científica Frontiers in Veterinary Science, destacando justamente a similaridade entre a composição das lágrimas de animais e dos humanos, além da possibilidade de os estudos levarem a respostas quanto à cura do chamado 'olho seco', que afeta pelo menos 18 milhões de brasileiros, segundo entidades médicas. 

As pesquisas compararam 10 espécies de animais, incluindo tartarugas marinhas, corujas, araras, cavalos, cães e o próprio jacaré. A ideia era identificar o que influenciava na composição da lágrima. "Nossos resultados mostraram que a gente tem mais uma modificação da lágrima relacionada ao ambiente do que qualquer outro fator", diz a professora Arianne. 

Uma das novidades é que o grupo identificou, no filtro lacrimal (o nome mais 'técnico' da lágrima) dos jacarés, diversas proteínas não caracterizadas - ou seja, proteínas nunca antes descritas em lugar nenhum. Agora, a pergunta é outra: seriam essas proteínas as responsáveis pela “saúde” dos olhos desses animais? "O que eu quero realmente é encontrar essa resposta, porque eu vejo, hoje, o sofrimento pelo olho seco, na clínica de cães e gatos, e vejo paralelamente nos humanos pelas pessoas que conheço. Essas pessoas têm que se valer de algo para proteger seus olhos e acredito que, depois desses resultados, a gente tem algo muito especial que pode vir daí", explica a professora.  Através de testes como a cristalização da lágrima do jacaré, é possível observar a composição do filme lacrimal (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) Sem choro Antes de tudo, é preciso entender: há diferentes tipos de lágrima. Elas podem acontecer em três momentos: a chamada lágrima 'basal', que é a produção normal; a lágrima 'reflexa', que é a que vem, por exemplo, quando um cílio entra no olho e provoca o lacrimejamento; e o choro ligado à emoção. 

As duas primeiras situações são comuns aos animais. No entanto, o choro pela emoção é exclusividade dos humanos - se o animal quiser manifestar alguma dor ou desconforto, provavelmente terá alguma reação como latir, correr ou se esconder. 

Não se trata, portanto, de fazer animais “chorarem”. O próprio processo de coleta deve ser cuidadoso para causar o mínimo de estresse possível nos animais (veja abaixo). Além disso, tudo deve ser autorizado pelos comitês de ética dos órgãos e entidades envolvidas, com a presença de biólogos ou veterinários especializados em cada espécie. 

Além do zoológico, a professora Arianne e um grupo de cerca de 10 estudantes - entre graduação e pós-graduação - também acompanharam bichos do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Salvador; do Projeto Tamar, na Praia do Forte; e do criatório de jacarés Mister Cayman, em Maceió (AL).  A professora e médica veterinária Arianne Oriá, coordenadora da pesquisa, e seus orientandos participam de toda a parte da coleta, inclusive da limpeza dos jacarés no criatório, em Maceió (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) "Foram anos coletando lágrimas de centenas de animais. No caso dos jacarés, decidimos não continuar em Salvador porque o número do plantel é pequeno para a quantidade que a gente precisa. E uma das coisas que a gente preza é pelo bem-estar dos animais. Não tem como ficar contendo o mesmo animal vários dias sequenciados", diz Arianne. Os resultados da pesquisa com jacaré foram processados e analisados ao longo do doutorado da também pesquisadora e médica veterinária Ana Cláudia Raposo, integrante do grupo. Em 2017, ela embarcou para um período de seis meses na University of California, Davis (UC Davis), nos Estados Unidos. 

Na época, elas ainda não conheciam o professor Carlito Lebrilla, do Departamento de Química da instituição, mas trataram com ele por email. "A gente arriscou. Falamos que tínhamos lágrimas de jacaré, porque, no imaginário das pessoas, é uma das lágrimas mais difíceis de obter. Ele achou fantástico", conta Ana Cláudia. 

Assim, ela chegou à Califórnia, naquele ano, para fazer o tratamento com o uso de tecnologias que são praticamente inacessíveis no Brasil. Só um dos equipamentos, que precisa de pessoal especializado para operar, custava 20 milhões de dólares.  Para a pesquisa de doutorado da também médica veterinária Ana Cláudia Raposo (segunda à esquerda), o grupo da professora Arianne (primeira à direita) coletou lágrimas de mais de 100 jacarés. Como a amostra ficou retida na alfândega dos EUA, o grupo teve que repetir a coleta (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) O problema é que a amostra, com lágrimas de mais de 100 jacarés coletadas em Maceió, ficou retida na alfândega estadunidense. Tudo foi perdido."O doutorado sanduíche não cobria erros. Não tinha dinheiro para outra passagem. Então tudo tinha que ser custeado por mim. Mas o meu grupo coletou tudo de novo e conseguiu enviar para os EUA já no meu penúltimo mês lá", afirma Ana Cláudia. Ainda que lágrimas de jacaré sejam conhecidas por algo difícil de serem coletadas, isso não tem necessariamente relação com a expressão popular "lágrimas de crocodilo". Como é quase um ditado universal, também há variantes em outras línguas - a exemplo de "crocodile tears", no inglês. As revistas e jornais internacionais que noticiaram a pesquisa, inclusive, trataram os jacarés como crocodilos, tamanha a proximidade das espécies. O jacaré se enquadraria no ditado justamente por ser da família Crocodiliae - ou seja, é um "primo" do crocodilo, geralmente de tamanho menor. 

Porém, ainda que a expressão trate de um choro fingido, as lágrimas dos jacarés verdadeiros são reais. Mas, segundo Ana Cláudia, a origem da expressão tem a ver com o fato de que esses animais - jacarés e crocodilos - produzam lágrimas espontaneamente enquanto estão triturando sua presa."Ou seja, ele chora enquanto mata. Mas a gente não pode usar esse artifício enquanto coleta", diz. Assim como o jacaré, as corujas - nesse caso, a conhecida como 'coruja de igreja', muito comum em Salvador - produz poucas lágrimas (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) Processo Um dos motivos para o trabalho ter chamado tanta atenção foi o fato de que Arianne e seu grupo participam de todo o processo: da coleta à escrita dos artigos, passando pela análise química das lágrimas. A verdade é que, enquanto a participação de cientistas na coleta não é algo comum em todos os países, a professora e seus orientandos literalmente andavam por aí carregando jacarés - e todos os outros bichos. 

Assim, o artigo foi escolhido pela Frontiers in Veterinary Science para divulgação, e se tornou uma espécie de 'capa' desta edição da revista. A própria equipe de comunicação da Frontiers chegou a fazer uma entrevista com a professora. Na conversa, o envolvimento dos pesquisadores encantou os jornalistas internacionais."Eu vivia rodeada de jacarés. A última parte fizemos em um criatório em Maceió, que tinha de 20 mil a 30 mil jacarés. Nós ajudávamos os funcionários a limpar, carregar, tínhamos que fazer tudo. Não era só nos laboratórios. Mas essa, para mim, é uma das melhores partes. Não troco por nada", conta a professora. A lágrima é o primeiro fluido corpóreo que terá contato com o ambiente, como reforça a professora Arianne. Mesmo nas espécies silvestres, é possível pensar nela como um marcador das modificações que a espécie humana tem feito no ambiente. 

"A pesquisa não era voltada apenas para a procura de uma molécula que respondesse à estabilidade da lágrima do jacaré que eu possa usar no tratamento do olho seco humano, mas também para o entendimento das mudanças que o homem faz no ambiente", pondera. 

Essa foi uma das descobertas que veio a partir das tartarugas marinhas. Primeiro, a equipe teve contato com os animais criados em cativeiro. Acompanharam, também, a desova de tartarugas na Praia do Forte - esse era um dos momentos em que podiam coletar lágrimas. Depois, tiveram a oportunidade de fazer a coleta em uma tartaruga que estava em alto-mar - durante um passeio de biólogos do Tamar para avaliação da saúde dos animais.  A partir das lágrimas das tartarugas marinhas, as pesquisadoras identificaram que os animais que vivem no mar tinham a composição mais afetada pelas mudanças no ambiente (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) "Isso mostrou que a da tartaruga de vida livre tinha mais resíduos de poluentes do que a que fica dentro do parque protegida", conta a pesquisadora Ana Cláudia Raposo. Humanos  O estudo também contou com a análise das lágrimas de voluntários humanos. Além da parceria com o grupo do professor Ricardo Portela, do Instituto de Ciências da Saúde da Ufba, a médica oftalmologista Dayse Cury, professora da Escola Bahiana de Medicina, foi convidada para assistência técnica com a parte dos humanos.

Ela explicou que, de fato, atualmente, o olho seco é um dos principais problemas para as pessoas. A síndrome do olho seco pode ser tanto um sintoma de doenças (até lúpus e artrite) como consequência do envelhecimento e do uso de medicamentos. Entre os principais sintomas estão a própria secura, mas também coceira, vermelhidão, ardor, sensibilidade à luz e sensação de que há algo no olho. 

Só que, nos últimos anos, as mudanças de hábitos devido ao intenso uso de computadores e smartphones, além de ar-condicionados e até da poluição das cidades, têm contribuído para aumentar o número de casos."A pesquisa (das lágrimas dos animais) é um espetáculo. Quando eu comecei na oftalmologia, a gente tinha 2, 3 colírios para olho seco. Hoje, tem inúmeros, porque é uma incidência muito grande e piorou com a pandemia", compara. Ela ressalta, porém, que um possível remédio não virá das lágrimas dos animais. "As descobertas são para a gente saber exatamente qual é a proteína e para que, em cima desse estudo, a gente possa fazer medicações. Não é para tirarmos lágrimas do jacaré", reforça. 

Além disso, para entender a composição das lágrimas dos bichos, um dos primeiros passos foi adaptar estudos sobre a lágrima de pessoas. No caso, as pesquisadoras trouxeram uma escala desenvolvida por cientistas da Arábia Saudita para a cristalização da lágrima de humanos para o mundo veterinário - tanto com animais domésticos quanto silvestres.  Na pesquisa, foram analisadas lágrimas de dez espécies, incluindo araras que ficam no Cetas de Salvador (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) Um dos resultados mostrados no artigo foi que os maiores valores de proteína na composição da lágrima estão justamente entre os humanos, em comparação às espécies analisadas. Em seguida, vêm jacarés e corujas. No entanto, no filme lacrimal de todas as espécies foram encontrados valores maiores de cloreto, ferro e sódio - exceto nos humanos. 

Recursos  O trabalho não teve financiamento de editais específicos de agências de fomento. Os únicos recursos vieram de uma bolsas dos pesquisadores - Ana Cláudia fez o doutorado sanduíche com uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), enquanto a professora Arianne tem uma bolsa de produtividade em pesquisa - as chamadas bolsas 'PQ' - nível 2 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). "Infelizmente, é um cenário muito sombrio aqui no Brasil, que nos faz desacreditar muito num futuro da pesquisa aqui no país. O que nos motiva, realmente, é o amor pela pesquisa e a aceitação internacional cada vez maior. Posso dizer, com tranquilidade, que a aceitação lá fora é maior do que dentro de casa", lamenta Arianne. Ainda há dados que estão na fase final de análise para a escrita de outros artigos. Esse é o foco agora, de acordo com a professora Arianne. Uma dificuldade, porém, é o alto custo com as publicações. Cada artigo para publicação em um periódico de alto impacto como a Frontiers custa 2.390 dólares - ou seja, mais de R$ 16 mil em valores atualizados. 

Só nos últimos dois meses, três artigos do grupo foram aceitos para publicação. "É uma dívida que não dá para pagar nem se eu vendesse meu carro", diz a professora, que tenta conseguir um desconto na revista, diante da situação econômica do país. 

A Ufba tem a possibilidade de ressarcimento para pesquisadores, mas o valor só pode ser restituído se a pessoa pagar com um cartão em seu nome e apresentando documentos que comprovem a transação. "Não é um artigo só. São vários e a gente não sabe o que vai acontecer. Você trabalha, trabalha, trabalha, e é ótimo. Mas, quando chega nessa parte, o pesquisador se desespera", admite a professora. 

Ao CORREIO, a Ufba informou que tem dois modos de apoio aos autores - a possibilidade de revisão (com tradução, em casos específicos) e o pagamento dos custos de publicação. Para a revisão, o valor máximo é de R$ 1,2 mil, enquanto os custos de publicação são até R$ 5 mil. Não há limite de número de artigos solicitados por cada pesquisador. 

No entanto, o coordenador de pesquisa da universidade, o professor Thierry Lobão, admite que o valor ainda é pouco. "Há revistas que costumam cobrar até mais de R$ 20 mil (lembre-se que costuma ser dólar ou euro), principalmente quando o artigo tem imagens coloridas. Estamos tentando aumentar esses auxílios", adianta.Por ano, a Ufba tem até R$ 300 mil para destinar ao apoio de publicações. Mas a situação financeira da universidade, que já vem sofrendo sucessivos cortes de verba desde 2015, pode ficar mais difícil no próximo ano. Este mês, o governo federal anunciou que o Projeto de Lei Orçamentária Anual para 2021 prevê um repasse de investimentos 18,32% menor à Ufba do que o deste ano.

Caso seja aprovado pelo Congresso, vai corresponder a uma redução de quase R$ 30 milhões. "Se o corte for confirmado, a situação será gravíssima", analisa o professor.

Coleta pode ser feita com papel absorvente ou com seringa; entenda  Em geral, a coleta da lágrima começa com a contenção da espécie. Isso é necessário tanto para a proteção do animal quanto da equipe. Além disso, as pesquisadoras precisavam se adequar ao manejo e à rotina de cada local. 

No caso dos jacarés, por exemplo, era comum que eles saíssem do recinto sujos. Assim, antes da coleta, elas davam um banho com água limpa e esperavam que eles se secassem. Os animais precisavam ficar soltos por algumas horas, em um ambiente limpo, já que a água do banho poderia interferir na lágrima.  Apesar de soltos, era preciso usar borrachas na boca dos jacarés, para evitar acidentes. As lágrimas são coletadas com uma tirinha de papel absorvente (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) "Tinha que esperar renovar, então a gente esperava pelo menos duas horas depois do banho para ter certeza de que não ficou com nenhum resíduo", conta a professora Arianne Oriá, da Escola de Medicina Veterinária da Ufba. Com a boca enrolada por três borrachas de pneu, mas soltos, os jacarés tinham as lágrimas coletadas colocando um papel absorvente ao lado dos olhos. Essa tirinha é comum tanto na oftalmologia de animais quanto de humanos. Quando o animal pisca, as pesquisadoras abrem a pálpebra e esperam por cerca de um minuto e meio. Depois, a parte umedecida do papel é colocado em um tubo que vai em uma centrífuga. É ela, por sua vez, que vai centrifugando tudo que houver de lágrima até outro tubo. 

É preciso, também, calcular bem melhor momento em que a coleta deve ser feita. Com as araras, por exemplo, logo as pesquisadoras perceberam que era melhor fazer logo cedo, por volta das 7h da manhã. Por serem animais crepusculares, era o horário que elas preferiam. 

"Depois do almoço, elas já gritavam de um jeito ensurdecedor. A gente cancelou algumas vezes por conta disso. Elas ficavam tão estressadas que isso até mudava os parâmetros do olho", lembra a professora Arianne. 

Mas não dá para fazer a coleta de todas as espécies dessa forma. As tartarugas marinhas, por exemplo, precisavam de uma seringa, devido à textura da lágrima. Por ser muito viscosa, a láhrima da tartaruga se assemelha a um 'slime' ou a uma gema de ovo de galinha.  Por ter uma textura diferente, as lágrimas das tartarugas marinhas são coletadas com auxílio de uma seringa (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) Na época, além dos animais em cativeiro e de uma tartaruga que estava em alto mar, as pesquisadoras conseguiram coletar lágrimas de tartarugas que vieram para fazer a desova em praia do Forte. "Os biólogos do Tamar acompanharam e explicaram que a gente poderia tocar nelas, porque quando o animal está colocando os ovos, é como se estivesse em transe. Toda a energia delas vai para os ovos", lembra a pesquisadora Ana Cláudia Raposo. Esse ainda foi o caso da lágrima de baleia, que deve ser uma das futuras investigações do grupo. No ano passado, quando uma baleia jubarte adulta encalhou em Coutos, no Subúrbio Ferroviário, elas conseguiram coletar lágrimas do animal, também com uma seringa, com autorização dos órgãos ambientais.  A baleia jubarte de 39 toneladas encalhou na praia de Coutos, em agosto do ano passado (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO) "Estamos falando de um animal que vem de diferentes regiões do mundo e a gente pode conseguir identificar o que tem na lágrima que faz com que ela fique de olho aberto em altas profundidades. A gente foi até acusada na época de ter matado a baleia pelos olhos. Mas a gente faz tudo com subordinação e autorização dos órgãos de legislação", lembra, ressaltando a preocupação com o animal. O futuro das pesquisas também pode vir das lágrimas das corujas - em especial, as chamadas 'corujas de igreja', muito comuns na região de Salvador. Assim como os jacarés, elas piscam pouco. Produzem apenas 0,005 ml de lágrima por olho. Para chegar a 1ml, é preciso coletar de muitos animais.  As lágrimas das corujas têm alto teor de gordura (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) Só que, ao contrário dos jacarés, onde foi possível detectar proteínas, as lágrimas da coruja são basicamente feitas de gordura. Porém, o grupo não tem tecnologia para analisá-las ainda - seria preciso um equipamento como o usado nos Estados Unidos. 

"Mas é algo muito promissor, porque muitos seres humanos que têm deficiência na musculatura das pálpebras têm deficiência de gordura na lágrima. A gente identificou uma quantidade absurda de colesterol, mas tem outras gorduras. Provavelmente é um mecanismo totalmente diferente da lágrima do jacaré", avalia Ana Cláudia. 

Saiba mais sobre as lágrimas de algumas das espécies analisadas JACARÉ-DE-PAPO-AMARELO:  Levam até uma hora e meia para piscar, por isso as lágrimas são raras. Mesmo com uma quantidade pequena de lágrimas, têm uma superfície ocular saudável e estável. 

TARTARUGAS MARINHAS: Ainda que tenham lágrimas em abundância, são animais que têm lágrimas muito viscosas - a textura lembra a de um 'slime', o que dificultava a coleta. A pesquisa mostrou diferenças na composição do filme lacrimal de animais que viviam ao ar livre e de animais que viviam em cativeiro, devido à intervenção humana no meio ambiente.  Crepusculares, as araras preferiam a coleta logo no começo no dia (Foto: Arianne Oriá/Divulgação) ARARAS: a composição da lágrima das araras foi uma das que mais se aproximou da do seres humanos. Uma das possíveis razões para isso é o fato de que elas têm voo baixo e serem frugívoras. Por serem crepusculares, a coleta devia ser feita sempre no período da manhã, logo cedo. Após o horário de 'almoço', elas costumavam gritar para que ninguém se aproximasse. 

CORUJAS: assim como os jacarés, também produzem quantidades muito pequenas de lágrimas. As duas espécies produzem, em média, 0,005 ml de lágrima por olho. Só que, diferentemente dos répteis, a composição das lágrimas das corujas é principalmente de gordura.