Quando os Jogos Olímpicos redefinem o planeta

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  • Gabriel Galo

Publicado em 9 de agosto de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Foi num piscar de olhos. Em menos de 20 dias, puf, a cerimônia de encerramento pôs fim aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020+1. Nem bem as reprises cessaram, algumas resenhas insistiram em debater partes aqui ou ali, mas estas são tecnicidades, enquanto a magia em Tóquio nos deixa em dúvida: que mundo era aquele, afinal, de que não lembrávamos? 

Foi um ano de atraso para que os Jogos Olímpicos acontecessem. A variante delta da Covid-19 transformou arquibancadas em desertos. Sem grito, sem o incentivo público, técnicos, colegas, companheiros se tornaram representantes da torcida. E varamos madrugadas para, no instante, acompanhar a história sendo feita, transmitindo energia como pudemos.

No hoje sem disputa por medalhas, o reencontro com a realidade cinza nos colocará em estado constante de saudade com o colorido olímpico. Passaremos os dias a rememorar o cruzado de esquerda de Hebert para garantir o ouro que aparentemente perderia. A discutir o que afinal aconteceu com as seleções de vôlei, de quadra e de praia. Discutiremos acaloradamente a derrota de Bia Ferreira, “roubado”, “absurdo”, e a ela se juntarão Medina, Ítalo, Rayssa e qualquer outro que tenha ficado no quase, afinal, brasileiro não perde merecido - é tudo parte do plano. Se vocês soubessem o que acontece no COI ficariam enojados.

Forjamos novos ídolos nacionais. Vimos atletas que esbanjam carisma infinito. Darlan e Fratus, os gigantes amorosos; Alisson Piu, que é o amigo que todo brasileiro quer ter; Isaquias e sua obstinação preocupada com o país; Rayssa e o sorriso inesgotável; Hebert e seus palavrões gloriosos; Ana Marcela e a serenidade de quem voltaria nadando de Tóquio a Salvador; Rebeca e a exaltação à favela; Paulinho e o abandono da sorte: sempre foi Exu.

Sobraram também infundados pedidos de desculpas. E do lado de cá, espectador que se entrega ao esporte, há de abraçar em compreensão aqueles que, frente à frustração da derrota, se ampliam em escusas a todo um povo. O sofrimento é a tônica do Brasil, mergulhado num abismo em que atletas olímpicos compreendem a dimensão de redenção festiva por suas conquistas. Mas vieram pratas, bronzes, participações: vocês são parte da elite global. Não há desculpas a serem oferecidas. Apenas aplausos.

Esta mão de afago nos colocou em contato com uma humanidade que a pandemia se encarregou de afastar. Farinha pouca, meu pirão primeiro, o cada um por si vê a união causar certo estranhamento. Até Galvão pedindo pra furar a bola, vou eu me sentir culpado de torcer pra uma japonesa de 13 anos cair do skate?

Se hoje é conversa de “você viu?”, amanhã será menos, até que se percam os detalhes, restando as grandes histórias. Mas os Jogos Olímpicos tiveram papel civilizatório fundamental. Vislumbrar o retorno da normalidade, em comunhão e companheirismo, nos oferece a possibilidade de retomar a esperança. Afinal, o que somos sem ela?

Os Jogos Olímpicos são um espetáculo sem igual. E daqui a pouquinho vem a segunda temporada, com os Jogos Paralímpicos. Em 3 anos, Paris. Ano que vem? Copa do Mundo. É o esporte pintando em cores vibrantes o mundo no qual sonhamos viver.

Gabriel Galo é escritor e prefere um mundo com Jogos Olímpicos