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Wendel de Novais
Publicado em 27 de outubro de 2022 às 05:45
Começou no quintal de casa, caiu no gosto dos amigos, dos conhecidos dos amigos e virou uma empresa com sede no Rio Vermelho. Em resumo, é essa a história da hamburgueria que Tércio Campelo, 26 anos, conduzia em parceria com dois sócios. Um negócio que surgiu em julho de 2021 e fechou em maio de 2022, 10 meses depois.>
Histórias como a de Tércio não são incomuns na Bahia nos últimos anos, de acordo com informações da Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo Empresarial 2020, pesquisa do IBGE que aponta que quase três (27,6%) a cada 10 empresas abertas na Bahia fecharam em menos de 365 dias. >
Números da Junta Comercial do Estado (Juceb) dos anos seguintes consolidam a tendência de fechamentos precoces. Isso porque, segundo o órgão, ao longo de 2021, 1.315 negócios fecharam antes de completar o primeiro aniversário. Em 2022, sem contar o último trimestre (outubro a dezembro), 1.404 empresas tiveram o mesmo destino.>
Em 2021, as cidades baianas com mais empresas fechando em menos de 365 dias foram Salvador (360), Lauro de Freitas (87) e Feira de Santana (82). Este ano, o ranking mantém as mesmas cidades na liderança: Salvador (410), Lauro de Freitas (95) e Feira de Santana (79).>
A Demografia das Empresas do IBGE aponta que, entre os estados do Nordeste, a Bahia tem o maior volume de empresas, com 229.167 negócios. Porém, em termos absolutos, é também o estado que viu mais CNPJ's fechados: 33.784. No entanto, teve menos fechamentos que praticamente todos os estados das regiões Sudeste e Sul - onde há mais empresas -, exceto em relação ao Espírito Santo e Santa Catarina.>
A longo prazo, a história é outra. Das 31.747 unidades locais de empresas que começaram a funcionar em 2008, na Bahia, 21,7% (6.876) encerraram suas atividades antes de completar um ano (2009); 57,1% (18.113) foram extintas antes de cinco anos (2013); e só 21,7% ainda estavam em atividade em 2018, ou seja, 78,3% (24.855) fecharam antes de completar 10 anos.>
Já em 2009, das 38.168 unidades locais de empresas que nasceram ou começaram a funcionar na Bahia, 23,0% (8.778) morreram antes de completar um ano. Mais da metade (61,2% ou 23.373) fecharam as portas antes de completar 5 anos, em 2014. Apenas 7.817 (20,5% das criadas em 2009) ainda estavam em atividade dez anos depois, em 2019. Ou seja, 79,5% (30.351 unidades empresariais) fracassaram em menos de dez anos de funcionamento.>
Diante desse cenário, a taxa de sobrevivência de dez anos das empresas baianas passou de 21,7% em 2018, para 20,5% em 2019 e confirmou a tendência de queda em 2020, quando registrou 18,3%.>
Quando dá errado >
Uma dessas 1404 empresas que fecharam ainda este ano sem completar 365 dias na ativa foi a de Tércio, do começo da reportagem. Ele conta que nos primeiros dois meses de funcionamento, o negócio deu lucro. No entanto, os ganhos foram diluindo e, nos últimos dois meses de gestão, os sócios estavam arcando com prejuízos, o que inviabilizou a continuidade do negócio. >
"A hamburgueria nunca foi a prioridade de nenhum dos sócios, cada um tinha sua vida profissional externa a isso. Começamos a pecar em gestão, como controle de descarte, avaliação do custo de mercadoria vendida e outros pontos que nos levaram aos prejuízos", relata ele.>
Os valores de mercado e a dificuldade em gestão fizeram mais vítimas entre os novos empresários no estado. Nutricionista, Sheila Paumann, 32, conduziu a Simplesfit, uma empresa que comercializava marmitas congeladas, até julho deste ano, em Salvador. O negócio deixou de existir por conta da elevação dos custos de produção das refeições. >
"Eu e minha sócia fizemos um planejamento com os custos de 2021, quando começamos. Porém, maquinário e tudo que precisávamos triplicou de valor. A gente chegou a pegar o quilo do tomate por R$ 10, coisas que não dava para esperar", fala.>
Com os custos lá em cima, a Simplesfit precisou aumentar os valores cobrados pelas marmitas que produzia. No entanto, por não conseguir pagar mais caro, muitos clientes precisaram deixar de consumir o produto.>
"A marmita mais barata era de R$ 16, no começo. Depois, passou a ser R$ 19. Quando o pessoal saía [clientes desistiam das encomendas], falava que era pela situação econômica, por não conseguir arcar com os valores. Chegamos a ter 50 clientes, mas, quando fechamos, eram entre 15 e 20 pessoas", conta Sheila, que precisou fechar para não falir depois de pouco mais de um ano funcionando>
Pandemia ainda reflete no fechamento de negócios>
A pandemia ainda é a vilã para o fechamento de empresas no caso dos números levantados pelo IBGE em relação a 2020, aponta Luiz Mário, especialista da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). "O comércio e serviços foram as empresas que mais sofreram pelo fechamento.>
Principalmente aquelas que estavam começando as atividades, que abriram as portas em 2020 e não conseguiram demanda para se manter", afirma.>
No caso da sequência de fechamentos em 2021 e 2022, Anderson Teixeira, economista e analista do Sebrae, avalia que a situação tem a ver com a origem dos negócios: "57% dos baianos que abriram empresas estavam desempregados. Ou seja, boa parte dos que iniciaram o processo não fizeram isso por uma oportunidade de mercado, mas sim por necessidade. Eram pessoas que precisavam de renda".>
Paralelo ao fato de surgirem fora da situação ideal, Teixeira diz que, em muitos casos, os empresários atribuíram o insucesso à falta de preparo para o desafio.>
"Aliado à questão de empreender por necessidade, os empresários não buscaram a qualificação para si e a equipe. O que aponta para falta de experiência no ramo em que eles foram empreender".>
Saiba o que fazer para não fechar a empresa:>
Planejamento - Antes de abrir um negócio, independente de qual seja o setor, é preciso entender o modelo adequado, saber quem é seu público e ver se é viável a empresa ser ins- talada no ponto disponível;>
Capital - É importante verificar linhas de financiamento em mais de um banco e pegar a menor taxa de juros caso seja necessário investir no seu negócio, para não se prejudicar financeiramente;>
Qualificação - É fundamental investir em todos os recursos da empresa. Em quem comanda e em quem trabalha em cada área. O conhecimento permitirá sucesso no seu setor>