Que alimentos que foram os 'vilões' e 'mocinhos' na ida ao supermercado em 2021?

Açúcar, carne e café: levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) traz lista com os itens que mais pesaram e os que mais aliviaram o orçamento das famílias

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  • Priscila Natividade

Publicado em 3 de janeiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Shutterstock

A professora Andréia Santos, 63 anos, gastava em torno de R$ 400 por mês no supermercado. Porém, fechou o ano pagando quase o dobro, mesmo cortando produtos que nem imaginava, como o açúcar, por exemplo. “Gasto quase R$ 800. Passei a tomar café e suco sem açúcar. A princípio, eu achei que não iria me adequar. Mas além de ser mais saudável foi uma economia certa. Comecei a consumir também menos carne e mais ovo. Optei por comprar mais raízes como batata-doce e fui fazendo essas trocas e adaptações. Ainda assim, gastei muito além do que cabia no meu orçamento”.

Quem não viveu essa mesma situação que Andréia no ano que passou? Diante de um 2021 que deve deixar de presente uma inflação de dois dígitos – coisa que não acontecia desde 2015 -  o consumidor sabe bem o que sofreu em cada ida ao supermercado. Diante desse cenário, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) fez uma lista com os  alimentos que mais dispararam de preço no país e os  que mais recuaram nos últimos 12 meses, até o novembro.

E no topo da lista está o açúcar refinado, que subiu 53,05%. O maracujá (52,02%), seguido por filé mignon (39,07%) e café em pó (38,69%) vieram logo em seguida entre os vilões. Alimentos preparados e congelados de carne bovina (33,71%) e o frango em pedaços subiram 28,68%. O economista e pesquisador do IBRE, responsável pelo levantamento, Matheus Peçanha explica que boa parte da inflação nos alimentos em 2021 foi decorrente cenário climático que impactou a produção agrícola brasileira até meados de outubro. Outro motivo veio do aumento do custo de alimentação dos animais, altamente dependentes do milho e da soja.“Mesmo agora com a melhoria no cenário climático, há alguma demora no repasse da queda pela cadeia, além de outros custos que ainda impactam esse mercado, como o diesel em virtude do preço dos fretes”, analisa.Mas, se por um lado, tiveram os alimentos que fizeram com que muita gente gastasse mais do que esperava, houve produtos que aliviaram mais o bolso, como o preço do limão caiu 18,50%, o da maçã 16,30% e o da banana-da-terra recuou 11,05%. Já o arroz variou -8,27% e o feijão mulatinho -2,02%.

No caso do professor Abraão Oliveira, 40 anos, as despesas com alimentação passaram de R$ 1,2 mil, situação que o levou a optar por comprar mais em atacado e congelar todas as sobras para não perder nada e zerar qualquer desperdício.

“Foi um ano extremamente difícil porque, de fato, foi possível perceber claramente o aumento de preço em diversos produtos, por mais que eu tentasse economizar mudando os locais de compra e a quantidade. Já vivíamos um ano atípico por conta da pandemia, mas, mesmo assim, esses gastos se superaram bastante com relação a 2020”.  

O economista e Conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-BA),  Edval Landulfo, acrescenta ainda que a desvalorização do real e o dólar fortaleceram a alta dos vilões, assim como a crise hídrica. Não foi um ano fácil para ninguém. Isso sem contar o enfrentamento de outros sucessivos aumentos nas despesas com energia elétrica, gás e combustível.

“A alta do dólar favoreceu muito para os produtores brasileiros venderem para o mercado externo, ao invés do mercado interno, porque vender em dólar era muito mais vantajoso do que em reais, diante da desvalorização da nossa moeda. Então, o frango, a carne bovina, o trigo, a soja e outros grãos causaram um impacto negativo em vários alimentos e o consumidor pagou muito caro por isso e por outros produtos e serviços de primeira necessidade também”.

Aperto continua Por mais que o bolso tenha sentido o peso desse aumento no ano que passou, infelizmente, não vai ser agora que o gasto com o supermercado vai aliviar o orçamento. De acordo com o educador financeiro Antônio Carvalho, o sacrifício para equilibrar as contas, continua.  “Embora seja difícil fazer prognósticos exatos do comportamento da economia e o IPCA (principal índice da inflação)  tenha recuado um pouco no último trimestre de 2021, por mais otimista que sejamos, devemos esperar ainda nos primeiros meses de 2022 a continuidade dos aumentos, ainda como reflexo do ritmo do ano anterior”, comenta.No momento, umas das saídas é reduzir as compras dos itens mais caros para provocar uma queda na demanda. “Existe o oportunismo do empresariado que, ao longo da pandemia, foi experimentando preços mais altos e, como as vendas continuaram altas, mantiveram o ritmo de aumento, gerando o que chamamos inflação de demanda. Cabe então ao consumidor pesquisar preços, buscar marcas mais baratas e produtos substitutos, que possam atender a mesma necessidade”, aconselha.

Já para a educadora financeira Renata Maia, é necessário ter cautela, sobretudo, diante das despesas de início de ano. “A situação econômica permanece incerta. Eu enxergo como saída uma educação financeira que permita o consumidor ser independente de cenários. Por mais que haja uma interferência entre altas e baixas de inflação, independente do quadro que o mesmo se encontre, o controle, organização e planejamento vão contribuir para que esse consumidor possa fazer um reajuste orçamentário quando precisar”.

OS VILÕES DA INFLAÇÃO DOS ALIMENTOS

. Açúcar refinado (53,05%) . Maracujá (52,02%) . Filé mignon (39,07%) . Café em pó (38,09%) . Alimentos preparados congelados de carne bovina (33,71%) . Pimentão (31,68%) . Açúcar cristal (31,25%) . Frango em pedaços (28,68%) . Feijão fradinho (25,97%)

OS MOCINHOS DA INFLAÇÃO DOS ALIMENTOS

. Fígado bovino (-0,37%) . Sucos de fruta (-0,66%) . Pernil suíno (-1,27%) . Uva (-1,84%) . Feijão-mulatinho (-2,02%) . Banana d’água ou nanica (-4,17%) . Arroz (-8,27%) . Banana-da-terra (-11,05%) . Maçã (-16,30%) . Limão (-18,50%)  

Fonte: FGV