'Queremos que o PM pague por isso', diz pai de filho morto em abordagem

Jovem de 17 anos atingido na cabeça na Lagoa do Abaeté

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  • Eduardo Dias

Publicado em 16 de julho de 2019 às 18:27

- Atualizado há um ano

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Familiares e amigos do estudante realizaram manifestação nesta terça-feira (16) (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Acuados e com medo de mostrar o rosto, familiares e amigos do estudante Bruno Damasceno Brito, 17 anos, morto após abordagem policial na Lagoa do Abaeté, em Itapuã, na última quinta-feira (11), se reuniram na manhã desta terça-feira (16), em frente ao Colégio Estadual Mestre Paulo dos Anjos, no bairro da paz, onde estudava o jovem, para realizar um protesto.

Segundo a família, Bruno tinha um quadro de deficiência neurológica e epilepsia. Na última quinta, ele e o irmão havia passado a tarde pescando na Lagoa do Abaeté, quando foram abordados por policiais militares.

Segundo o pai de Bruno, o armador de ferragens Antônio José Silva Brito, 42, o intuito do protesto é não deixar impune o assassinato de seu filho.“Nós queremos justiça, queremos saber quem fez isso com meu filho e exigir que essa pessoa [PM] pague por isso. Queremos que os amigos dele do colégio e suas famílias nos ajudem e nos apoiem para que isso não fique impune. Meu filho era um bom menino, era artesão, fazia as pulseiras dele para vender e, além de tudo, era um menino cristão. Ele frequentava a igreja, participava dos encontros com jovens. Não consigo entender como isso pôde acontecer com ele”, disse.Antônio também contou que não se separava de seu filho. Na última vez que ele pescou, estava acompanhado de Bruno. No entanto, a pescaria não rendeu muitos peixes e o único que pegaram escapou da rede.

“Ele nunca saía sem minha permissão. Mas ele estava com isso do peixe ter escapado na cabeça, e decidiu ir só com o irmão. Ele queria provar que conseguiria pegar o peixe para mim. Infelizmente, não foi possível e aconteceu isso”, contou.

O CORREIO acompanhou o protesto, que se concentrou em frente ao colégio, de forma silenciosa, apenas com os manifestantes portando cartazes, e conversou com alguns alunos, que não quiseram se identificar.

A reportagem voltou a procurar a Polícia Militar nesta terça-feira e, por meio de nota, a corporação reafirmou que o caso está sendo investigado por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM). "Todos os envolvidos estão sendo ouvidos para que os fatos sejam esclarecidos", se limitou a dizer a PM, que não respondeu o questionamento sobre quantos militares participaram da abordagem.

'Menino tranquilo' Eles afirmaram que Bruno era um menino tranquilo, paciente e bastante amigo de todos do colégio, não só de sua turma, o 1º ano do ensino médio. Pai da vítima, Antônio José Silva cobra respostas (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) “Ele era um menino bom e não mexia com ninguém, por isso ninguém mexia com ele também. Ele andava sempre sorrindo, participava de tudo que o colégio promovia, do grupo de jovens da igreja aqui do lado também. Ele não merecia esse fim. Quando eu recebi a notícia da morte dele eu fiquei chocada, nunca imaginaria que pudesse acontecer isso com ele, estamos muito tristes e abalados ainda”, contou uma aluna.

Um outro estudante, colega de sala de Bruno, afirmou que ele era um bom aluno e muito apegado aos amigos. “Bruno se preocupava com todos. Quando um da gente faltava, no outro dia ele queria saber o porquê, se tinha acontecido algo com um de nós. Ele gostava muito da turma, era muito resenheiro. Me falaram no outro dia sobre a morte dele. Liguei para o pai dele para confirmar, e ele disse que era verdade. Foi uma tristeza grande, eu fiquei sem chão. A vida dele era de casa para o colégio ou para a igreja, mas ele gostava mesmo era de ficar em casa fazendo as pulseiras dele”, disse o estudante.

Bruno confeccionava pulseiras para vender no colégio, por R$ 2, e ajudar os pais no que precisasse.

“Ele vendia essas pulseiras todos os dias aqui no colégio, era o hobby dele. Nós ajudávamos, comprávamos as que ele tinha, pedíamos para fazer mais, por encomenda. Conhecia ele desde pequeno, jogávamos bola juntos, fazíamos os trabalhos das disciplinas juntos também. Ele sempre tirava boas notas. Ele era só alegria, não falava do problema de saúde dele nem nada, eram só sorrisos”, contou outro estudante próximo de Bruno.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier