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Nilson Marinho
Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 14:50
- Atualizado há 2 anos
Dois ônibus chegaram no Cemitério Municipal de Paripe por volta das 9h desta sexta-feira (26) lotados com os familiares, vizinhos e amigos de Geovanna Nogueira da Paixão, 11 anos, morta com um tiro na cabeça durante uma incursão policial na Comunidade Paz e Vida, bairro de Jardim Santo Inácio, em Salvador, na manhã de quarta-feira (24). >
O sepultamento da garota estava marcado para acontecer às 10h, mas, somente às 12h15, o corpo de Geovanna chegou ao cemitério. Enquanto a família e amigos velavam o corpo da menina, grupo especial da Polícia Militar reforçou o policiamento na região. >
Da família de Geovanna, estavam a mãe, Maria Ângela de Jesus Nogueira, 34, a avó materna, Valdete da Paixão, 66, o pai, José Luiz da paixão, 36, além do tio e do avô. Foi a mãe quem acompanhou a liberação do corpo da filha no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML)."Eu quero que os policiais sintam remorso. A cena da minha filha morta ninguém vai tirar da minha cabeça. Infelizmente, nada vai trazer a vida dela de volta", lamentou Maria Ângela.A avô, abalada, cobrou mais uma vez das autoridades a resolução do caso. Ela e os moradores da comunidade culpam os policiais pela morte de Geovanna. "Eles chegaram atirando e ela caiu paradinha no chão. O que eu quero é que não mintam, que parem de dizer que foi troca tiros. Não foi", afirmou a avó. >
O corpo da garota foi velado por cerca de 30 minutos na capela do cemitério. Colegas da Escola Municipal Jardim Santo Inácio e amigos do bairro estiveram no sepultamento, muito deles tinham escrito nos braços: "luto, Geovanna". Boa parte deles, estiveram brincando com a menina um dia antes da sua morte.>
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Durante o sepultamento, o pai e uma vizinha desmaiaram e tiveram que ser carregados. Crianças também precisaram ser amparadas pelos pais. "Todos os dias, Geovanna me ajudava a arrumar a igreja da comunidade. Lamentável. Um menina inteligente que fazia aulas de capoeira na comunidade e de violino", contou uma vizinha sem se identificar. >
O ex-militar Milton Bonfim, 33, saía de casa para trabalhar quando presenciou o crime. Foi ele quem, com a ajuda dos policiais militares, levou Geovanna até a Unidade de Pronto Atendimento de Pirajá. >
"Eu não desejo essa dor pra nenhum inimigo. Foi um fato que poderia ser evitado, porque eu já entrei várias vezes em comunidades com armamento na mão e nunca ocorreu isso", disse o ex-militar que é pai de duas crianças, uma delas da mesma idade da Geovanna.>
Reforço O policiamento nos bairros da Mata Escura e Jardim Santo Inácio foi reforçado após a morte da garota Geovanna. Nesta sexta (26), a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Companhia de Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) do Batalhão de Choque está nos bairros em busca dos criminosos que trocaram tiros com a Polícia Militar, resultando na morte da menina.>
Segundo a SSP, eles também são responsáveis por atear fogo a um ônibus no Jardim Santo Inácio na manhã de ontem. “Todos os policiais ficaram sentidos. Somos pais também. A quadrilha está identificada e vamos trabalhar para tirá-la de circulação", disse o comandante da 48ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Sussuarana), o major César Souza Ferreira, que atua na região. >
Em nota, a Polícia Militar informou que está apurando o caso. "O Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado no mesmo dia do ocorrido, inclusive na mesma data os familiares foram ouvidos, bem como foi realizada a perícia em local da ocorrência, as armas foram recolhidas para perícia no DPT, entre outros procedimentos que fazem parte do IPM. O prazo de apuração é de 40 dias, podendo ser prorrogável por mais 20 dias, e a corporação só irá se posicionar após a conclusão do inquérito", afirmou a PM, em nota. >
Versões “Não houve troca de tiros. Os PMs chegaram atirando. Desde ontem que estão fazendo isso”. O relato é da mãe de Geovanna, a auxiliar de serviços gerais Maria Ângela Nogueira. Diferente da versão contada pelos policiais militares, que alegaram ter sido recebidos a tiros por bandidos, na comunidade Paz e Vida, na manhã de quarta-feira (24), Maria Ângela afirmou que tudo estava tranquilo na rua, quando os policiais chegaram. Vizinhos confirmaram que esta é uma prática comum por parte dos agentes. >