Quino: Famosos lamentam a morte do criador da personagem Mafalda

Cartunista que morreu aos 88 anos era considerado o mais internacional da língua espanhola

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  • Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2020 às 15:54

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Alejandro Pagni/AFP

A morte de Joaquín Salvador Lavado gerou comoção ao redor do mundo. Quino, como era mais conhecido, foi criador da personagem Mafalda e nos deixou aos 88 anos. Há alguns anos, o autor, que havia se mudado de Buenos Aires para Mendoza no fim de 2017 após ficar viúvo, sofria problemas de saúde, embora tenha continuado a participar de várias homenagens à sua obra.

Dos brasileiros Emicida, Laerte e Paulo Coelho até seus discípulos como o argentino Miguel Rep, foram várias as homenagens ao famoso cartunista. Emicida escreveu uma mensagem de agradecimento ao "Mestre Eterno", junto a uma foto com seis livros de Quino.Obrigado Quino. Mestre eterno. ❤❤❤???? pic.twitter.com/mBLeIhFeym

— emicida (@emicida) September 30, 2020Também no Twitter, Laerte Coutinho escreveu: "acabei de saber que o Quino morreu. Ô coisa triste" e também lembrou de um cartum que fez em homenagem a Quino.

No desenho, Laerte apontava para Mafalda, que sorria em um tribunal enquanto era apontada pelo lápis de Larte: "foi ELA, Meritíssimo! Que me levou a tudo isto!", dizia.

essa eu fiz em 2014, em homenagem ao Quino: pic.twitter.com/kwYURWegcy

— Laerte Coutinho (@LaerteCoutinho1) September 30, 2020Na Argentina, o seu discípulo Miguel Rep afirmou que perdeu o seu segundo pai. Ele fez um desenho de Quino como se fosse o personagem Pequeno Príncipe, do livro de Saint-Exupéry, sendo puxado em direção ao céu estrelado por vários pássaros."O verdadeiro Pequeno Príncipe era Quino", escreveu Miguel Rep em sua ilustração.

O humorista argentino Matzorama publicou a tirinha de Mafalda que recorda ser a primeira que viu na vida e disse que desde então se apaixonou pelo humor e por tudo que Quino fazia. E também fez um pedido: "se tem uma tirinha favorita, compartilhe. E em vez de lamentar, festejemos o legado que nos deixou em vida".

Me acuerdo el día y el lugar en el que vi esta tira y me estallé como nunca. Desde ahí me enamoré del humor y de lo que hacía Quino. Si tenes una tira favorita suya compartila y en vez de lamentar su partida, festejemos el legado que nos dejó en vida! ???? pic.twitter.com/c8D0sofLPc

— MATZORAMA (@matzorama) September 30, 2020Carreira A carreira de Quino começou em 1950, desenhando para publicidade e colaborando com algumas páginas de humor, mas sem grande impacto e ouvindo muitos nãos.

Sua criação mais conhecida, Mafalda foi concebida em 1963 para uma propaganda da linha de produtos Mansfield, da metalúrgica Siam Di Tella. Os produtos nunca chegaram a ser comercializados e a peça publicitária nunca saiu do papel. A personagem, no entanto, ganhou o mundo e se tornou uma das mais ilustres dos quadrinhos.

A princípio, Quino ofereceu sua tira ao jornal Clarín, que a recusou por se tratar de uma peça publicitária. No entanto, a revista Primera Plana aceitou lançar as tirinhas, caso o artista retirasse as menções aos produtos anunciados. Em 29 de setembro de 1964, Mafalda ganhava as páginas pela primeira vez. No ano seguinte, Quino passou a publicar a tira no jornal El Mundo e, em 1968, no semanário Siete Días Ilustrados.

A inspiração para os traços veio dos cartunistas americanos, especialmente Charles M. Schulz, criador do Snoopy. A comparação com Snoopy e A Turma da Mônica, talvez as duas mais longevas tiras da imprensa mundial, pode fazer parecer que Mafalda foi publicada por muitos anos. No entanto, sua publicação cessou em 1973 e, desde então, Quino fez apenas algumas tiras para ocasiões especiais.

Apesar de ter durado menos de uma década e ter sido descontinuada há 47 anos, Mafalda conseguiu o que pouquíssimos cartuns foram capazes: comentar no calor dos fatos o cenário político argentino e mundial, e se manter atual e atemporal muitos anos depois.

Mafalda é presença comum até hoje em provas de escola e vestibulares universitários. Embora ela e seus amigos Miguelito, Manolito, Susanita e Felipe sejam apenas crianças, em vez de limitar as temáticas do crescimento, da relação com os pais e da vida escolar, Quino conseguiu inserir nesse ambiente infantojuvenil uma mordaz sátira do mundo contemporâneo, observando assuntos delicados em plena guerra fria.

Direitos humanos, aquecimento global, ameaça nuclear, instabilidade política... Tais temas não parecem tão adequados às crianças, mas Quino soube como poucos cartunistas imiscuir seu comentário social em meio aos carismáticos personagens que criou. Nas tiras de Quino, quem diria, até mesmo o planeta Terra é um personagem, representado pela alegoria do globo terrestre com quem a protagonista insiste em interagir, conversar e desabafar. (Com agências internacionais).