Raio-x de arcada dentária de italiano é compatível com corpo carbonizado

Luca Romania, 41 anos, está desaparecido desde sábado (24)

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  • Bruno Wendel

Publicado em 3 de setembro de 2019 às 16:19

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

O raio-x da arcada dentária enviada pela família do italiano Luca Romania, 41 anos, ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) é compatível com um dos corpos encontrados carbonizados dentro de um carro em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). A informação foi repassada ao CORREIO pelo Consulado Honorário da Itália, em Salvador.

“Recebemos uma ligação do DPT informando a compatibilidade entre o corpo e o raio-x da arcada dentária enviada pela família. Mas, o procedimento precisa ser oficializado. Isso porque o raio-x não foi enviado através de um procedimento oficial. É preciso que seja juramentado, ou seja, reconhecido como documento na Itália, traduzido por tradutor autorizado e enviado pelo consulado”, declarou Andrea Garziera, cônsul da Itália na Bahia. O CORREIO procurou a assessoria de comunicação do DPT, que informou que não comenta resultado de laudo. 

A Polícia Civil disse que a 22ª Delegacia (Simões Filho) continua as investigações sobre a morte de duas pessoas que tiveram os corpos encontrados carbonizados dentro de um veículo Chevrolet Onix, na rotatória da Coca-Cola, no domingo (25). Os corpos estavam totalmente carbonizados, não sendo possível identificar nem o sexo das vítimas. O veículo era alugado pelo proprietário, para realizar transporte por aplicativo.  

Garziera disse que a família do italiano não sabe dizer quem é a outra pessoa que estava dentro do carro carbonizado. “Eles não sabem de nada. Estão surpresos e abalados. A polícia está investigando tudo e a família está colaborando como pode”, disse o cônsul.   Foto: Divulgação Luca foi investigado por tráfico internacional de drogas pela Justiça italiana. Em 2007, o governo brasileiro recebeu um pedido de cooperação da embaixada italiana. Em relação à investigação da justiça italiana, o cônsul disse: “Na verdade tenho registro a respeito disso, mas não sei de mais nada porque na ocasião eu não estava aqui no cargo”. 

Sobre o fato da condenação de Luca no Brasil, pelo crime de associação ao tráfico de drogas, a resposta do cônsul não foi diferente. “Sim, também tenho conhecimento, mas também não estava no cargo”, declarou o cônsul ao ser indagado sobre a investigação.

O CORREIO perguntou também sobre o fato de o italiano ser réu de dois processos – um deles por agressão ao filho que teve com uma baiana e o outro relacionado à guarda do menino. “Isso tudo aconteceu antes de eu ser nomeado em 2018”, finalizou.

Familiares de Luca que moram em Salvador acreditam que o corpo carbonizado encontrado dentro do carro em Simões Filho, no dia 25 de agosto, é do italiano.

“Ele estava desaparecido desde sábado (24). Ele foi para o shopping e sumiu. Aí soubemos que ele foi encontrado carbonizado em Simões Filho”, disse uma sobrinha de Luca ao CORREIO, na noite da última sexta-feira (30). Ela não soube informar o que levou a família a acreditar que os restos mortais encontrados são mesmo do italiano.

Cooperação  O CORREIO conversou com uma pessoa que atua na Justiça baiana e apurou que em 2007 o governo brasileiro recebeu um pedido de cooperação da embaixada italiana. O documento, emitido pela Procuradoria da República de Catânia, distrito da Sicília, na Itália, pedia que Luca fosse interrogado em terras brasileiras sobre um suposto envolvimento com tráfico internacional de drogas. Ainda no documento, como prova da acusação, havia trecho de uma conversa entre o italiano e um tio.

Não há informações sobre a conclusão da investigação. O CORREIO conversou com um funcionário da Polícia Federal, que informou que, por conta da prisão, instaurou um inquérito de expulsão para que ele deixasse o país. No entanto, "como foi constatado que ele possuía um filho brasileiro anterior à condenação, isso o impediu de deixar o Brasil".

Condenação  Em 2007, na Bahia, Luca foi preso em flagrante por associação ao tráfico de drogas. A prisão foi realizada por agentes da 9ª Delegacia (Boca do Rio). No ano seguinte, veio a condenação: a seis anos de reclusão e multa – no entanto, a pena foi convertida em prisão domiciliar. A defesa dele recorreu e, durante o trâmite de julgamento em segunda instância, o italiano foi beneficiado por um habeas corpus, respondendo pelo crime em liberdade. 

O funcionário do Judiciário baiano disse ainda ao CORREIO que, quando houve o segundo julgamento, o crime já tinha prescrito devido à morosidade da própria Justiça.  

Processos  Ainda sobre a relação de Luca com a Justiça brasileira, existem dois processos dos quais ele é réu. O primeiro foi instaurado em 2007 na Delegacia Especializada de Repressão ao Crime contra Criança Adolescente (Dercca), e tem como vítima o próprio filho.

“Foi inquérito de lesão corporal relacionado à violência doméstica e já foi remetido para a Justiça”, declarou a delegada Ana Crícia, titular da unidade. O Tribunal de Justiça informou que o processo está na fase da defesa nas alegações finais. 

O segundo processo diz respeito à guarda do menino, que tramita na 10ª Vara de Família. Sobre o caso, o TJ-BA informou que nesta quarta-feira (4) ocorrerá a audiência de instrução e julgamento, ocasião em que serão produzidas as provas “que entenderem de direito, cabendo às próprias partes trazerem suas testemunhas. Intimem-se as partes através dos seus patronos constituídos nos autos para audiência designada, inclusive, deverá a parte Autora trazer o menor (..) pra que seja colhido seu depoimento”. Apesar do desaparecimento de Luca, o TJ-BA informou que a audiência está mantida.