Raul Seixas não entregou Paulo Coelho aos militares, revela documento

Documento publicado numa tese sobre Raul Seixas em 2016 ajuda a desfazer o mistério

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  • Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2020 às 15:21

- Atualizado há um ano

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Um novo documento encontrado 46 anos após a prisão do músico e escritor Paulo Coelho, 72 anos, questiona a hipótese levantada pelo autor Jotabê Medeiros, de que Raul Seixas teria entregado o parceiro aos militares. A versão foi publicada na biografia de Raul, “Não Diga que a Canção Está Perdida”, lançada no ano passado. 

Segundo reportagem publicada pela Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (29), Paulo foi preso e torturado após ser confundido com um militante de esquerda quase homônimo do escritor, que se chama Paulo Coelho de Souza. Paulo Coelho Pinheiro era membro do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, o PCBR, e estava foragido quando Paulo e Raul foram interrogados pelos militares.

Raul, que morreu em 1989, e Coelho foram amigos próximos e parceiros na composição de canções de sucesso como 'Eu nasci há dez mil anos atrás', 'Gita' e 'Sociedade Alternativa', entre outros.

Os documentos acessados por Jotabê, para escrever o livro 'Raul Seixas: Não Diga que a Canção Está Perdida', são do Arquivo Público do Rio. No texto, o autor menciona a proximidade de datas em que o músico prestou depoimento à polícia militar no ano de 1974. 

"Comparei as datas e vi que, entre o primeiro depoimento de Raul ao Dops e o segundo depoimento, no qual ele levou Paulo Coelho, demorou pouquíssimo tempo", disse Jotabê. Os depoimentos de Raul foram seguidos dos depoimentos de Paulo Coelho, assim como sua prisão e a de sua namorada na época, Adalgisa Rios.

O escritor foi torturado por duas semanas. Medeiros escreveu que Paulo Coelho "não tem a menor dúvida , hoje, após ver o documento, que Raul o entregou", escreveu ele na biografia.

Porém, um documento publicado numa tese sobre Raul Seixas, defendida na Universidade de São Paulo, em 2016, ajuda a desfazer o mistério. A ficha policial que aponta quem os militares procuravam mostra na verdade a imagem de Paulo Pinheiro, e não Paulo Coelho. A foto foi confirmada pelo filho do ex-integrante do movimento, o engenheiro ambiental Diogo Pinheiro.“É o nome do meu pai, o partido em que ele atuava e ele já estava foragido. Em 1970, ele conseguiu fugir para a França e escapou de ser preso e torturado. Voltou ao Brasil depois da Anistia e teve uma vida normal até morrer, em 2011”, disse à Folha. "Lamento, porém, que a repressão tenha confundido a identidade dele com a do Paulo escritor e que, por isso, ele tenha sofrido tanto. Sinto muita dor por isso", disse.À época do lançamento da biografia, Paulo Coelho levantou a suspeita sobre a hipótese defendida na nova biografia do roqueiro.

"Começo a ter sérias dúvidas dos documentos que o Jotabê Medeiros me enviou, dizendo e insistindo que Raul tinha me denunciado (emails arquivados). O que se passou entre Raul e eu fica entre nós. Vou deletar o tweet da FSP [Folha de S. Paulo]. Acho que o cara quer apenas vender a porra do livro", escreveu em seu perfil no Twitter nesta quinta-feira (24).