Rede privada de Salvador volta às aulas com protocolos mais rígidos

Exigências para ensino presencial consideram cenário da pandemia

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  • Wendel de Novais

Publicado em 1 de fevereiro de 2022 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Tirar da cama, dar café, banho e levar até a porta da sala de aula. O ritual diário para muitos familiares de estudantes, foi reduzido em algumas escolas da rede privada de educação de Salvador. Na volta às aulas das instituições particulares, nesta segunda-fira (31), o portão da escola passou a ser o novo limite para os responsáveis pelas crianças. 

O protocolo atualizado serve de resposta a alta de casos de covid-19 na capital e foi adotado por instituições como o Colégio Antônio Vieira e o Colégio Montessoriano, que iniciaram o ano letivo presencial ontem. No Montessoriano, por exemplo, cada aluno é recebido por um profissional da instituição ainda na calçada. Tudo para fazer do local um ambiente mais seguro, reduzindo a circulação de pessoas.

A mudança, no entanto, não mudou a alegria dos estudantes no retorno à sala de aula. Com a primeira dose da vacina anticovid no braço, Yasmim Dantas, 10 anos, estuda no 5º ano do Montessoriano e era só animação na primeira aula do ano. "Por mim, nem teria férias. A aula era às 13h e eu fiquei pronta 8h, nem dormi direito. Animada por voltar dessa forma com meus pais mais tranquilos também, já que tomei a vacina assim que liberaram", conta.

Colega de sala Yasmin, Maria Eduarda Bacelar, 10, foi outra que se vacinou. "Queria ver meus colegas, minha professora e está sendo bom voltar. Pra ficar mais segura, tomei a vacina e foi legal, não tive nenhuma reação. Então, tá todo mundo feliz, eu e minha família", garante.

Entre os entrevistados, ninguém marcou bobeira, todos foram vacinados. Emilly Maia, 14, que estuda no 9° ano do Colégio Salesiano Dom Bosco é outro exemplo. Ela comemora a vacinação e a segurança na volta presencial. 

"Eu já tomei duas doses, mas não relaxo com os protocolos. Tudo que os professores orientam para me proteger da covid, sigo. Vejo muitos fazendo o mesmo e fico mais segura. O que é bom porque a dinâmica das aulas é muito melhor na sala", diz.

Coração dos pais

A volta de Emilly para o presencial só aconteceu depois da vacina. Sem isso, ela ainda estaria em casa, como conta a Eliana Maia, 51, professora de artes e mãe da estudante. "Totalmente tranquila a gente não fica, mas confio no colégio e faço minha parte, com vacina e prevenção. Sem a vacina, ela não voltaria. Ano passado, eu não mandei ela pra escola por estar sem a vacina. Só fiz isso após a primeira dose".

A funcionária pública Evanildes Sacramento, 50, mostrou preocupação com a volta do seu filho, que estuda no Montessoriano. O temor, no entanto, se deu por conta dos números da pandemia. "Tô feliz pela volta, mas temerosa pelos índices da covid. Hoje é o primeiro dia de volta às aulas dele depois da pandemia. Então, o nervosismo é grande, mesmo que ele tenha tomado a vacina. Mas vou confiar porque nesse colégio nunca houve casos", afirma.

O filho do advogado Leandro Ferreira, 39, ainda não está vacinado, mas ele confia que, com os protocolos e a prevenção em casa, o pequeno estará seguro. "Estamos bem tranquilos porque a escola foi bem clara de como seria o protocolo. Em casa, estamos vacinados e atentos a todos os cuidados. No caso dele, que tem 6 anos, só não se imunizou porque a gente tá observando o trâmite e vendo a viabilidade ainda", explica.

O que mudou? A tranquilidade dos pais das crianças e adolescentes que retomaram as aulas presenciais se deve à rigidez maior das escolas na hora de estabelecer protocolos de segurança. 

No Montessoriano, além da permissão de entrada apenas para alunos e funcionários, outras exigências foram estabelecidas, diz Luana Brasil, coordenadora da educação infantil e fundamental I da unidade. "Além da recomendação de vacinação para os pequenos que agora podem se vacinar, exigimos de todos os funcionários daqui o cartão de vacina. Sem isso não tem acesso. As crianças a partir de 12 anos também precisam estar vacinadas, exigimos isso".

Ela afirma ainda que as escolhas foram baseadas nas indicações de profissionais e na experiência com as aulas no ano passado. "Não somos mais inexperientes, estamos prontos para fazer ajustes. E vamos atualizando protocolos de acordo com o quadro que se apresenta para manter as crianças protegidas", salienta.

No Salesiano Dom Bosco, que está limitando o fluxo de pais na instituição, os protocolos foram reforçados, mas só há exigência de vacinação para os funcionários. Por lá, o coordenador pedagógico Robério Sinfronio diz que a principal mudança é na orientação em relação aos cuidados sanitários."Focamos na orientação pedagógica. Agora, aumentamos a conversa, fazemos palestras e trazemos profissionais. Temos um acompanhamento mais direto com os pais, através de lives, para tranquilizá-los sobre as principais dúvidas", diz. Aulas voltaram hoje no Salesiano (Foto: Reprodução) Associações apoiam volta

Jorge Tadeu, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Sinepe), manifestou apoio ao retorno, mesmo com o número alto de casos da covid-19.

"Somos favoráveis ao retorno. Não orientamos a solicitação de atestados de vacinação porque não é obrigado pelo Ministério da Educação e, por se tratar de uma vacina nova, temos que compreender que existem pessoas que não se sentem seguras", afirmou, ressaltando que o sindicato é a favor da vacinação e acredita em campanhas internas de imunização.

Porta-voz do Grupo de Valorização da Educação (GVE), união de mais de 65 escolas privadas de Salvador e Lauro de Freitas, Wilson Abdon também manifestou apoio à volta. "Nós defendemos o retorno e estamos atualizando constantemente os protocolos para maior segurança. Sabemos ainda que as escolas não são vetores de aumento nos índices de contaminação e sim outros locais", declara.

Infectologista da S.O.S Vida, Matheus Todt, afirma que as escolas são um ambiente de contaminação e por isso é preciso cuidado. "As instituições de ensino são locais com muita contaminação, perdendo apenas, se não me engano, para eventos. Um dado preocupante, considerando a maior média de casos desde o início da pandemia", pontua.

Ainda segundo Todt, o momento não é apropriado para o retorno, apesar da escola precisar ser vista como prioridade de funcionamento. "Em tese, não seria o melhor momento porque precisaríamos de números em queda, população altamente vacinada e leitos garantidos para todos. E não temos nada disso. Porém, deixar bares e shoppings abertos e fechar escolas não faz sentido", conclui.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro