Relaxe e sinta a natureza: Aldeia Hippie de Arembepe foi destaque em 1993

Caderno do CORREIO sobre Litoral Norte falou da tranquilidade da vila de pescadores no litoral baiano

Publicado em 26 de setembro de 2021 às 11:00

- Atualizado há um ano

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Estacione e sinta a natureza nos pés, dizia placa na Aldeia Hippie de Arembepe em janeiro de 1993 (Foto: Debora Paes/Arquivo CORREIO) Um dia num quarto de uma das casas simples na Aldeia Hippie de Arembepe, no Litoral Norte da Bahia, podia custar Cr$ 50 mil, independente do número de pessoas. Ou um pouco mais, Cr$ 80 mil, avaliava, em janeiro de 1993, uma moradora da aldeia chamada Vera. Antes de responder à pergunta de um casal de turistas com dois preços cuja variação chegava a Cr$ 30 mil, Vera soltou um longo suspiro, como quem diz: ‘Relaxem, curtam a paisagem e a natureza, depois a gente vê isso’. Sem muita alternativa, os turistas arriavam as malas e aproveitavam a brisa - do mar.

Era verão de 1993, há 28 anos, e o CORREIO publicava um caderno especial sobre o Litoral Norte numa sexta-feira, dia 29 de janeiro. Além da Aldeia Hippie de Arembepe, o caderno falava da Praia do Forte, Praia de Aleluia, Imbassaí, Vilas do Atlântico, Buraquinho, Ipitanga e outros locais que despontavam como destinos para finais de semana agitados – ou apenas para descansar, como era o caso de Arembepe.

A tranquilidade, aliás, era o grande trunfo da Aldeia Hippie do lugar, quebrada apenas nos primeiros dias do mês de março, quando, após a Quarta-feira de Cinzas, acontecia a Lavagem de Arembepe e as pequenas ruas da vila eram tomadas por turistas.“Nem mesmo os trabalhos da base e centro de visitação do Projeto Tamar conseguiram abalar o ritmo lento da vila. A base de Arembepe começou a funcionar há um ano. Na praia, os pescadores se abrigam nas sombras das barracas depois de uma manhã no mar. Os barcos ficam atolados na areia à maré baixa. Se os arrecifes possibilitam banhos em piscininhas naturais, promovem um espetáculo com as ondas quebrando nas pedras”, dizia um trecho da reportagem de página inteira publicada pelo jornal naquele ano só para falar de Arembepe e da Aldeia Hippie de lá.Naquela época, Arembepe era tão sinônimo de Litoral Norte da Bahia como, hoje, parecer ser esse o posto da Praia do Forte. E tinha Arembepe para os gostos mais variados: desde a tranquilidade da vila dos pescadores até a aldeia desbravada pelos hippies e a parte chamada de Piruí, com ares de balneário e cheia de mansões.

“Arembepe, um nome de origem tupi que significa em torno da gente ou à borda da população, é sinônimo de descanso e liberdade desde os verões da década de 60”, dizia outro trecho da reportagem.

Ilustres Embora já existisse, lá mesmo, uma área destinada às grandes mansões, o boom imobiliário que começava a atingir o Litoral Norte passava longe da Aldeia Hippie. O lugar vivia o mesmo clima dos anos 1960, quando a aldeia parece ter nascido, pelo menos para o mundo. Em 2017, o repórter Alexandre Lyrio contou no CORREIO os 50 anos da Aldeia Hippie, marcados por uma foto feita lá mesmo no verão de 1968, em que Mick Jagger tocava violão na varanda de uma casa ao lado da namorada Mariane Faithfull, do filho Nicholas e de alguns nativos. Arembepe, no início dos anos 1990, era praticamente sinônimo de Litoral Norte (Foto: Debora Paes/Arquivo CORREIO) É claro que já havia hippies por ali antes disso, mas a foto acabou virando um marco. Além de Jagger, outros famosos curtiram seus dias em Arembepe, como Jack Nicholson, Roman Polanski, Jessel Buss, Denis Hopper e Janis Joplin, que se hospedou na Casa do Sol e até namorou um nativo, no verão de 1970.“A maioria das pessoas que teve contato com Janis já morreu ou não mora mais aqui, como o pescador Suíca, que namorou com ela e ganhou de presente uma mala cheia de roupas, que ele ficou de me entregar”, revelou o estilista Manu ao CORREIO em 2009, numa reportagem que lembrava os dias de Janis na Bahia no verão de 1970. Além de Arembepe, ela passou por Salvador e fez até topless na praia do Rio Vermelho.Lá em 1993, os nativos pareciam viver a mesma vibe de décadas atrás. “Para os moradores da Aldeia de Arembepe, a poucos quilômetros do centro da vila, a década de 60 não está muito longe. Ser hippie não é moda e Caetano, Gal e Gil formam uma das trilhas musicais permanentes do local. Mais de dez casas se mantêm rústicas com palhas”, dizia mais um trecho da reportagem publicada no cadernno especial.

Mais recentemente, no final de 2020, a prefeitura de Camaçari - cidade à qual Arembepe pertence - anunciou que pretende alavancar o turismo no seu litoral, na Costa dos Coqueiros, o que inclui um projeto de requalificação da Aldeia Hippie de Arembepe. Segundo a prefeitura, vivem na aldeia, hoje, aproximadamente 50 pessoas.