Relembre os principais momentos do julgamento de Kátia Vargas

Médica foi absolvida pelo homicídio, em 2013, dos irmãos Emanuel e Emanuelle

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  • Da Redação

Publicado em 8 de dezembro de 2017 às 03:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: TJ-BA/Divulgação

A expectativa em torno do julgamento da médica Kátia Vargas Leal Pereira durou mais de quatro anos. Ela foi para o banco dos réus, na terça (5) e quarta-feira (6), e acabou inocentada por quatro de sete jurados, que a consideraram inocente da acusação de ter provocado a morte dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes Dias, de 21 e 23 anos, em 11 de outubro de 2013, no bairro de Ondina, em Salvador.

A sentença - da qual o Ministério Público já recorreu - causou revolta na família dos irmãos, que se chocaram violentamente contra um poste, e morreram no local, em frente a um apart hotel. Segundo denúncia do Ministério Público do Estado (MP-BA), Kátia teve uma discussão com Emanuel, no trânsito, e perseguiu o jovem e a irmã, Emanuelle, que estavam a bordo de uma motocicleta, atingindo-os em seguida. A sentença, lida às 19h40 desta quarta, no entanto, torna improcedente o laudo pericial do Departamento de Polícia Técnica (DPT), utilizado na denúncia, e que indica a intenção da médica em atingir o veículo ocupado pelos irmãos.

O caso foi um dos mais comentados e repercutidos nos últimos dias, na Bahia, especialmente nas redes sociais. Nos dois dias de julgamento, o CORREIO fez uma cobertura em tempo real, na entrada do Fórum Ruy Barbosa e dentro do Tribunal do Júri. Confira os momentos mais importantes dessa cobertura, na ordem cronológica dos acontecimentos.

TERÇA-FEIRA, 5 DE DEZEMBRO, PRIMEIRO DIA DO JULGAMENTO

Expectativa para o início do julgamento O júri estava marcado para as 8h, mas por volta das 6h30, uma fila, com cerca de 70 pessoas, já tomava a frente ao Fórum Ruy Barbosa, no Nazaré. O primeiro a chegar foi o estudante de Direito José Roberto Magalhães. Ele apareceu no local às 3h30. "Cheguei cedo porque queria ficar tranquilo. A expectativa é grande, afinal, vai ser um júri técnico que para o meu currículo vai contar muito", relatou ele, que mora no Nazaré. Para organizar a ordem de quem ia chegando, José Roberto fez uma lista com nome e horário de chegada. Fila na porta do Fórum Ruy Barbosa (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) ***

Família angustiada Prima dos irmãos Emanuel e Emanuelle, Mayane Torres também estava na porta do Fórum Ruy Barbosa. "É muita aflição, muita angústia. Ontem (segunda) eu disse que não queria ser da minha família agora, porque a gente estava muito angustiado desde que entrou em dezembro. Que ela seja condenada sim, porque ela cometeu um crime, ela errou", disse a prima. Ela também falou sobre a entrevista exclusiva de Kátia Vargas ao CORREIO.

 "Discordo da matéria [entrevista que Kátia Vargas deu ao CORREIO]. Foi ela que se transformou em monstro", disse Mayane Torres, prima dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes.Cartazes pedem justiça Na porta do Fórum, parentes e amigos dos irmãos Emanuel e Emanuelle se reuniram com cartazes para pedir justiça e a condenação da médica Kátia Vargas Cartazes pedem justiça pela morte dos irmãos (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) ***

Mãe dos irmãos chega ao Fórum Ruy Barbosa A mãe dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes chegou por volta das 6h40 ao Fórum Ruy Barbosa, acompanhada do advogado Daniel Keller."O sentimento é de confiança. Fé em Deus, fé na Justiça. A gente tem que ter, né?", disse a mãe de Emanuel e Emanuelle em entrevista ao CORREIO, ao chegar ao Fórum Ruy Barbosa.

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Ministério Público acredita na condenação"Temos prova da frieza com que foi cometido esse duplo assassinato. Nós vamos começar a apresentar o processo hoje. Vai ser um processo longo. De dois a três dias. Esperamos justiça. Alguns acusados vem, outros não vem. É um direito constitucional. A pena pertence ao juiz. O MP vai apresentar provas, e haja prova ", afirmou Davi Gallo, promotor do Ministério Público. ***

9h27 Começa o ritual de abertura do julgamento. 24 jurados entram no salão do júri. Sete vão ser escolhidos.

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Julgamento atrasa em 1h30. Motivo são questões de acesso de senha de advogados ligados à Ordem dos Advogados do Brasil - seção Bahia (OAB-BA). Eles protestaram e alegaram que teriam direitos de entrar no tribunal.

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9h40 Formado o corpo de jurados Cinco mulheres e dois homens foram escolhidos para serem os jurados que definirão o destino da médica. 

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A 13ª sorteada também se diz impedida por ter feito manifestação em rede social sobre o caso. 

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Oitava sorteada se diz impedida de participar do julgamento porque fez publicação em rede social sobre o caso. 

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A defesa recusou a primeira jurada escolhida. A segunda e a terceria foram aceitas. Defesa recusou a quarta sorteada. Sexto sorteado é recusado pela acusação. Sétima sorteada é recusada pela acusação. Até o momento cinco mulheres já foram sorteadas. 

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Kátia Vargas chora enquanto a juíza lê os impedimentos da escolha dos jurados.

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Bastante emocionada, a mãe dos irmãos Emanuel e Emanuelle, Marinúbia Gomes está sendo abraçada pelo esposo, Otto Malta, padrasto dos jovens.

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Após ver Kátia Vargas pela primeira vez, Marinúbia deixa o local chorando. Ela está do lado de fora do júri, acompanhada de três amigas. 

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Marinúbia Gomes, voltou ao salão do júri, depois ficar cerca de 15 minutos do lado de fora e acompanha agora o primeiro depoimento. Neste momento fala a primeira das cinco testemunhas da acusação: Álvaro Lima Freitas Júnior. 

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"Deus está no controle. A luta é por vitória, é por justiça... que seja feita para as ambas as famílias. É isso que eu quero, é isso que eu peço a Deus", diz Marinúbia Gomes do lado de fora do salão do júri***

Juíza ouve o depoimento das cinco testemunhas de acusação

As cinco testemunhas da acusação foram as primeiras a serem ouvidas.

Veja abaixo os principais pontos de suas falas:

1ª testemunha -  Álvaro Lima Freitas Júnior Primeira testemunha da acusação, Álvaro contou que fazia uma caminhada quando presenciou o acidente. "Eu estava participando de uma caminhada e estava no meu trajeto de retorno, quando ali perto do Salvador Praia Hotel passou por mim um veículo branco, para na sinaleira como se fosse fazer uma conversão à esquerda. Passa uma moto, desvia do carro, dá um tapa na lateral como que reclamando. E aí, desvia. O carro acelera. Eu acompanhei e lá na frente aconteceu", diz. 

A testemunha destacou que a moto seguiu em linha reta e que o carro da médica foi atrás. "Não acompanhei mais a trajetória da moto. A saída do veículo é brusca. Acelerou forte". Apesar de afirmar que testemunhou o tapa no carro de Kátia dado por Emanuel, ele diz que não viu a briga entre eles.  "O tapa foi suficiente para me chamar atenção que era alguma reclamação.  A moto segue adiante e o veículo vai atrás. Fiquei acompanhando a uma determinada distância. A moto tomou a dianteira. É muito difícil estimar a distância". Ele diz ainda que percebeu que aconteceria algum problema entre os envolvidos.

"Eu percebi que o momento em que há um choque o veículo perde o controle. Fiquei preocupado, mas não consegui dizer se houve choque entre os veículos. Quando eu percebi que o veículo perde o controle, fiquei preocupado para prestar algum socorro. Me deparei com a situação mais grave do que eu poderia imaginar".Álvaro contou que não viu a moto fechando o carro, mas imagina que isso foi o que ocorreu. Ele foi repreendido pela juíza, que afirmou que a testemunha só devia falar o que viu. "Eu fiz uma construção mental para entender o tapa e imaginei uma fechada na moto, mas não foi o que vi". (Foto: Arquivo CORREIO) ***

2ª testemunha - Maria Antônia Souza Esta testemuinha afirmou que viu um desentendimento entre o piloto da moto e motorista do carro. "Eu estava vindo no sentido Barra quando presenciei um carro branco e uma moto numa discussão. Eu estava na rua paralela (da escola Dorilândia). O carro estava sentido apart hotel e a moto como se estivesse ao lado do carona. Tinham duas pessoas na moto. Eu vi que quem estava pilotando teve um conflito com a motorista". Ela contou ainda que viu uma gesticulação da parte de Emanuel, que em seguida suspendeu a viseira do capacete. "No momento do tapa no carro eles estavam parados".

O advogado de defesa Rodrigo Dall'Acqua questionou o local que a testemunha estava, já que ela deu informações conflitantes sobre isso em seu depoimento à polícia e no júri. Rodrigo pega um trecho do depoimento da testemunha onde ela fala com bastante convicção que estava na sinaleira que permite acessar Ondina através da Barra quando, na verdade, estava na segunda sinaleira. Ela confirma e depois diz que quando foi convidada a participar da perícia viu exatamente onde estava, que não era na segunda sinaleira.

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3ª testemunha - Arivaldo Lima de Souza.  Ele estava dirigindo e diz que viu o carro da médica bater na moto. Ele foi categórico sobre se houve choque."Não tenho dúvida nenhuma. Eu estava muito próximo, a uns cinco metros talvez um pouco menos". E detalhou: "A frente do carro, lado direito, bateu no fundo da moto, e depois a lateral arremessou a moto contra o poste. Foram dois toques sequenciais e bem rápidos". Depois do acidente, ele diz que desceu e foi até o local em que os irmãos estavam caído, "mas não tinha mais nada a fazer. Tirei a moto de cima dos corpos". 

O advogado de defesa Rodrigo Dall'Acqua questiona a Arivaldo qual a real distância que ele estava do carro da médica. Arivaldo afirma que estava distante cinco metros do Kia Sorento dirigido por Kátia. O advogado rebate a testemunha: "A imagem mostra que o senhor não estava a cinco metros, mas muito atrás", diz. O advogado diz também que as imagens mostram que a moto não estava perto do meio-fio, ao contrário do que disse a testemunha. A testemunha reforça sua versão.

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4º testemunha - Denilson Silva Souza, técnico de equipamentos audivisuais A testemunha relatou que estava trabalhando em um evento no hotel Othon no dia do acidente. "Por volta de 8 e pouca me pediram para ir no outro hotel. Eu estava esperando para atravessar quando ouvi um barulho muito alto. Algo chamou minha atenção e eu vi aquele carro em alta velocidade. Não deu para ver que era uma mulher, pensei 'Esse cara está louco'. Quando passou por mim, vi que era uma mulher. Nisso encostou e empurrou a moto. Eu estava a uns 40, 50 metros, porque estava na sinaleira. A colisão foi logo em seguida", diz."A moto estava em velocidade razoável. O que chamou minha atenção foi o barulho alto de motor do carro. Foi muito rápido e o carro veio desenvolvendo uma velocidade muito rápida. Sabe quando um leão vem correndo pegar a presa? Foi a impressão que eu tive. Ela chegou no fundo, o carro balançou um pouco e ela jogou para a esquerda e pareou. No que pareou, encostou de vez", afirmou.Denilson afirmou ainda que depois do acidente ligou para a mãe e falou: 'presenciei um assassinato'. Ele continuou com sua rotina e só foi até a delegacia na segunda-feira, três dias após o acidente. Ele afirmou que viu uma reportagem com Marinúbia, mãe dos irmãos, pedindo que quem tivesse visto algo procurasse as autoridades.

O advogado de defesa, Dall'Acqua, também questionpu a distância em que Denilson estava. Segundo ele as imagens de reprodução do dia indicam que Denilson estava a uma distância de 110 metros do poste onde ocorreu o acidente, enquanto ele estimou que estaria a cerca de 40 metros de onde foi a colisão. "Não posso dizer que me equivoquei porque não calculei. Era a minha sensação mas nao tenho como precisar. 'Se o senhor esta dizendo (110m), então é', diz a testemunha. O defensor também sinalizou que a testemunha Ariovaldo, ouvida pela manhã, afirmou estar a cinco metros do carro de Kátia."Não me lembro de ter visto esse carro não. Tão próximo assim, não. Se ele estivesse aí, eu não teria como ver o que eu vi. Ele podia estar passando, mas no momento da colisão ele não estava aí", responde Denilson. (Foto: Arquivo CORREIO) ***

5ª testemunha - Felipe Martins de Almeida Souza, jornalista A testemunha contou que tinha acabado de deixar a esposa no trabalho e seguia de carro. "Retornei no sentido Barra e estava passando na localidade. Pude presenciar uma moto e um carro seguindo atrás da moto em alta velocidade. O carro se choca com a lateral e a dianteira da moto", diz. Ele não tem dúvidas de que houve choque. 'O carro colidiu com a moto pela lateral'.

De acordo com o jornalista, depois do acidente ele foi até o local para tentar ajudar os feridos. "Eles se chocaram ao poste. Me dirigi até as vítimas para ver o que podia fazer ou ajudar. Quando cheguei as vítimas não respiravam". 

O advogado voltou a questionar a posição da testemunha no momento do acidente, exibindo um vídeo. "O senhor confirma que o senhor estava exatamente onde colocou na reprodução sinulada? Exatamente ao lado do poste? Virando a cabeça e vendo as vítimas se chocando? Isso é possível de acordo com o vídeo?". Felipe reafirma que estava onde indicou. "Eles estão fazendo movimento no ar e se chocando. Eles não saem direto e batem no poste. Eles praticamente voam. Acredito que a lateral direita do carro se chocou com a lateral esquerda da moto". ***

Juíza ouve o depoimento das cinco testemunhas de defesa

Veja abaixo os principais pontos das falas dessas testemunhas:

1ª testemunha de defesa fala - Alberi Espíndula (perito) Primeira testemunha de defesa, Alberi começa a tentar desconstruir a tese de colisão intencional, levantada pelas testemunhas de acusação e pelos peritos do caso. Ele afirma que ensaios de compatibilidade, geralmente, são compatíveis mas não são conclusivos, e diz que não há chance de ter ocorrido da forma que a perícia aponta. Ele cita, por exemplo, um risco ascendente no carro de Katia, que teria sido feito na colisão com a grade do prédio e não com a moto.

Menciona também que a perícia não levou em consideração o bagageiro, item que muda a dinâmica do veículo - alega que isso não pode ser desconsiderado. Afirma também que na reconstituição do caso usou-se apenas uma pessoa para recompor o cenário, e que isso também muda a percepção sobre o que de fato ocorreu, já que havia duas pessoas na motocicleta.

Após mostrar fotos e vídeos, Alberi questiona uma das testemunhas de defesa. Diz que ele não viu o que ocorreu, de fato. Kátia Vargas olha com cara de choro a todo momento. Mais dois familiares das vítimas deixam o local."Testemunha pode montar algo que aconteceu e acreditar que está falando a verdade. Isso acontece? Aqui, nenhuma testemunha está mentindo. Foi a falta de percepção porque aconteceu com velocidade grande, então, as pessoas não têm condições de ver tudo", diz Alberi Espíndola.A defesa afirma que apenas uma testemunha viu a colisão. O promotor Davi Gallo interfere e diz que, na verdade, foram cinco. Eles dizem que, se a colisão entre o carro e a moto tivesse acontecido, eles iam cair antes, e a morte não iria acontecer.

Promotor Davi Gallo x Perito Alberi Espíndula 

Promotor: O senhor pode nos afirmar categoricamente que não houve choque?  Perito: Não houve.  Promotor: Tem material suficiente pra isso ser dito?  Perito: Não teve.  Promotor: A pergunta foi se é suficiente.  Perito: Eu estou comentando o caso. Promotor: O senhor atribui isso a uma alucinação coletiva naquele dia? Perito: Óbvio que nao foi uma alucinação coletiva. [A defesa afirma que apenas uma testemunha viu a colisão. O promotor diz que foram cinco].Promotor: A perícia é falsa? Perito: Esse colega, infelizmente, errou [são seis peritos]. Todos nós estamos sujeitos a errar. Posso afirmar em todas as letras que eles [seis] erraram aqui [na conclusão da perícia].Promotor: O senhor é contratado pela Katia. Ela disse o que fazia nesse dia? Perito: Não conheço. Sou contratado pela defesa.

Promotor: O senhor sabe que uma das vítimas teve a cabeça decepada? Perito: Sim, isso ocorreu contra o poste.

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Prima de Emanuel e Emanuelle, Mayane Dias, 31, saiu do tribunal revoltada com a participação do perito Alberi Espindula: "Meu primo degolado, daquele jeito. E Emanuelle esbagaçada daquele jeito, agora, eu te pergunto: se não houve colisão (como disse o perito), quem foi que fez aquilo? Quem que catapultou? Eles mesmos tiveram o poder de voar?"

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2ª testemunha de defesa - Ana Tereza (amiga de Kátia) Após depoimento de perito, que tentou desqualificar a perícia, é chamada a amiga de Kátia Vargas, Ana Tereza. Ela é dona da academia de dança que a ré frequentava na época do acidente.

Começa afirmando que a médica, no dia do ocorrido, estava com uma lista de material escolar da filha e foi até a papelaria. Quando visitou Kátia no hospital, lembrou que ela disse: "Por que eu fui na papelaria?". Ana conta que Kátia parece ter perdido a alegria de viver. "Por onde chegava era alegria, doce", diz. "Acho que ela nunca mais conseguiu retomar a vida dela depois do acidente". Citou também que a ré sempre foi envolvida em projetos sociais, fazendo constantes doações.

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3ª testemunha de defesa - Ivete Peres (amiga de Kátia) Daniel Kignel, advogado de Kátia Vargas, começa a interrogar a terceira testemunha de defesa, Ivete Peres:

Kignel: Qual é a sua relação com Katia?  Ivete: Minha amiga. Conheci quando tinha 6 anos de idade. [Conta que estudou com ela na infância e na adolescência, e também fizeram faculdade de Enfermagem].

Kignel: Como Katia era?  Ivete: Sempre foi meiga, dócil. Na infância, tímida e retraída. Sempre que tinha confusão, ela Sempre se retraía mais ainda e chorava.

Kignel: A senhora manteve contato com Kátia?  Ivete: Por telefone, continuávamos tendo bons contatos, principalmente pelo telefone.

Kignel: A senhora se recorda de Kátia agindo de forma enérgica? Ivete: Nunca presenciei momento de fúria de Kátia. Ela sempre se retraía e chorava. (...) Mãe presente, mãezona, sempre a favor dos filhos.

Kignel: E no geral, como era a relação de Kátia com os filhos? Ivete: Família estruturada, presente, com muito amor, muito companheira. Criaram os meninos com muito amor, super correta, sempre presente. (...) Ela é amiga, para a hora que precisar. E é a melhor oftalmologista.

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4ª testemunha de defesa - Edmilton Pedreira da Silva (amigo) Deficiente visual, aparentando ter cerca de 50 anos, ele começa a ser interrogado pelo advogado de defesa da ré.

Daniel Kignel: O senhor conheceu ela como?  Edmilton: Com dois meses, descobrimos que ele (filho) tinha glaucoma e doutora Kátia fazia parte dessa equipe (no ano de 1994). Ele ficou uma semana no hospital e ela se apegou ao meu filho. Ele fez a cirurgia e foi aí que eu a conheci. (...) Ela sempre acompanhou meu filho e disse: ‘quando ele crescer, eu quero acompanhar esse menino’. Ela acompanhava e nunca cobrou um real. Ele tinha glaucoma, problema na retina, miopia. (...) Foi muito sufoco, mas arranjou doutor André (Castelo Branco, médico oftalmologista), que fez cirurgias sem cobrar um centavo. Agradeço a Deus porque colocou essa pessoa maravilhosa no meu caminho para ele não ter a mesma deficiência que eu. Já foram três cirurgias. (...) Tudo através dessa abençoada dessa doutora Kátia. Sou muito grato por esse anjo que Deus colocou na Terra para que o meu filho não ficasse cego. Não tem a visão 100%, mas consegue olhar pelo espelho, luz, vermelho, definir as coisas graças a essa pessoa.

Kignel: O senhor sabe se Kátia participa de algum projeto de assistência social?  Edmilton: Não sei, mas só por ela abraçar a causa do meu filho, eu acredito que ela deve fazer, porque ela é abençoada.

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5ª e última testemunha de defesa - Carina Caldeira Lima (amiga) A quinta e última testemunha da defesa de Kátia Vargas é também uma amiga da oftalmologista. Carina Caldeira Lima conhece a ré há seis anos. Elas participavam, juntas, de um projeto social denominado Corrente do Bem. Somente a defesa fez perguntas a ela, que enfatizou o caráter pacífico da amiga.

QUARTA-FEIRA, 6 DE DEZEMBRO, SEGUNDO DIA DO JULGAMENTO

Fila e palpites A movimentação para o segundo dia de júri, que prometia ser o último, começou cedo. Às 6h40, a fila diante do Fórum Ruy Barbosa já era grande. Segunda a chegar na fila, a artesã Maria Ângela Facchinetti, 66, resolveu se precaver e às 3h já estava no local. "Ontem vim mais tarde e peguei muito tumulto, hoje quero assistir mais tranquila", disse. A artesã afirmou ter certeza da condenação da médica. "O acidente foi na porta de minha casa. Estou aqui enquanto mãe, que vi aquela coisa horrível. Acredito e espero a condenação", salientou. Já o estudante de Direito Murilo Maia, 26, destacou o bom trabalho da defesa."Eu tinha dado como certa [a condenação], mas a defesa foi muito fria, agiu com tranquilidade. Eles vieram muito preparados e acredito que estão um passo à frente", relatou. Segundo ele, os advogados da médica conseguiram "balançar" a acusação.

"Deram uma desnorteada na coisa. Por isso, ainda não vou apostar minhas fichas, quero ver o que vão ter para hoje". Estudante destacou o bom trabalho feito pela defesa da médica Mãe dos irmãos, Marinúbia Gomes chegou pouco antes da abertura do fórum e entrou chorando. O vídeo abaixo mostra a movimentação na abertura das portas:

8h54 Começou o segundo dia do júri

A juíza iniciou os procedimentos com a leitura, por uma oficial de justiça, do laudo da reprodução simulada. O laudo foi importante para a tese da acusação e foi bastante atacado pela defesa da médica.

Feito pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT), ele concluiu que Kátia Vargas estava "em perseguição" quando atingiu a moto dos irmãos. O laudo ainda diz que a motorista do Sorento vai no mesmo sentido da moto. "É possível ver a passagem da moticicleta em velocidade constante e em momento subsequente aparece o Sorento em velocidade crescente. É perceptível a diminuição da distância. Fato sustentado pela declaração das testemunhas e em consonância com as imagens das câmeras.  A passagem do veículo conduzido pela testemunha T3 (nome não divulgado) foi registrada pelas câmeras e passava atrás dos veículos envolvidos"."Nesse momento já configurava uma perseguição do Sorento à motocicleta. Reiterada a afirmação da testemunha T4 que o Sorento visualiza de forma estática as luzes dos freios. O Sorento tinha velocidade maior que a motocicleta e aciona os freios, atingindo a motocicleta. Foi unânime afirmar que nas duas faixas de tráfego só estavam trafegando a motocicleta e o Sorento", diz o trecho do laudoDe acordo com o laudo lido no salão do júri, o impacto do Sorento contra o meio-fio após o poste não foi indicado pelas testemunhas, mas a câmera de monitoramento do Stelecom (central da Secretaria da Segurança Pública) mostra desequilíbrio do veículo. 

Laudo aponta que houve toque do carro na moto O laudo aponta as evidências dos vestígios das marcas na carroceria do veículo que rebustecem o contato do carro com a motocicleta. As circunstâncias do fato não deixam dúvidas. (Descrição do laudo)

A velocidade do Sorento não permitiu que a moto evitasse o contato, diz o laudo.   Depoimento de Marinúbia, mãe das vítimas, é exibido em vídeo para os jurados. A mãe contou que soube de um acidente com moto em Ondina pela televisão. Ela diz que a então namorada de Emanuel ligou para ela falando do acidente e dizendo que não conseguia falar com ele. Depois, recebeu uma ligação perguntando se ela sabia da batida. Ela chorou ao relembrar. A mãe contou que o filho tinha sofrido outro acidente antes, na Avenida Paralela, sem gravidade. 'Me desculpe, eu não queria chorar mas não consegui', diz Marinúbia Gomes, em vídeo com seu depoimento prestado à Justiça.

Depoimento de Kátia Vargas

Pouco depois das 10h, a ré Kátia Vargas começou a ser ouvida. O advogado de José Luís explicou que por conta da "postura agressiva e desrespeitosa" da promotoria com o perito que depôs no dia anterior, Kátia só iria responder às perguntas feitas pela juíza e jurados.

"O interrogatório ocorre com o direito constitucional de permanecer em silêncio mesmo que esse silêncio seja levado em conta", afirmou a juíza diante do plenário. Os promotores afirmaram que fariam as perguntas mesmo sem resposta. 

Depois de se apresentar, a médica começou a responder às perguntas da juíza. 

Juíza pergunta: Conta que no dia 11 de outubro de 2013 nas imediações da avenida Oceânica a senhora estava conduzindo um Kia  Sorento em alta velocidade e arremessou seu veículo  contra o fundo da motocicleta Yamaha pilotada por Emanuel Gomes Dias que trazia na garupa sua irmã, Emanuelle Gomes Dias. É verdadeira a acusação?

Kátia responde:  Doutora, mesmo hoje, quatro anos depois, eu não consigo lembrar de todos os detalhes daquele dia. Tenho lacunas do que aconteceu. Não sei se pelo acidente ou por medicação, não consigo lembrar de tudo. Mas lembro que na véspera normalmente estava com minha filha, me despedi de minha filha e saí em torno de 6h15. Troquei de roupa e saí.

Depois da aula da academia a professora me pediu uma receita de medicação. Eu fiz a receita e a gente ainda ficou conversando e tomando um suco, não tenho certeza. Ficamos conversando e fui em direção à Avenida Oceânica. "Quando eu estava começando a sair do sinal, a moto ultrapassou pela direita. O piloto gesticulava dessa forma como que aborrecido por alguma coisa. Eu não entendi o motivo de ele gesticular. "Por que ele está gesticulando comigo? Continuei atrás do carro da frente. Só que eu tentei ultrapassar a moto e fiz a menção de ir pra direita e ele fez a mesma menção de ir pra direita. Eu desisti. Joguei o carro para a direita, acelerei e fiz a ultrapassagem. Não bati no fundo da moto, não bati na lateral, eu ultrapassei a moto", completa Kátia Vargas a resposta dada para a primeira pergunta da juízaJuíza questiona se houve contato com a moto. Kátia responde: "Não houve contato nenhum". A juíza pergunta se em algum momento Kátia teve a intenção de arremessar o carro contra a moto. "Em nenhum momento tive a intenção de arremessar, triscar ou tocar na moto. Em momento algum eu trisquei na moto", explica ela.

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Logo que o depoimento começou, Marinúbia e outros familiares da vítima preferiram deixar o salão. Abaixo, a prima de Emanuel e Emanuelle, Mayane, diz que eles se retiraram em protesto.

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Kátia Vargas nega que tenha havido discussão com Emanuel, e que ele tenha batido no carro dela.

Juíza: A motocicleta chegou a parar?Kátia: Não, mas eu estava andando devagarzinho. 

Juíza: O condutor da moto chegou a bater no carro da senhora?Kátia: Não.

Juíza: Em algum momento a senhora acelerou o carro para alcançar a moto?Kátia: Para alcançar não, para ultrapassar a moto

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Juíza: Apesar da questão de ordem, o Ministério Público pediu que constassem as perguntas.

O promotor Luciano fez algumas perguntas que Kátia não respondeu, por orientação da defesa.

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O advogado de defesa José Luís fez em seguida perguntas a Kátia, fazendo algumas das questões do MP. 

Kátia descreve o momento do acidente:"Seguimos a moto em minha frente e eu atrás, eu acelerando mais que a moto. Chegou um ponto que eu queria ultrapassar a moto e tentei.  Dei sinal de luz, e a moto não abriu (passagem). Fiz uma menção de ir para a direita e ultrapassar a moto. Mas a moto também fez a mesma menção. Eu desisti e acelerei, acelerei mesmo, e ultrapassei a moto."Advogado José Luis: Você, em algum momento, tocou no fundo da moto?Kátia: Não. 

Advogado José Luis: Na lateral?Kátia: Não.

Advogado José Luis: Na roda dianteira?Kátia: Não.

Advogado José Luis: Fechou seu carro na moto?Kátia: Não.

Advogado José Luis: Você tem alguma dúvida do que está dizendo?Kátia: Não.

Advogado José Luis: A primeira pessoa que falou com você?Kátia: Um policial. 

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O outro advogado de defesa, Rodrigo Dall'Acqua, passou a fazer então as perguntas do Ministério Público e do assistente que que Katia não respondeu. Ela diz ainda que nenhuma testemunha foi falar com ela enquanto ela estava no carro.

Rodrigo pergunta: Kátia, o assistente de acusação questionou a respeito de um laudo de lesões corporais que está nos autos, feito quatro dias depois do acidente. O que você se recorda?

Kátia: Eu só me lembro de uma pessoa ir lá tirar fotografia e levantar minha roupa. Basicamente isso. 

Rodrigo: Fez alguma pergunta?

Kátia: Não lembro.

Rodrigo: Ele escreveu no laudo como se você tivesse dito isso para ele: Você disse para esse membro do IML que se envolveu em uma discussão de trânsito?

Kátia: Não.

Rodrigo: Você se envolveu?

Kátia: Não.

Defesa sustenta que depoimento dado por Kátia Vargas foi comprometido pela medicação tomada por ela após o acidente

Rodrigo: no prontuário médico constam os remédios que os médicos estavam dando para você. Estava tomando na veia medicação contra náuseas e um analgésico, Tramal. Também estava tomando Rivotril e um ansiolítico, e ainda foi acrescentado Tilex, outro analgésico. E foi acrescentado um remédio para mudança de humor, e um remédio utilizado para transtorno do pânico, e um sétimo remédio indutor do sono. Nessas condições, quando a senhora saiu da penitenciária, para prestar depoimento, a senhora tinha condições de relatar exatamente o que aconteceu?

Kátia: Não.

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Advogado José Luis: E depois do acidente, como é sua vida?Voltei a trabalhar na metade de 2014, não de forma normal: quatro turnos e meio por semana. Com a proporção que a coisa tomou, foi impossível ter contato com a família, pela forma que a coisa foi colocada na imprensa. Fui colocada como uma monstra que jogou o carro em cima da moto. (Kátia Vargas)Advogado de defesa Luís: Essa manobra era correta ou imprudente?

Kátia: Era imprudente.

Advogado de defesa Luís: Imprudência para você significa intenção de matar duas pessoas?

Kátia: Não.

Advogado de defesa Luís:  Você quis matar Emanuel e Emanuelle? 

Kátia: Não, de jeito nenhum. [Disse isso chorando muito]

O depoimento se encerrou por volta das 11h20. Leia mais trechos do que Kátia Vargas disse clicando aqui.

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A Promotoria teve então 1h30 para fazer seus argumentos sobre o caso.

Promotor Luciano Assis pede que jurados julguem 'a Kátia Vargas de 2013'Um julgamento, para ser realizado de forma justa, tem que ser realizado lá no dia 11 de outubro de 2013, na Avenida Oceânica. Peço que façam o possível diante de tudo que já viram e ouviram. Conseguem ver a motocicleta de Emanuel passando por ela e dando sim um tapa no capô do carro? Conseguem ver a arrancada brusca do carro em direção à moto como leão que vai até sua presa? A ré que vai ser julgada aqui hoje é a Kátia Vargas de 11 de outubro de 2013.Ele continuou sua argumentação relembrando que as testemunhas desde o dia da morte dos irmãos relataram que houve uma briga de trânsito entre os motoristas do carro e da moto.

"Gostaria de começar mostrando o processo dessa conduta criminosa da ré, que começou com apuração policial. Ainda durante a investigação policial. Os três primeiros agentes de Polícia Civil que chegaram e disseram que populares informaram que houve uma discussão de trânsito por uma manobra realizada pela motorista. Populares comentaram com bastante firmeza que teria acontecido uma discussão entre os dois, que teria causado descontentamento do piloto da motocicleta. As testemunhas que aqui foram ouvidas. O que disse aqui ontem aquela primeira testemunha está em perfeita sintonia com o que disse na delegacia. Ele diz que a moto foi, e o carro arrancou bruscamente em perseguição.

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O promotor destacou que várias testemunhas diferentes narraram ter visto o choque do carro com a moto. 

"O carro passou por ele [Arivaldo, testemunha]. Ele disse que teve que frear. Arivaldo viu o emparelhamento. Arivaldo viu o choque. Arivaldo foi influenciado pela mídia? Denilson [outra testemunha de acusação ouvida ontem] disse aqui que estava em ponto de inércia. Estava parado na sinaleira. Denilson disse que também viu o emparelhamento. O que despertou atenção de Felipe [testemunha de acusação] foi aquele carro vindo em sua direção, de velocidade progressiva. Ele também viu o emparelhamento. Ele disse isso na reprodução simulada, e assim como Denilson e Arivaldo, ele disse aqui ontem que depois de ver, ligou para a mãe e disse que 'acabou de presenciar um duplo assassinato'. Na delegacia, ele disse também que aquilo não foi acidente, foi um duplo assassinato. Por que disseram a forma como aconteceu? Com tantos detalhes e tantas nuances? Como elas diriam, se não estivessem lá? Se não tivessem presenciado?", ressalta o promotor. 

Cenas do acidente foram exibidas somente para os jurados, por conta da violência das imagens. O promotor questionou o que poderia ter causado uma batida tão forte, se não houve toque, já que a moto vinha em velocidade constante."Fico a me perguntar: 'o que causou isso?', 'Foi o vento que jogou a moto contra aquele poste?'.  Aquele menino vinha em velocidade constante, nada havia naquele trecho que pudesse, de alguma forma, ter contribuído para a queda da moto. A violência dessas lesões, a natureza dessas lesões... elas não teriam ocorrido se não tivesse havido a violência que houve, a conduta criminosa que houve. Conseguem imaginar uma queda sozinha da moto? Conseguem imaginar essas lesões de outra forma?"O promotor Luciano também atacou o perito particular ouvido no dia anterior.Seu perito, o senhor sabe que cor é essa mancha? O senhor tem como me explicar com essa certeza que essa mancha vermelha não é o capacete de Emanuel?'. E ele diz: 'Não sei. O senhor que está dizendo que todos erraram, tem como me explicar isso? O senhor tem como explicar por que a perícia do estado está errada?'. Ele disse que foi da grade. 'Mas o senhor sabe se na grade tinha alguma pintura vermelha?'. Não sabe. 'Então, explica, senhor perito: como no carro de Kátia tinha a mesma cor do capacete de Emanuel?'.Ele diz que a versão apresentada por Kátia Vargas não é compatível com o que mostram as provas.Vossas excelências conseguem ver essas imagens compatíveis com a versão apresentada? Com a versão de quem diz que tomou um susto? De quem diz que não tocou na moto? Não tem como não dizer que a homicida não é mentirosaDaniel Keller, assistente de acusação, começa a falar

Advogado da família das vítimas, Keller afirmou que Kátia Vargas estava apresentando ali a terceira versão desde o início do processo. "E eu me pergunto por que a senhora Kátia Vargas altera seu depoimento três vezes. E por que ela mudou de advogados três vezes. Isso fica muito claro nos autos, é um processo muito simples, apesar de tudo que a defesa traz. É o processo de uma senhora pronunciada por duplo homicídio qualificado. Motivo fútil. A qualificadora do meio que impossibilitou defesa das vítimas. E a qualificadora do perigo comum".

Keller relembra fala de Kátia Vargas em 15 de outubro do ano do acidente, quando ela disse que o acidente aconteceu depois de uma briga de trânsito.

"Houve uma contenda? Um mal estar? Onde estão as provas nos autos? Porque ela nega. Mas é interessante voltarmos para o dia 15 de outubro. Quando ela tinha outro advogado, doutor Vivaldo Amaral. Ela declarou que o perito que a examinou, um perito do estado e imparcial... Ele está dizendo que 'alega a pericianda ser vítima de um acidente automobilístico após uma discussão de trânsito'. Ela disse ao perito do estado, público e imparcial... Aí ela mudou de advogado e ele diz que ela tem que mudar isso. E ela diz aqui que não estava bem no dia. No laudo diz que ela apresentava-se lúcida, orientada no tempo  e colaborando com a perícia. Ela mentiu aqui quando disse que não tinha condições"

O advogado também minimizou argumentos da defesa de que as testemunhas ouvidas no dia anterior tinham caído em contradição. Ele afirmou que o importante para o observador é notar o "núcleo" do fato - detalhes teriam valor menor."Houve uma discussão. Um conflito. Óbvio que nunca vamos saber como se deu esse conflito. O que é importante para a prova do processo penal é o núcleo. Esse fato ocorreu em segundos. Óbvio que a percepção do observador vai se focar no que é nuclear. Ontem vocês lembram que eu tive uma indisposição com o assistente técnico, o perito. Todo mundo lembra disso. Mas alguém lembra onde Davi Gallo estava sentado? Fazia sol no dia? Essa discussão vai motivar todo o desenrolar dos fatos. Ela disse em juízo que houve tapa e hoje ela nega. E a partir desse tapa que a boa médica, a mãe exemplar, a pessoa maravilhosa que é Kátia Vargas se transforma na homicida Kátia Vargas".Keller explicou o que é o dolo eventual "Dolo não é vontade de praticar um crime, mas a vontade de produzir um resultado. Não é querer um crime necessariamente. No momento que ela tem uma discussão no trânsito, o dolo é na hora que ela provavelmente perdeu a cabeça e deseja um resultado. Isso é dolo. E ela faz isso por uma mera discussão. Por isso o motivo fútil", explica o advogado assistente de acusação. 

O advogado também destacou os dados do laudo do DPT, ressaltanto que atestavam a perseguição, e criticando o fato de o perito contratado pela defesa ser o único a questionar. A pergunta que faço é: todo mundo já se irritou com algum motociclista, mas algum de vocês já matou ele? Essa é a diferença entre vocês e ela. O depoimento de Denilson (testemunha) mostra claramente a perseguição em alta velocidade. Denílson narra claramente a perseguição. A mesma coisa Felipe (testemunha), que se assustou com o barulho. O laudo pericial diz que ela estava a 100 km/h. Ela devia estar muito apressada para ir a essa papelaria. Ela estava em perseguição. Ela não ficou em ziguezague com a moto. Isso é manobra da defesa. Os peritos são pessoas isentas e imparciais. A única pessoa que nega a perseguição é o assistente técnico que ela contratou.***

O promotor Davi Gallo foi o último da Promotoria a falar. Ele fez um discurso bastante emotivo, lembrando que Marinúbia perdeu seus dois únicos filhos, e fazendo uma comparação do caso com o atentado terrorista em Nice, quando um motorista em caminhão matou mais de 80 pessoas. Ele afirmou que dizer que não houve impacto do carro era afirmar que os jovens se suicidaramCom todo respeito à defesa, mas parece que disseram que seus filhos (de Marinúbia) se mataram. Parece que foi suicídio. Impacto é física. Cinemática. Hoje eu digo a vocês que é a oportunidade de fazer justiça. Eu poderia ter visto Emanuelle como vi Daniel Keller, como estudante. Mas não vou ver. A doutora Kátia tem muito dinheiro. Muitos recursos. Sabe-se lá quando ela vai pra cadeia. Natal ela vai passar com os filhos. Na casa de praia com os amigos Ele encerrou sua fala pouco antes de 13h. A juíza determinou então intervalo para o almoço Fila para o retorno das pessoas à sala do júri depois do almoço ***

Por volta das 14h20, o julgamento foi retomado, agora com a defesa

O advogado Rodrigo Dall'Acqua foi o o primeiro a falar. Ele disse que a denúncia errou desde o início, ao identificar erroneamente a rua de que Kátia Vargas saiu. 

Defensor mostra fotos da reconstituição que mostram o ângulo da testemunha que estava dentro do carro e o ângulo que mostra o Sorento passando pela frente do utilitário de Arivaldo. Eles também mostraram fotos do carro depois da batida. "A pergunta que faço é: Kátia Vargas jogou o carro no fundo da moto? Existe vídeo que prove o momento que Kátia tocou na moto? Existe esse vídeo?", questionou o advogado. (Foto: Arquivo CORREIO) ***

Advogado José Luis falou em seguida, defendendo que não há provas contra sua cliente. "Absolutamente nada."  Ele ainda se refere aos seus colegas defensores: " Fiquei tocado por sua fala tão objetiva e tão transparente. Você não ficou no lado periférico, ficou no coração da prova. Demonstrou que não teve discussão. Demonstrou que não teve toque".

O defensor criticou pesadamente a cobertura da imprensa sobre o caso.E qualquer um que está aqui pode ser acusado de um crime e gostaria de ter direito de defesa, e não gostariam de ser achincalhados pela imprensa. Tenho um grande amigo baiano, Paulo Abud. Ele me ligou e disse que eu precisava defender a comadre dele. Porque ela estava sendo massacrada em Salvador. Foi massacrada muito tempo pela imprensa em Salvador. E ele falava: 'Zé, essa mulher é inocente. Essa mulher é correta'. Eu assisti aquele vídeo, que circulou na imprensa. E comecei a ler as matérias sobre o caso. E me assustei com o massacre que foi feito contra Kátia. Não era Kátia Vargas suspeita de um crime de homicídio doloso. As entrevistas veiculadas eram 'assassina, monstro, criminosa, matou, perseguiu'. A cobertura que foi feita nesse caso é um escândalo. Os senhores sabem que a imprensa joga no ar e acusa.Ele fez referência ao caso da Escola Base, em que acusações de abuso sexual infantil perseguiram os diretores e depois se provaram falsas.Tem um caso famoso em São Paulo da Escola Base, que os donos foram acusados de molestar crianças. Essa escola foi destruída. Esse e o caso daquela médica do Paraná chamada na imprensa de 'médica monstro', acusada de desligar aparelhos. Essa imprensa tem que ser livre. Mas o que a imprensa fez na cobertura desse caso é inacreditável. Rodrigo (advogado de defesa) colocou aqui uma matéria que afirmou categoricamente que a polícia tem vídeo que mostra o choque. Cadê esse vídeo que mostra o impacto? Esse vídeo não existe, mas ficou. Eu separei algumas matérias. Uma matéria retrospectiva 2013: 'médica se transforma em monstro'. A matéria afirma que ela é um monstro. Ela não foi condenada, mas é um monstro. Essa afirmação é absurda.Em sua fala, ele também alfinetou os promotores. A defesa não tem medo. Não vou berrar nem fazer discurso teatral. O que (Rodrigo  Dall'Acqua)  fez aqui foi falar de prova. Sem teatro. Ele também ironizou e insinuou que as testemunhas que afirmaram ter visto a batida foram influenciadas pelas matérias sobre o caso.Cadê o vídeo que mostra o impacto? Cadê o vídeo que mostra que Kátia perseguiu a moto? E todas as testemunhas aqui assistiram várias matérias sobre o caso. Matérias corretas, né? Claro. IsentasO defensor ainda afirmou que sua cliente teve imprudência com uma manobra no trânsito, no dia do acidente, e no máximo poderia ser condenada por homicídio culposo, sem intenção de matar .Kátia Vargas foi imprudente, sim, nessa manobra. Significa que ela quis matar as vítimas? Não. Significa que ela tem que ser responsabilizada? Ela não deve ser condenada. Se for condenada é por homicídio culposo. Naquele dia ela não teve intenção de praticar homicídio***

Por volta das 16h, começou a última fase do júri, com debate entre defesa e acusação

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Daniel Keller, assistente de acusação, foi o primeiro a falar

Ele elogiou a oratória do advogado de defesa, e pediu atenção aos jurados. "Cuidado para não cair em uma manobra de um advogado que com muita inteligência consegue dominar a eloquência, que utiliza do carisma para conquistar a confiança dos senhores".

Keller afirma para os jurados que a defesa tenta fazer inversão e colocar Kátia como vítima do caso. "Ela que foi perseguida por todos, DPT, imprensa, advogados. Ele fala quietinho, manso, elogia advogado. Diz que é um dos melhores do Brasil". Ele também rebateu a acusação em relação a falar alto. Ela negou perseguição. Não confunda o tom da minha voz com teatro. Eu falo assim porque tenho convicção. Por paixão à Justiça. E amor à causaDepois, ele voltou a bater no ponto de que a defesa mudou sua versão várias vezes e também reafirmou que as testemunhas tiveram convicção em narrar o que viram no dia do acidente.Eles mudam de tese de acordo com a defesa dela. Não vai colar, vão tentar empurrar tese de homicídio culposo para ver se os senhores comprariam a história. E isso eles fazem menosprezando os senhores. A acusação não muda a versão desde o início da história. O advogado de defesa fez o milagre da Justiça hoje. Ele diz que ela agiu com negligência e praticou homicídio culposo. Todas as testemunhas que estavam aqui contaram com convicção e certeza do que aconteceu. Ele comentou o depoimento do perito, no dia anterior. "O perito contratado é o único que diz isso (que não houve perseguição). Advogado José diz que o assistente de acusação atacou a pessoa do assistente técnico e não trouxe matéria técnica. Eu não sou perito. Quem tem que refutar são os seis peritos da Bahia". Ele também explicou o que é o dolo, lembrando que Kátia Vargas estava a 100km/h, segundo o laudo, no dia do acidente.Com desejar. Ela tem algo em mente que deseja praticar e vai atrás daquilo. Dolo é querer. É desejar o resultado. No momento em que ela bate, ela move a vontade dela ao resultado. Ela quer o choque. Quer interceptá-lo. Quer bater o carro contra a moto. E quem tem esse objetivo tem o que? Vontade de matar***

O promotor Luciano Assis foi o próximo a falar

Ele afirmou que a defesa queria que o caso fosse enquadrado como crime de trânsito. Ele disse também que as testemunhas de acusação falaram de maneira "harmônica". "As testemunhas que falaram aqui estão todas em harmonia. O que elas disseram? Que viram a perseguição. Detalham o emparelhamento. O toque. E o arremesso da moto. Seria uma alucinação coletiva exigir precisão cirúrgica".Sabe o que a defesa quer? Um artigo 302 do Código Nacional de Trânsito [Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor]. Ela quer pena de 2 a 4 anos para Kátia. Quanto vale a vida dos filhos? Dois anos? Para ser convertida em pena alternativa? Ela matou. Gritar é nosso estilo. Não podemos ficar anestesiados***

O promotor Davi Gallo foi o último da acusação a falar

Ele acusou a defesa de "diminiuir as instituições da Bahia", por conta dos ataques ao laudo do DPT. Lembrou também que Ricardo Molina, perito que fez laudo para a defesa, foi condenado por difamação às duas delegadas do caso. "Nós só queremos a verdade. Os autos têm 10 volumes. Será que todos os órgãos se uniram contra a senhora? Será que todo mundo está contra ela?", questionou.Isso é prova (joga os autos no chão). Peritos. Prova testemunhal. Ninguém a conhecia, ninguém tinha nada contra ela. Infelizmente nesse país abastados não devem ser condenados. Dizem aqui para você que ela foi imprudente. Ela não foi imprudente, ela foi homicida. Ela quis matar e matou os doisO promotor afirmou que muitas vezes a justiça só é feita contra negros e pobres. "Se trata de um crime bárbaro. Por respeito às leis, façam justiça. Condenem essa mulher por esse crime bárbaro que ela cometeu", pediu, no seu encerramento.

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O advogado Rodrigo Dall'Acqua começou a falar pela defesa

O defensor ficou com os olhos cheios de lágrimas ao falar de Emanuel e Emanuelle, dizendo que seus próprios filhos fazem lembrar das vítimas. Depois, ele insistiu que não há espaço para condenar uma pessoa se existem dúvidas.É preciso ter certeza que Kátia Vargas saiu com carro, que deu uma fechada na moto. Não há o nome de uma testemunha que fale da fechada. É possível condenar sem certeza? Vossas excelências têm que ter certeza. Mesmo diante de testemunhos absolutamente contraditórios.  Tem três versões diferentes . Para dizer que Kátia arremessou o carro e colidiu com a moto, é preciso acreditar que um carro violento que colide com a parte de trás da moto não deixou nenhuma marca na moto. Se tivesse batido teria deixado marcas. A prova principal seria a perícia com essa marca. Isso não foi dito***

O advogado José Luis foi quem encerrou pela defesa. Ele afirmou que as provas deveriam estar no centro do caso e contestou a informação de que a defesa estava mudando de teses. Leu trecho do processo que mostra que os primeiros advogados de Kátia assumiam a culpabilidade, mas não o dolo. Em 2013, segundo José Luis, a outra defesa pediu para ser tratado como homicídio culposo. Ele também negou que Kátia Vargas tenha prestado depoimento afirmando para perito que se envolveu em briga de trânsito. Não é depoimento porque não tem assinatura de Kátia Vargas. Não tem aspas nenhumaJosé Luís criticou as divergências nos depoimentos das testemunhas de acusação e afirmou que a cobertura da imprensa pode ter influenciado as opiniões.Eu também ouvi aqui "se colar, colou (...)  Se colar, colou é o que a acusação está fazendo aqui. Se bateu no fundo, do lado, na ponta, ok". Isso é se colar, colou", fala José Luis sobre declarações da acusação (...) Não estamos falando que as testemunhas mentiram. O que a defesa está dizendo é que diante do massacre que foi feito pela imprensa pode ter influenciado..aí condena Kátia a 30 anos de prisão. É pena de morte. Ela não vai sobreviver. Se os depoimentos não mostrassem dúvidas Kátia teria que ser condenada. O laudo do DPT foi novamente criticado - classificado de "imprestável" pelo advogado.Precisa ser profissional para dizer que o laudo é imprestável? Apesar de ser oficial é imprestável. Não considerou Emanuelle. Não considerou baú (da moto). Não é possível. Parece que estamos em outro lugar, Rodrigo (advogado de defesa). Estamos em um julgamentoComo o outro advogado, José Luís reforçou que não há prova concreta de que houve o toque do carro na moto.Não existe nenhum documento taxativo que mostra que Kátia Vargas tocou na moto. Não teve colisão no fundo. Não há como se condenar. As testemunhas disseram que não viram a colisão no fundo (...) A testemunha que a acusação diz que a principal troca 5 por 100. Ele que foi desmascarado aqui. Isso aqui não é brincadeira, não é teatro. Esse acidente é uma tragédia que acabou com a vida de duas pessoas Por fim, o advogado afirmou que Kátia fez uma manobra imprudente e que isso é o máximo que poderia ser imputado a ela - no caso, respondendo por homicídio culposo, sem intenção de matar.Viemos aqui para falar de direito penal. De prova. Ela não é homicida. Ela não perdeu a cabeça. Não acordou e falou que iria matar duas pessoas. Quem fala são os autos. Não é uma mulher revoltada. Foi de manhã. Não teve dia exaustivo. Não podemos condenar uma pessoa para dar uma resposta***

18h10: A juíza perguntou se os jurados estavam prontos para deliberar. Eles responderam que sim. Os jurados seguiram então para a sala secreta. Eles tinham que responder a sete questões - duas vezes cada, uma para Emanuel e uma para Emanuelle.

Essas eram as perguntasMaterialidade do Fato/Existência do Fato - o fato ocorreu?  Autoria: a ré arremessou o veículo em alta velocidade contra o fundo da moto projetando vítimas contra o poste? MP defende que SIM e defesa que NÃO A conduta da ré decorreu de imprudência da ultrapassagem? MP diz que NÃO pois houve a intenção e defesa que SIM Obrigatório em todos julgamentos: o jurado absolve a ré? Qualificadora: a ré agiu por motivo fútil? - MP diz que SIM e defesa que NÃO Qualificadora:  Teve incapacidade de defesa das vítimas? - MP diz que SIM e defesa que NÃO Qualificadora: Houve perigo comum, por estar na rua e poder ferir outras pessoas? - MP diz que SIM e defesa que NÃO 18h30: Sem o resultado sair, advogados de defesa começaram a comemorar. A família de Kátia Vargas chorava no salão do júri, enquanto os parentes das vítimas aguardavam. Depois, Marinúbia e familiares foram chamados pelo advogado Daniel Keller para o fundo da sala, onde conversaram.

Leia aqui os bastidores da decisão

Às 18h55 foi confirmado pelo Ministério Público que Kátia Vargas foi absolvida por 4 votos a 1. Apesar de serem sete jurados, apenas cinco votaram pois bastava atingir a maioria para encerrar a votação. O Ministério Público informou que vai recorrer. 

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Veja algumas reações após a decisão:

"Vou matar Kátia Vargas pessoalmente" ( Mércia Gomes, irmã de Marinúbia). Hoje eu sinto vergonha de ser baiano. Era um júri predisposto a absolver (promotor Davi Gallo)"Lutei quatro anos pelo júri popular e agradeço a Deus hoje por ter conseguido o que várias pessoas não conseguem. Ela foi inocentada. Ninguém sabe como. Cabe recurso. Vamos recorrer. Deus está no controle. É normal o descontrole de Mércia [irmã dela que gritou que mataria Kátia Vargas] porque Emanuel é como um filho. É uma dor muito grande. Eu vou recorrer através do Ministério Público, dos meus advogados e eu não lutei quatro anos para nada. Vou continuar lutando. Continuarei lutando. A luta continua. A justiça não foi feita. Continuo acreditando na justiça. Não vai ficar impune. Eu já fui avisada por Deus. Eu já esperava que ela fosse condenada ou inocentada. Eu já esperava por isso" (Marinúbia Gomes)Me decepcionou o Ministério Público, me decepcionou o advogado Daniel Keller. Achei infantil a atitude deles de berrar, de gritar... Faltou técnica, faltou ser advogado naquele momento. E que justiça é essa? A gente passou dois dias acompanhando o caso e a gente soube pela mídia o resultado (Demitila Santos, advogada que assistiu ao julgamento)O jurado não precisa dizer a razão pela qual ele condena ou absolve. Os jurados entenderam que ela não bateu na moto, que não houve impacto. Ela não foi condenada por homicídio culposo, não houve o entendimento de que ela não tinha intenção de matar. Não. A decisão foi no sentido de que não houve impacto, de que a moto caiu sozinha. Foi assim que o júri entendeu. Por que? Não sei. Não sei o que se passou na cabeça dos jurados (advogado Daniel Keller)Ela vai dormir sabendo que tirou a vida de dois irmãos. Ela nunca vai ter paz (Vanessa Lima, amiga da família)Eu pedi pela justiça. É lógico que eu saio satisfeito com o resultado (José Luís, advogado de Kátia Vargas) Sala do júri vazia após a decisão (Foto: Betto Jr/CORREIO) Veja a sentença:

O fotógrafo do CORREIO Betto Jr. flagrou a saída de Kátia Vargas do Fórum Ruy Barbosa. Ao lado dela, a filha, Carol. No banco do carona, o advogado de defesa, José Luis de Oliveira Lima. Katia deixa júri depois de decisão (Foto: Betto Jr/CORREIO)