Revista Única

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  • Nelson Cadena

Publicado em 27 de agosto de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Se outra virtude não possuísse - parodiando um conceito de Aloisio de Carvalho Filho sobre os jornais tradicionais - teria a revista Única, a da longevidade, o que em termos de imprensa significa merecimento. A virtude de sobreviver no mercado editorial baiano durante longos 43 anos (1929—1972) foi mérito de seu fundador, o jornalista Annibal Amado Coutinho Barata; Simões Filho o chamava carinhosamente de “Seu Barata”, seus demais colegas de imprensa, de Amado Coutinho.

Quando a revista Única veio a lume, em agosto de 1929, Amado Coutinho já tinha uma longa experiência como jornalista e em especial como empreendedor. Ainda estudante da Escola de Engenharia, em 1914, fundou a revista A Epopeia que, salvo engano, circulou até 1918, semanas após o fim da I Guerra Mundial. Pela mesma época, ingressou no Jornal de Notícias como revisor de provas e logo mais no Diário de Notícias onde desempenhou as funções de auxiliar da tesouraria, supervisor da expedição e redator e chefe da seção de esportes.

Na década de 1930 em diante, já nas condição de proprietário da revista Única, manteve seus vínculos com a imprensa diária como redator de o Diário da Bahia, O Imparcial e de A Tarde, neste jornal, primeiro no departamento de publicidade e após, durante duas décadas pelo menos, como cronista esportivo, cronista carnavalesco e cronista social. Prestou serviços a vários jornais, como referido, mas isso não lhe impediu de ser um empreendedor, em especial no segmento das revistas. Além de A Epopeia, fundou a Cegonha, em 1917, o número de estreia trouxe uma bela ilustração de capa do pintor Alberto Valença. E, na década de 1920, a Vida Esportiva, inspirada na Semana Esportiva, da qual tinha sido redator.

Esportes e carnaval foram suas paixões. Seu coração era rubro-negro, torcedor do Esporte Clube Vitória e fã do Clube Carnavalesco Cruz Vermelha. E foi por conta dessas duas paixões que teve papel relevante em todas as associações de classe vinculadas a essas atividades. Participou da reorganização da Associação Bahiana de Cronistas Desportivos (ABCD), em 1926 e, na década de 1930, da fundação da Associação Bahiana de Cronistas Carnavalescos (ABCC). Foi diretor, ainda, da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Federação dos Clubes de Regatas, Clube Cruz Vermelha, e do Clube Comercial onde durante décadas foram coroadas as Rainhas de Carnaval.

A importância da revista Única está no seu legado, justamente pelo conteúdo específico na cobertura do Carnaval e das festas populares; do esporte amador; dos fatos ligados ao rádio baiano com sua programação, locutores e artistas; eleições de miss Bahia e do futebol. É a melhor fonte de pesquisa disponível para esses temas, inclusive na iconografia. Na cobertura do futebol, introduziu na Bahia com o lápis de Brito Cunha, o graficoscope, precursor do tira- teima da TV, ilustração das jogadas que resultaram no gol, com o posicionamento de cada jogador no momento.

No Carnaval baiano, Amado Coutinho foi o grande promotor do concurso da rainha da festa e, provavelmente, foi ele quem escolheu as dez denominações da enquete pública promovida pela ABCC com a imprensa para a escolha do nome que substituiu a expressão francesa micareme pela baianíssima micareta. Na sua fase inicial, contou com o lápis de um dos monstros sagrados da ilustração, no Brasil, naqueles idos, Raul Pederneiras. Contou, ainda com o compositor Assis Valente, então ilustrador da revista Shimmy no Rio de janeiro, para ilustrar algumas capas da Única em 1930 e por muitos anos de Raimundo Aguiar, o celebre Kalunga. A Única deixou de circular após a morte de seu fundador. A família doou para a ABI a coleção da revista

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras