'Revitalizou a Festa de Reis', diz Dom Murilo sobre Padre Pinto

Em 2006, Padre Pinto defendeu sua permanência na paróquia após polêmica

Publicado em 5 de abril de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paulo M. Azevedo/Arquivo CORREIO

“Nasci padre e vou morrer padre”. Foi assim que, há 13 anos, o padre José de Souza Pinto, conhecido como Padre Pinto, definiu sua relação com a Igreja e defendeu sua permanência na Paróquia da Lapinha, em Salvador. Ele era o paróco de lá há 30 anos, quase o mesmo tempo de sacerdócio, à época, mas uma celebração irreverente na Festa de Reis chamou um pouco mais a atenção: o padre levou os rituais de candomblé para a igreja e celebrou a missa vestido de Oxum. Causou um verdadeiro rebuliço.

Polêmico, irreverente, religioso e artista com uma série de exposições de quadros - inclusive em homenagem a Antônio Conselheiro, em Canudos -, Padre Pinto cumpriu sua missão no final da tarde desta quinta-feira (4). Aos 72 anos recém-completados e quatro décadas e meia de sacerdócio, o religioso morreu, no Hospital Jorge Valente, na capital baiana, onde estava internado desde anteontem.

A informação foi confirmada à noite pela Arquidiocese de Salvador, mas não se sabia, ainda, qual a causa da morte. Em novembro do ano passado, Padre Pinto havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Kriger, lamentou a morte do religioso e, em nota, disse que “expressa sua unidade com os Vocacionistas, cumprimenta os familiares do Padre Pinto e reza por esse sacerdote que dedicou vários anos de sua vida aos trabalhos pastorais nesta Arquidiocese, especialmente na Lapinha, onde revitalizou a Festa de Reis”.

Nos últimos anos, o padre, que era artista plástico e bailarino por formação, vivia na Casa de Retiro Sagrada Família, vizinha à Paróquia de São Caetano da Divina Providência, em Salvador, junto com outros padres da congregação vocacionista.

Era justamente dessa congregação que Padre Pinto disse não abrir mão, em 2006, quando acabou afastado da Paróquia da Lapinha após a celebração de Reis daquele ano. A performance não tinha pegado bem entre os mais conservadores e dividia opiniões dos fiéis.

Embora o episódio tenha ganhado repercussão nacional e um grupo de fiéis tenha pedido sua saída da paróquia, Padre Pinto costumava agradar à maioria dos frequentadores da Lapinha. Em 1997, por exemplo, montou um presépio na igreja e colocou os Reis Magos numa réplica da Fobica, o primeiro trio elétrico.“Só quem pode julgá-lo é Deus. Para a comunidade, não tem padre melhor”, disse, em 2006, o construtor aposentado Michael Depa, 65, um dos fiéis.Quando completou 30 anos de sacerdócio, em 3 de maio de 2003, Padre Pinto afirmou ao CORREIO que se surpreendia quando batizava os filhos de alguém que tinha sido batizado por ele: “Foram 30 anos que eu nem vi passar. Parece que foram somente três”. Àquela altura, havia celebrado 10.955 missas, 4.060 batismos, 336 crismas e 1.948 casamentos.

Em 2001, em uma entrevista às vésperas de sua já consolidada Festa de Reis, Padre Pinto falou sobre a ligação entre a festa religiosa e profana. “Encaramos a festa popular como extensão, visto que estão presentes a solidariedade, fraternidade e alegria de viver. Aqui na igreja, as pessoas recebem a luz divina, para ser emanada lá fora”, disse ao CORREIO.