Rio terá museu da escravidão fora dos moldes tradicionais, diz secretária

Segundo ela, o Brasil ainda pensa e questiona pouco a sua desigualdade social

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  • Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2018 às 23:17

- Atualizado há um ano

A secretária municipal de Cultura do Rio de Janeiro, Nilcemar Nogueira, disse hoje (30) que a proposta do Museu da Escravidão e da Liberdade (MEL), previsto para ser lançado no próximo 13 de maio, permitirá visitar o passado para interpretar o presente. Nilcemar acrescentou que o projeto do MEL está em pleno desenvolvimento e não será direcionado para um museu nos moldes tradicionais.

“Ele nasce de uma escuta com a população negra principalmente e traz, no seu DNA e na sua missão institucional, uma responsabilidade social que passa pelo novo papel dos museus. É fundamental para que a cidade conheça uma história que ficou nas entrelinhas da historiografia oficial”, acrescentou.

Segundo ela, o Brasil ainda pensa e questiona pouco a sua desigualdade social. “As favelas são em certa medida as senzalas de ontem, onde estão majoritariamente as pessoas negras desprovidas de direitos sociais”, avaliou. As declarações foram concedidas durante a divulgação da programação de carnaval do Terreirão do Samba.

A lei que define diretrizes para construção do espaço foi sancionada na semana passada pelo governador Luiz Fernando Pezão. O MEL será um centro de referência em estudos sobre a história e a contribuição da população negra para o desenvolvimento do estado. De acordo com Nilcemar Nogueira, o custo da sua implantação vai girar em torno de R$ 20 milhões e o município terá inclusive o apoio de parceiros internacionais.

A secretária informou ainda que, em agosto, será inaugurada a sinalização no Cais do Valongo, que já é parte do projeto. Principal porto de entrada de escravos nas Américas ao longo de três séculos, o Cais do Valongo recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em julho de 2017.

O acervo do MEL deve ser inicialmente composto por peças de religiões de matriz africana, apreendidas de coleções dos anos 20 e tombadas ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que estão atualmente sob a guarda da Polícia Civil e inacessíveis ao público. Arquivos históricos e coleções, fotografias, documentos, pinturas e utensílios que possam reconstituir a história e os costumes dos descendentes de africanos também devem ser expostos.

Em março do ano passado, a Secretaria Municipal de Cultura recebeu a primeira doação de objeto para o MEL: um cadeado da época colonial utilizado na senzala de uma fazenda de café no município de Vassouras (RJ). A peça foi entregue pelo restaurador Marconi Andrade, integrante do Conselho Municipal de Cultura.