Rodoviários atrasam saída e passageiros 'mofam' nos pontos de ônibus em Salvador

Promessa era que ônibus fossem às ruas a partir das 8h

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  • Bruno Wendel

Publicado em 28 de maio de 2021 às 15:04

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Wendel/CORREIO

Cansada de ficar em pé no ponto de ônibus por mais de uma hora, a sócioeducadora Priscila Nascimento, 33 anos, resolveu esperar encostada numa mureta na Avenida Bonocô. Ela chegou às 8h e, até às 9h10, amargurava para ir trabalhar. "Não cumpriram o que disseram", desabafou ela, que estava atrasada há mais de uma hora.  Mesmo após o horário programado para o fim da paralisação dos rodoviários, as pessoas 'mofavam' esperando pelos coletivos nos principais corredores de tráfego de Salvador.   Os rodoviários pararam de circular das 4h deste sexta-feira (26). A categoria fez assembleia nas garagens das empresas de ônibus da cidade para analisar a proposta de parcelamento no reajusto de salário da categoria apresentada pela desembargadora Dalila Andrade, presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-5).  Priscila Nascimento esperou mais de um hora para ir ao trabalho (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) O Sindicado dos Rodoviários havia informado que às 8h a população contaria com a normalização do serviço de transporte público, o que não aconteceu. “Às 8h já estava aqui no ponto, quando na verdade já deveria estar no trabalho, em Tancredo Neves, onde pego às 7h. Compreendo a reivindicação dos rodoviários, mas quando fazem isso, a população sofre diretamente as consequências. Estou aqui atrasadíssima. Não passou nenhum ônibus que servisse para mim, até agora!”, disse a sócioeducadora Priscila, olhando para o relógio, que marcava 09h10, no primeira passarela da avenida, sentido Rótula do Abacaxi.   Não muito distante de Priscila, a auxiliar administrativo Márcia Machado, 36, apoiada no muro de um prédio, também cansou de esperar no ponto. “Chequei aqui no horário que eles disseram e já mais de 09h e nada de ônibus para o Parque São Cristóvão. Vim para cá porque o ponto está cheio, está todo mundo muito perto do outro, não há distanciamento social e estamos numa pandemia. A gente ainda tem isso para se preocupar”, disse ela.  O recepcionista Gustavo Silva, 27, optou por esperar no ponto de ônibus. Ele pega no trabalho 07h e às 08h aguardava o coletivo para o Caminho das Árvores. “É compreensível o motivo dos rodoviários, mas isso prejudica todo mundo. Pego ônibus aqui diariamente. A média é de 10 pessoas. Hoje, tem o triplo. Assim como todo mundo aqui, eu não tenho outro meio para deslocar de minha casa para o trabalho”, disse ele, às 09h20.  Gustavo Silva também teve que penar para se locomover para o trabalho (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Dique A situação não foi confortável para quem preciso pegar ônibus no Dique do Tororó, em frente ao Habib’s. O tempo de espera foi um pouco menor. “Estamos aqui tem uns 45 minutos desde às 08 e nada de passar o ônibus da gente”, declarou a atendente de telemarketing Débora Araújo, 27, ao lado da colega de trabalho, Isadora Santana, 31. Ela disse que por mais que as pessoas reclamem da espera, a paralisação é necessária. “Eles estão lutando também para sobrevivência. Assim como eles, nós não paramos desde o início da pandemia. Então é legítima a luta deles”, declarou ela. Cinco minutos depois, as duas amigas embarcaram num coletivo lotado para Ribeira.  Já auxiliar administrativa Marie Loureço, 30, foi pega de surpresa. Quando chegou no ponto do Dique, estranhou a quantidade de pessoas. “Ontem, estava tão agoniada que não tive tempo de ler as notícias. Em dias normais, aqui não ficam mais de três pessoas. Hoje o ponto está entupido. Cheguei aqui às 08h35 e pego 09h na Cidade Baixa”, disse ela às 08h50. Amarelinhos  Como medida para minimizar os impactos da paralização, a prefeitura disponibilizou os ônibus do Sistema de Transporte Especial Complementar (STEC), conhecido como os Amarelinhos, das 04h até às 08h. Mas algumas pessoas que contaram com eles se deram mal. “Cheguei às 06h e até às 08h só passou um Amarelinho e socado de gente. Não tinha como entrar. Um absurdo isso. A população é quem mais sofre nessa hora. Liguei para a empresa que pagou um carro de aplicativo, caso contrário, não tinha como ir serviço hoje”, relatou o marceneiro Antônio Alexandre, 45, que estava no ponto de ônibus em frente ao Vale das Pedrinhas.   Quem também esperava os Amarelinhos foi a auxiliar administrativo, Margarete Pitanga, 55. “Cheguei às 06h45, mas só passou um e lotado. Tive que pegar uma carona para chegar no trabalho”, na entrada do Vale das Pedrinhas. Ela trabalha numa obra nas imediações da Feira de São Joaquim. Ele pega às 07h, mas só chegou às 10h. “Mesmo com a carona custei a chegar. Isso porque estava tudo engarfado. As pessoas colocaram seus carros nas ruas, houve batidas, carros quebrando. Foi muito difícil chegar ao trabalho. Foi um caos”, contou. Bairros Se a locomoção estava complicada nas vias mais movimentadas de Salvador, a situação não foi diferente nos bairros. No Vale das Pedrinhas, não havia nenhum meio de transporte público. “As pessoas tiveram que andar do final de linha até aqui para aventurar uma condução”, comentou ajudante cozinha George Nascimento, 37.  Já no Engenho Velho de Brotas, os moradores contaram com o serviço do STEC, mas muitos reprovaram. “Sem cabimento. Só passaram dois e as pessoas viajam espremidas. Zero distanciamento social. Eu mesma dispensei os dois porque não ia arriscar a minha vida, a vida de minha família e de outras pessoas porque causa de péssimo serviço”, declarou a cabeleireira Magali Rocha, 50.Mototaxistas Enquanto os ônibus e o serviço STEC estavam saíam lotados, alguns mototaxistas estavam à pera de passageiros. Em um ponto próximo ao Shopping da Bahia, eles conversam sobre a paralisação. “ Como foi algo divulgado na mídia, as pessoas se organizaram desde ontem. Por exemplo, a empresa onde eu trabalho à tarde, hoje contratou um serviço de vans para pegar os funcionários em casa”, contou o mototaxista Edsilson Santos Hora, 44, que também trabalha numa empresa de refrigeração. Ele estava no ponto desde às 08 e até às 10h só tinha feito duas corridas curtas.    Mototaxistas fizeram pouccas corridas durante a paralisação (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) O também mototaxista Raílson Correia dos Santos, 22, reforçou o discurso do colega alegando quer muita gente aderiu ao serviço de motorista por aplicativo. “A gente ver as pesgando os carros de aplicativo na nossa frente. Depois da pandemia caiu muito. Os passageiros não se sentem seguros, mas a gente anda de máscara e álcool em gel”, disse. 

App Houve aumento também na demanda de chamadas de motoristas por aplicativo. A 99, por exemplo, informou que, em Salvador, entre 4h e 8h de hoje, houve um aumento de 54% nas chamadas pela plataforma, quando comparado ao mesmo período da última sexta-feira. "Isso reforça o compromisso da 99 em garantir um transporte acessível e seguro e que, a cada dia, se torna parte do cotidiano dos soteropolitanos".