Rodoviários fazem assembleia e atrasam saída de ônibus em Salvador

Motoristas e cobradores se reuniram em três garagens do Consórcio Integra

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  • Tailane Muniz

Publicado em 25 de abril de 2019 às 05:43

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tailane Muniz/CORREIO

Os soteropolitanos acordaram com menos opções de ônibus nesta quinta-feira (25). Para realizar uma assembleia de convocação sobre reajuste salarial, os rodoviários atrasaram a saída de cerca de 600 coletivos em três garagens diferentes do consórcio Integra, sendo uma da bacia amarela (Plataforma), uma da verde (OT Trans) e outra da linha azul (Salvador Norte).

Os ônibus, que costumam iniciar o trajeto às 4h, nesta quinta, só poderão sair às 8h - de acordo com o Sindicato dos Rodoviários. Na garagem da Salvador Norte (que opera na região da Orla), localizada na Avenida Santiago Compostela, com acesso pela Avenida ACM, ao menos 200 coletivos não saíram, de acordo com Itamar Feitosa, representante do Sindicato dos Rodoviários.

Segundo ele, a ação é realizada para convocar os trabalhadores para uma assembleia geral, que acontece às 9h, no ginásio do Sindicato dos Bancários, no Largo dos Aflitos, Centro da Cidade. A principal pauta da categoria, ainda de acordo com Itamar é o pedido de reajuste de 8%, em negociação com os empresários há cerca de dois meses. Na garagem da Salvador Norte (que opera na região da Orla), localizada na Avenida Santiago Compostela, nenhum ônibus saiu  (Foto: Tailane  Muniz/CORREIO) “As rodadas de negociações terminaram, então nós vamos nos reunir para ver o que será deliberado. Até às 8h, os ônibus não saem de pelo menos três garagens, mas quero deixar claro que tem ônibus na cidade. Isso não é uma greve”, explicou.

Já as 4h30, os rodoviários se concentraram na frente da unidade da bacia azul. As outras duas garagens paradas ficam na Avenida Suburbana (Plataforma) e no bairro de Pirajá (OT Trans), que juntas, somam pelo menos 400 ônibus que também ainda não operaram logo no início desta manhã, segundo o Sindicato dos Rodoviários. 

Itamar também adiantou que além da reunião marcada para as 9h, haverá outro encontro nesta quinta, às 15h.

Ao todo, o Consórcio Integra tem 13 garagens, sendo três da Salvador Norte, quatro da Plataforma e seis da OT Trans.

Negociação De acordo com a direção do Sindicato, depois de mais de 25 dias de campanha salarial foram esgotadas as possibilidades de negociação no calendário oficial de rodadas, sem nenhum avanço. A última negociação ocorreu nesta quarta-feira, mas a categoria e o sindicato patronal não chegaram a um consenso.

O sindicato alega que, mesmo reconhecendo a inflação do período, de 3,75%, o patronato oferece 2,7% de reajuste salarial. Além disso, a contraproposta patronal está condicionada a aceitação pelos trabalhadores de corte de direitos, como redução de um domingo de folga e fim das horas-extras, o que para os trabalhadores é inaceitável.

Procurado, o assessor de Relações de Trabalho do Consórcio Integra, Jorge Castro, informou que foi surpreendido pela notícia de que a categoria realiza assembleia nas portas das garagens nesta quinta. Ele afirmou que as negociações ainda estão em fase incial. Segundo informações da Integra, a frota de Salvador atualmente conta com 2,4 mil ônibus e 1,3 milhão de usuários por dia.

Transtornos Para parte população, a manhã de atraso na saída dos coletivos é certeza de transtornos, ainda que alguns ônibus estejam circulando. A reportagem percorreu alguns pontos do Subúrbio Ferroviário, onde muita gente se sentiu prejudicada.

O sufoco começou logo cedo para a vendedora Taciane Pereira, 34, que precisava levar o filho até metade do caminho da escola, no bairro de Periperi. Ela, que mora em Colinas, na parte alta da localidade, embarcou o filho em uma van que, hoje, “não tinha espaço nem para uma mosca”. Taciane trabalha na Praça da Sé mas não consegue pergar ônibus  (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) “Porque se os ônibus não passam, as pessoas pegam a van pra adiantar o lado. Meu filho, coitado, foi todo apertado, e isso porque eu implorei para deixarem ele subir, de tão cheio que estava”, relatou.

Taciane trabalha na Praça da Sé e, até as 7h30, ainda aguardava o ônibus da Avenida Suburbana. “Eu sei que é para um benefício deles [rodoviários], mas a gente fica muito prejudicado, principalmente quem mora aqui no Subúrbio”, destacou a vendedora, acrescentando que o trem estava operando de forma parcial nesta quinta.

O trem funciona como alternativa para alguns moradores, especialmente os que trabalham no Centro, pontuou Taciane.  Roque é morador de Paripe (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Morador de Paripe, o cobrador José Roque Sousa, 42, disse que se surpreendeu com a quantidade de gente no ponto. “Tomei um susto, nem estava sabendo dessa ação hoje. Acho válido, desde que as pessoas sejam avisadas com antecedência, porque só o usuário do transporte público sabe como é”, ponderou ele, que estava a caminho da Estação da Lapa.

A manhã foi caótica também para os moradores de Plataforma, já no final da Avenida Suburbana, sentido Comércio. A doméstica Tânia Rita da Silva, 43, disse que chegou no ponto de ônibus do bairro por volta de 5h30 e, às 7h40, ainda aguardava o coletivo para chegar no trabalho, no bairro da Pituba.

Ela até pensou em pegar um ônibus qualquer e retornar para a metade da avenida para pegar um trem até a Calçada, mas soube que o serviço não opera em sua totalidade.

“Pobre sofre de todos os jeitos. Imagine que a gente só quer chegar no trabalho. É realmente uma situação muito difícil para quem não tem opção. Porque meu patrão deve estar vendo ônibus circular na cidade, mas ele entender que o meu não passou é complicado”, lamenta.

Mediação  A Prefeitura de Salvador informou, em nota divulgada as 10h20, que anualmente desde 2013, faz a mediação das negociações, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob), entre os sindicatos dos rodoviários e o patronal sobre a campanha salarial dos trabalhadores. 

O secretário da Semob, Fábio Mota, informou que este ano se reuniu com as empresas de ônibus e terá também um encontro com os rodoviários. Após isso, a pasta pretende agendar uma reunião na mesa de negociações com os dois lados. 

"Estamos ouvindo o que cada um dos lados está propondo para mediar a negociação. É o que a Prefeitura pode e deve fazer, pois, apesar dessa ser uma relação particular entre patrões e empregados, trata-se de uma concessão pública, um serviço fundamental para a população de Salvador", disse Fábio Mota.

Nesta quinta-feira (25), a Semob informou que liberou a circulação de micro-ônibus do sistema complementar e também fez remanejamentos de frota para minimizar os efeitos da ação dos rodoviários. A Semob destacou que cerca de 30% dos ônibus do sistema Integra saíram das garagens depois do horário previsto.