Sabatina: Olívia Santana diz que geração de emprego e urbanização de favelas serão seu foco

Candidata à prefeitura de Salvador apresentou suas propostas respondendo perguntas de jornalistas, leitores e entidades

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  • Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2020 às 17:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

O enfrentamento da alta taxa de desemprego e a requalificação urbana de favelas serão as ações prioritárias da candidata Olívia Santana (PCdoB), caso venha a ser eleita prefeita de Salvador. Pedagoga e deputada estadual, ela participou, nesta quinta-feira (2), da sabatina do CORREIO das Eleições Municipais 2020, na qual apresentou as suas propostas para a cidade. Durante uma hora, Olívia respondeu perguntas de jornalistas, leitores e entidades sobre os mais diversos assuntos e reafirmou a importância de ser uma candidata mulher e negra na disputa pela administração da capital.

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Em resposta à pergunta inicial sobre o que julga mais urgente na capital, Olívia disse que o maior desafio será a geração de emprego e renda e, por isso, propõe um plano emergencial de retomada da atividade econômica através da implantação de um programa municipal de microcrédito, o CredSalvador, que injetará recursos nos pequenos empreendimentos. “O nosso outro grande projeto é o Favela Importa, que levará qualificação habitacional e dignidade ao povo, com recuperação de espaços precários, drenagem, pavimentação e faremos, durante todo o ano, um trabalho de prevenção de desastres porque é muito doloroso ver a cidade em festa no verão e a vida se esvaindo no inverno”, propôs. Ainda sobre o tema da habitação, Olívia disse que criará um Fundo Municipal de Moradia e que, na sua gestão, prédios abandonados virarão moradia e alguns deles, inclusive, poderão ser cedidos a pequenos empreendedores.Veja na íntegra como foi a sabatina com a candidata:

Primeira deputada estadual negra eleita na Bahia, em 2018, a candidata tenta agora outro título pioneiro: o de ser a primeira prefeita negra de Salvador, um objetivo que disputa com a militar Major Denice (PT). Perguntada sobre o que pretende fazer de diferente em relação à esta concorrente, ela disse que a sua competição não é com a Major. 

“Não me pauto a partir de alguém que está no mesmo campo de atuação que eu. Uma cidade com 85% de negros precisa repensar essa estrutura e cultura política de que o negro só pode ser o eleitor e não o eleito, estrou aqui desafiando essa lógica e quem quero enfrentar é o candidato do atual prefeito, Bruno Reis, porque tenho discordância frontal de como eles pensam a cidade e por isso me apresento como alternativa”, disse.

Formando uma coligação com o Partido Progressista (PP), legenda atualmente aliada do presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, Olívia negou se sentir desconfortável com esta aliança local. “Até porque existe um candidato bolsonarista em Salvador e o PP fez opção por mim, porque sabem que é uma alternativa nova para Salvador”, declarou.

Educação

Secretária municipal de educação na gestão de João Henrique Carneiro (2005-2008), Olívia foi responsável por implantar o sistema online de matrículas na rede de ensino de Salvador e foi questionada sobre como pretende conduzir a volta às aulas na cidade. A candidata afirmou que o ensino presencial só poderá retornar a partir de consentimento do comitê científico, mas tem em vista a criação de kits de internet banda larga para que as escolas municipais tenham condições de adotar o ensino remoto. 

“As escolas privadas estão tendo aulas remotas e a gente não pode manter esse desnível. É super importante garantir kit de internet para todos. O dinheiro [para esse projeto] existe, do Fundeb, de recursos próprios, o que a gente precisa é restabelecer as prioridades na educação”, garantiu.

Olívia Santana apresentou também a proposta de um novo modelo de Educação de Jovens e Adultos (EJA), que associa a formação com a qualificação profissional. O projeto deverá ser implantado em parceria com instituições como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba) e organizações do Sistema S (Sesc, Sebrae, Senai, Senac, Sesi, etc).

Mobilidade

Entre os seus planos, está a ainda a revisão do modelo de financiamento do transporte público, além de um redesenho das linhas de ônibus. Olívia disse que o sistema atual não “está agradando a ninguém” e citou que o Ministério Público da Bahia (MP-BA) entrou com denúncia cobrando que o transporte seja melhorado. “Estamos em plena pandemia e vendo o quanto a população que precisa usar o transporte tem sofrido, está exposta a contaminação porque os ônibus estão cheios, não há qualidade de atendimento”, observou.   A candidata acrescentou ainda que, recentemente, uma empresa desistiu de explorar o transporte em Salvador e, por isso, pretende conversar com os empresários. “O sistema de transporte precisa ser repensado, abrir as planilhas, saber qual o custo real porque precisamos repactuar para trazer conforto para a população, garantir linhas onde precisa. Terei uma equipe técnica eficiente, capaz de dialogar com o empresariado e levando em conta o interesse público para que a gente possa ter um sistema de ônibus compatível com os desafios da modernidade”, disse.

PERGUNTAS DE ESPECIALISTA E ENTIDADES:

No bloco de perguntas de especialista e entidades civis, foram sorteadas as questões de Vince de Mira, produtor cultural e idealizador do Festival Zona Mundi; da Associação Baiana de Kart; do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA) e de Mauro Adan, presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde da Bahia (Ahseb).

Vince de Mira quis saber: Muitos países desenvolvidos realizam um alto investimento em cultura. Salvador, embora reconhecida por sua identidade cultural, nunca recebeu investimentos consideráveis para além do carnaval, que pusesse a identidade cultural da cidade no centro do desenvolvimento. Qual a sua visão com relação às políticas públicas estruturantes para a cultura em Salvador?

Olívia Santana: "Tenho uma história ligada à cultura e vamos estabelecer para Salvador uma política cultural, vamos garantir e implantar a Secretaria de Cultura e Inovação, um projeto cultural vigoroso para essa cidade que tem a marca da diversidade, tem coisas que só existem em Salvador. A gente tem que garantir uma política cultural que não seja só o carnaval, ditada de cima para baixo, temos que dialogar com as diferentes linguagens artísticas. Esse compromisso eu assumi com a classe artística e inclusive tenho o apoio do Gilberto Gil e da Luedji Luna. O setor cultural me declara apoio porque sabe que vamos apostar numa política municipal de desenvolvimento da economia criativa. Nós vamos criar o Subúrbio Digital, a educação se abrirá para as artes. Salvador tem uma experiência fantástica de startups e já me comprometi a fazer um hub de confecções, para que possamos fazer Salvador ser uma cidade de referência em design de moda"

Mauro Adan, da Ahseb, enviou: Como vai estruturar os serviços de saúde no município? Irá contratar instituições privadas para prestação de serviços de saúde à população ? É sabido que o privado, com experiência comprovada, consegue executar o serviço com mais qualidade e a um custo mais acessível, reduzindo o custo final, inclusive de pessoal! O que acha desta afirmação acima?

Olívia Santana: “Vamos ampliar a atenção básica, que atualmente é de cerca de 55% de cobertura para 100% e vamos integrar à rede básica à rede especializada, implantando prontuário eletrônico para que quem vai para o posto de saúde possa ter atendimento preventivo, que ao diagnosticar uma situação que precisa de especialista, essa pessoa já saia do posto de saúde com o especialista marcado, agendado a partir dessa integração das redes. Vamos pactuar o sistema com o que for de mais moderno no atendimento e serviço, valorizando os servidores públicos municipais, garantindo a prestação de serviços com segmentos da área privada e garantindo que o foco, a centralidade da política municipal de saúde seja a prestação de serviço decente que não onere o município apenas para atender interesses empresariais. E vamos pagar quando tiver que pagar à rede de prestação de serviços privados, dentro de valores justos. Aqui, temos as arboviroses crescendo, por isso vamos fortalecer e contratar mais equipes de agentes de endemias para enfrentar a dengue para que a gente não tenha a cidade tomada por dengue, zika e chikungunya." 

Mauro Adan devolveu o que pensa: Foi uma resposta muito ampla. Claro, ampliar a atenção básica é fundamental, mas não ela não disse como pretende fazer. Dizer que vai contratar o serviço privado quando necessário também não diz nada, tem que explicar como. Para nós, a ideia de enviar a pergunta é gerar mesmo esse debate, não é polemizar. A gente entende que o poder público municipal, de Salvador e mesmo de outros locais, às vezes investe demais em algumas infraestruturas, a custos altos, quando poderia contratar terceiros. Entendemos que isso é mais barato e eficiente. 

A Associação Baiana de Kart questionou: Em 2005, Salvador experimentou o potencial do automobilismo com a Fórmula Renault, reunindo um público com mais de 150 mil pessoas e abriu caminho para a Stock Car em 2009.  Ficou claro que o soteropolitano gosta, frequenta e apoia o automobilismo. Qual importância a srª dá a essa questão e qual compromisso você pode firmar com esse esporte?

Olívia Santana: "Quando fui secretária [estadual] de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), sempre apoiei este setor, tenho um compromisso com o esporte como uma agenda de transformação social que agrega qualidade de vida e pode ser uma vertente de atração de investimentos para a cidade. O esporte é uma ação que fomenta o turismo e nós temos que garantir a atração de eventos esportivos pra Salvador. A Stock Car foi uma experiência importantíssima, tenho total abertura de investir nessa frente para que a gente possa construir equipamentos públicos a fim de garantir, portanto, um estímulo a esse tipo de atividade. O automobilismo, a turma do kart, tem em mim uma parceira e vamos sentar e ver as possibilidades de realização neste campo porque teremos uma política municipal de esporte e não o esporte com o pires na mão"

Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA) perguntou: Considera-se que a atenção primária à saúde só será capaz de ordenar a rede municipal de serviços de saúde se for estruturada e priorizada. Tendo em vista que o município de Salvador tem apenas 54,3% de cobertura da Atenção Primária (jul/2020*), o que será feito para a ampliação e qualificação dos serviços oferecidos pela atenção primária?

Olívia Santana: "Vamos disputar os recursos do SUS, vamos ter na atenção primária uma prioridade. Não podemos permitir que a população que sofre com diabetes e hipertensão, e doenças cardíacas, que são as comorbidades que mais arriscam a vida das pessoas, que essas pessoas tenham a saúde deteriorada, indo parar na fila dos hospitais para esperar regulação para tentar sobreviver. Temos que ter uma política que cuide da diabetes, que os postos possam atender, orientar, ter feiras de saúde com orientações necessárias, para dizer o que podem consumir, o que não podem, para cuidar da diabetes para não ter tantos amputados em Salvador. Temos que ter os postos de saúde funcionando e investir os recursos da saúde prioritariamente no fortalecimento da atenção básica, integrada com a rede especializada para a gente garantir atendimento preventivo, eficaz e pessoas mais saudáveis na sociedade, associando a política de saúde ao saneamento básico."

Ao fim da sabatina, a candidata pediu a reflexão da população soteropolitana: “São 471 anos dessa cidade e nunca uma pessoa negra foi eleita para ser prefeita de Salvador. Precisamos mudar essa história. Tanto a população branca quanto negra precisam dar um passo civilizatório e apostar na capacidade de uma mulher negra que tem experiência, amor e muita raça para vencer desafios. As pessoas que têm compromisso com a igualdade, o anti racismo, o combate à  homofobia e às desigualdades sociais. Há tanta gente que fala de justiça social, então tá na hora de pôr em prática”, disse.